A nova Síntese de Indicadores Sociais (SIS/IBGE), divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE, mostra que há no Brasil 10,9 milhões de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham, os chamados nem-nem. O número é o menor já registrado na série histórica da pesquisa, que começou em 2012.
Ainda assim, são 22,3% dos brasileiros nessa faixa etária - ou seja, mais de um quinto da população jovem - nessa situação. Em termos percentuais, é o melhor resultado desde 2014, quando eram 21,7% afastados das escolas e do mercado de trabalho.
A queda em números absolutos reflete também a mudança no padrão demográfico do país, com o envelhecimento da população brasileira, segundo o IBGE. Marcelo Neri, da FGV Social, concorda. Segundo o economista, a redução dos jovens que não estudam e não trabalham é uma tendência de natureza mais permanente em função do envelhecimento da população.
— O vento está soprando a favor do jovem agora, mas contra a demografia. Vai faltar jovens isso é péssimo para o país, mas é bom para o jovem porque ele vai ser mais disputado no mercado de trabalho se ele for um jovem educado e conectado digitalmente. Mas o bônus demográfico começa a se tornar um “ônus demográfico” e a atrapalhar o crescimento do país — pondera.
Já Daniel Duque, economista do FGV Ibre, faz um alerta com relação ao nível dos jovens que nem estudam e nem trabalham. Segundo o economista, o contingente já voltou a subir ao longo de 2023:
— A gente observa que já aumentou (a população nem-nem) nos últimos trimestres. Uma explicação que eu encontro é que o aumento adicional dos benefícios do Bolsa Família têm reduzido a participação dos mais jovens (no mercado de trabalho). Mas mais preocupante do que o jovem não estar empregado, é ele não estar estudando — avalia.
A maior parte desse contingente é formada por brasileiros pobres (61,2%). No recorte de gênero e raça, são principalmente mulheres pretas ou pardas (43,3%), seguidas por homens pretos ou pardos (24,3%). Na retaguarda, aparecem as mulheres brancas (20,1%) e os homens brancos (11,4%).
Além disso, quanto menor a renda familiar, maior o percentual de jovens que não estudam e nem trabalham. Considerando as moradias que representam as 10% mais pobres do Brasil, metade dos moradores de 15 a 29 anos estavam sem estudos ou emprego. Esse percentual é de apenas 7,1% no extremo oposto, entre as moradias mais ricas.
Quando perguntados sobre os motivos para não estarem estudando nem interessados em trabalhar, as respostas são variadas. Entre as mulheres, chama a atenção que 2 milhões citaram a necessidade de cuidar de parentes e a responsabilidade por afazeres domésticos como o motivo - indicando que a maternidade precoce é um fator de afastamento do mercado de trabalho e da escola. Além disso, 458 mil meninas e mulheres apontaram a gravidez ou problemas de saúde como a razão para se tornarem nem-nem.
- Educação infantil: Percentual de crianças de 4 a 5 anos na escola cai e impacta alfabetização
Entre os homens, 80 mil citaram afazeres domésticos e 420 mil gravidez (das parceiras) ou problemas de saúde.
O levantamento também mapeou a parcela de homens e mulheres com idades entre 18 e 24 anos que apenas estudam, apenas trabalham, estudam e trabalham ou não estudam e nem trabalham.
- Resultado um pouco melhor: Desigualdade volta a cair em 2022, com melhora no mercado de trabalho e programas sociais
A maior parte das mulheres com idades entre 18 a 24 anos respondeu que não estudava e nem trabalhava na semana de referência da pesquisa (34,5%). Para a mesma faixa de idade entre os homens, a maioria disse que apenas trabalha (49%).
Segundo o IBGE, isso acontece porque os homens conseguem fazer uma melhor transição da escola para o trabalho do que as mulheres, que são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico e cuidado de parentes.