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O Brasil é um país de oportunidades

O que milhões de brasileiros veem como adversidades, muitos estrangeiros enxergam como oportunidades. Sociedade e governo devem promover o encontro entre percepções distintas

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Por Notas & Informações
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OBrasil é um país extremamente desafiador para os empreendedores, quando não hostil. Ter um sistema tributário classificado por muitos investidores e analistas econômicos, não sem razão, como um “manicômio tributário” – um emaranhado de leis e normas eivado de distorções e privilégios setoriais – já transmite uma boa ideia dos entraves ao florescimento dos negócios no País.

Mas o Brasil também pode ser um lugar de oportunidades praticamente ilimitadas para quem tiver os olhos bem treinados para enxergá-las e as condições legais e materiais para explorá-las. É como muitos estrangeiros veem o País, como mostrou uma recente reportagem do Estadão.

Enquanto milhões de jovens brasileiros, no mais profundo desalento, manifestam ano após ano a intenção de deixar o País diante da falta de perspectivas para seu desenvolvimento pessoal, estrangeiros como o mexicano Gabriel Roizner e o americano Christopher Spikes, por exemplo, enxergaram nesta mesmíssima terra um gigantesco mercado potencial para iniciar ou expandir seus negócios. Eles são apenas dois dos muitos estrangeiros, de todas as partes do mundo, que veem as adversidades do País como oportunidades.

Ora, por que aos olhos da maioria dos jovens brasileiros o País aparece como uma terra quase inóspita, enquanto para os estrangeiros se descortina como uma fonte promissora de esperança? A resposta para essa questão não é simples, mas passa por aquele “treinamento” do olhar para vislumbrar esses nichos de mercado inexplorados e pelas políticas de incentivo a esses jovens, oferecendo-lhes as condições intelectuais e materiais para desenvolver seu potencial aqui e, talvez, depois exportá-lo para o mundo.

Em nenhum país haverá o livre florescimento dos negócios sem a implementação de políticas públicas de educação, por um lado, e sem que o Estado, por outro, limite-se a prover as condições jurídico-normativas que permitam a construção de um ambiente auspicioso para o desenvolvimento da atividade econômica.

Evidentemente, não se pode ignorar a realidade do País. O Brasil é um país onde cerca da metade da população ainda não tem acesso a esgotamento sanitário. É um lugar extremamente desigual, com discrepâncias perversas entre as oportunidades de melhoria de vida oferecidas a seus cidadãos a depender do lugar e da classe social em que nasceram. Entretanto, o confronto com essa dura realidade, antes de desestimular, tal como um dado incontornável da realidade do País, deve unir a sociedade e os governos, nas três esferas da administração, em um esforço concentrado para superá-la.

“Eu sempre digo que se você quer impactar milhões de pessoas e fazer o mundo melhor, o Brasil é um ótimo lugar para começar”, disse ao Estadão o húngaro Miklos Grof, que ao lado do chileno Diego Izquierdo fundou aqui uma startup que auxilia pequenas e médias empresas no processo de gestão de documentos.

O potencial do Brasil, como se vê, é enorme. Muitas oportunidades de negócio não apenas não são atendidas, como ainda nem sequer foram mapeadas, sobretudo nas áreas de tecnologia e economia de carbono neutro.

O futuro governo e o Congresso têm o dever de oferecer aos milhões de jovens brasileiros desalentados, e a todos os que aqui desejam empreender, a mesma esperança de trilhar no Brasil o caminho para seu desenvolvimento pessoal que muitos estrangeiros aqui encontraram.

Há muito tempo, o Brasil está entre os piores países do mundo em termos de qualidade do ambiente institucional para os negócios, segundo pesquisas realizadas por organismos multilaterais, como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A reputação do País é particularmente pífia no desempenho regulatório – leis que valem hoje subitamente deixam de valer no dia seguinte, e não raro há leis que se negam umas às outras, enquanto falta regulamentação em áreas essenciais para o desenvolvimento. Em paralelo, é imprescindível levar adiante uma boa reforma tributária, que pelo menos estabeleça um mínimo de sanidade.

Não será fácil, mas com um pouco de criatividade e vontade, como mostram esses empreendedores estrangeiros, o Brasil pode ser o país das oportunidades para todos.