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O Cerrado, a educação climática e o bem-estar social

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Por Flávia Bellaguarda e Waldo Soto
Atualização:
Flávia Bellaguarda e Waldo Soto. FOTOS: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Hoje, dia em que se comemora o Cerrado, bioma que abrange cerca de 22% do território brasileiro e tem em suas características uma rica biodiversidade e potencial aquífero, se faz  necessário relembrar o recente desastre ambiental no Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, atingido por um incêndio que durou 3 dias. A região de 2.800 hectares, abriga o último grande remanescente de Cerrado da Região Metropolitana de São Paulo e perdeu 54% da vegetação nativa.

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O Juquery foi criado em 1993, com o objetivo principal de conservar a mata nativa e as áreas de mananciais do Sistema Cantareira, mas com o fogo, sua vegetação virou fuligem que, inclusive, invadiu a casa de centenas de paulistas e contribuiu para a piora da poluição atmosférica. O parque é apenas mais um triste exemplo do que ocorre em todo o país e enquanto não olharmos para nossos biomas e compreendermos que sua preservação significa a nossa existência --um meio ambiente protegido é o mesmo que acesso à água, alimento e ar limpo -- cenas como essa continuarão se repetindo.

Conforme o sexto relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) divulgado pela ONU em agosto deste ano, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram a temperatura do planeta em 1,09 °C em comparação a 1,07 °C do período pré-industrial. Essa diferença, que aos nossos olhos parece pequena, na verdade, torna irreversíveis efeitos como o aumento do nível do mar, o degelo e mudança nos oceanos. O documento também ressalta que a ação humana é indiscutivelmente responsável pelo aquecimento global.

Estamos em alerta vermelho, enfrentando uma das principais crises do nosso século e, nesse cenário, governos, empresas e sociedade civil devem redobrar os esforços para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, caminhar para sociedade zero carbono e também se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas.

Soluções práticas e efetivas para que nosso bioma seja preservado existem e o Brasil possui caminhos como a possibilidade de uma fiscalização consistente, políticas públicas que incentivem a restauração da vegetação nativa e educação climática e ambiental para que a sociedade compreenda cada vez mais a importância e o dever de preservar.

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A Academia de Ação Climática, implementada pela Plataforma 2811, entidade sem fins lucrativos,  contribui com esse cenário capacitando professores de diversos países e também do Brasil sobre o tema.  Só este ano, educadores brasileiros de 21 estados passaram pelo curso e já é possível constatar a multiplicação desse conhecimento. Em São Paulo, um exemplo se dá com a participante do curso, bióloga e professora, Andréa Pupo, que já trabalha com os alunos da rede pública estadual e do Instituto de Pesquisas Ecológicas temas como hortas com princípios da agrofloresta, conservação dos recursos hídricos e as consequências dos próprios incêndios florestais.

Uma vez disseminado o conhecimento dos efeitos das mudanças climáticas, ampliamos a oportunidade de a consciência coletiva compreender melhor a importância do meio ambiente.  Assim, teremos no cerrado e nos outros biomas que compõem o Brasil a oportunidade de preservar e regenerar essas áreas para que sejamos uma sociedade em que a economia esteja a serviço do bem-estar social e em harmonia com os ciclos da natureza.

*Flávia Bellaguarda, professora da Academia de Ação Climática, da Plataforma 2811. Advogada e mestre em Desenvolvimento Internacional em Justiça Climática pela University of Birmingham - UK. Formada em Sustentabilidade pela Schumacher College. Fundadora do Youth Climate Leaders e LACLIMA. Global Shapers do Fórum Econômico Mundial e líder da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS)

*Waldo Soto, diretor da Academia de Ação Climática da  2811 e consultor Ashoka para a América Latina. Diploma em Inovação pelo Babson College e em Gestão Global pelo University College London. Mestrado em Gestão Urbana pela Technische Universität Berlin

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