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Novo secretário da Educação, Feder quer SP em 1º em 2025 e app para monitorar frequência de alunos

Ex-titular da pasta no Paraná, ele diz que implementar escolas cívico-militares não está entre as prioridades e que focar em questões de gênero seria ‘desserviço’

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Por Renata Cafardo
Atualização:
Foto: SEED
Entrevista comRenato FederSecretário da Educação de São Paulo

Novo secretário da Educação do Estado de São Paulo, Renato Feder fala com tranquilidade de uma meta difícil, a de até 2025 transformar a escola pública paulista na melhor do País. O Estado viu nos últimos anos Ceará, Pernambuco, Goiás e Paraná subirem no ranking das avaliações educacionais. No ensino médio, São Paulo hoje é o 6º colocado, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador do Ministério da Educação (MEC). “Os relatos que temos é de que alunos estão indo para escola e não estão aprendendo”, disse Feder ao Estadão.

Em sua primeira entrevista no cargo, ele afirma que não se pode “deixar o professor totalmente solto”. “Tem de apoiá-lo para preparar uma aula dinâmica, que atraia a atenção do aluno”. Segundo ele, que foi secretário de Educação do Paraná entre 2019 e 2022, isso significa ter materiais que detalham como dar cada aula, professores mais experientes ajudando os colegas, diretores preocupados não só com a burocracia e, sim, com o pedagógico.

Renato Feder, novo secretário da Educação do Estado de São Paulo Foto: Seed

O novo secretário também pretende criar um aplicativo para que diretores e professores possam monitorar diariamente as faltas de seus alunos. “Quando uma escola tem alta frequência é porque os alunos adoram ir, estão aprendendo. Quando a frequência é baixa é porque os alunos acham que estão perdendo o tempo deles lá.”

O paulistano, de 44 anos, ex-empresário formado em Administração, com mestrado em Economia, e pai de três filhos pequenos, terá a tarefa de se distanciar do fracasso que foi a política educacional de Jair Bolsonaro (PL), padrinho político do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mas também equilibrar os interesses desse grupo de apoio. Feder diz que não pretende implementar escolas cívico-militares em São Paulo, como fez no Paraná, e afirma que focar em questões de gênero é um “desserviço para a educação”.

Como o senhor avalia a educação pública de São Paulo atualmente?

A escola precisa de mais apoio. É um lugar alegre, de aprendizagem e interação. Quando as coisas vão bem na escola, os alunos aprendem. Quando o professor não tem apoio, não consegue dar uma boa aula, o aprendizado cai na monotonia. A escola perde vida, energia e atratividade dos jovens. A coisa mais importante que a gente tem que fazer é apoiar o professor. Não pode deixar o professor totalmente solto. Não é dizer ‘professor, vai lá, entra e dá aula’. Tem de apoiá-lo para preparar uma aula dinâmica, que atraia a atenção do aluno.

Como fazer isso?

Você tem de dar um material bom para ele, apoiá-lo na hora de preparar a aula. Cada escola escolhe, por exemplo, um livro do Programa Nacional do Livro Didático, mas tem professor que dá aulas em mais de uma escola, ele tem de dominar dois, três livros. É muito difícil para ele sozinho.

Mas há grupos que dizem que isso tira a autonomia do professor.

Se o professor quiser ter essa autonomia, preparar sua aula sozinho, ele pode, mas em geral o professor quer um apoio. Um material assertivo, um diretor que entenda de gestão de sala de aula, que saiba trabalhar com ele para atrair a atenção dos alunos para uma aula mais dinâmica. Hoje, o diretor só fica preocupado com a merenda, com o transporte, se tem vazamento, se os corredores estão organizados. Não pode ser assim. O papel mais importante que um diretor tem de ter é apoiar seu time de professores na escola, entender a dificuldade de cada um. Às vezes, tem um professor que não domina uma matéria, outro que dá a aula inteira escrevendo na lousa, de costas pros alunos, falando sozinho. Precisamos capacitar o diretor para isso.

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E como a secretaria vai avaliar isso?

Baixa aprendizagem, né? Se o aluno vai para essa aula e não sente que ele está aprendendo, a escola não está cumprindo o seu papel. O que vimos é que os alunos falam que estão indo para escola e não estão aprendendo, mesmo na escola em tempo integral. Os resultados das avaliações também dizem isso. Não foi só a pandemia.

No Paraná, o senhor tinha um sistema baseado em performance. Vai ser assim em São Paulo também?

O indicador escolar mais importante, que é muito ignorado, é a frequência escolar. É como quando um paciente vai ao médico. A primeira coisa que ele vai ver é o batimento cardíaco. Na educação, é a frequência escolar. Quando uma escola tem alta frequência é porque os alunos adoram ir, estão aprendendo. Quando é baixa é porque os alunos acham que estão perdendo o tempo deles lá. Se os alunos faltam uma vez por semana, a escola está doente. Às vezes há duas escolas semelhantes e uma tem frequência de 95% e a outra, de 80%. Se verificar, essa escola não tem aprendizagem, as aulas são chatas, tem bullying, violência. Hoje a secretaria só fornece esses dados sobre a frequência no fim do bimestre. É um erro. Tem de acompanhar diariamente.

O governador Tarcísio de Freitas durante cerimônia de posse no Palácio dos Bandeirantes Foto: Alex Silva/Estadão

Como é essa ferramenta que você pretende implementar?

O professor precisa sentir que a escola evoluiu. Quando um professor, todo dia, vê no seu celular quantas redações o aluno fez, a participação nas provas. Ou que há dois meses só 70% dos alunos iam na sua aula. Aí ele fez curso, teve apoio do diretor, melhorou a gestão da sua aula, e agora 90% dos alunos vão às suas aulas. A melhoria passa a ser tangibilizada, a ser concreta.

O que acha da escolha do ministro da Educação?

Conheço pouco o Camilo Santana (ex-governador do Ceará, do PT), mas conheço bem a Izolda Cela (também ex-governadora do Ceará, que foi vice de Camilo), que é a secretária executiva (do MEC) e era secretária de Educação do Ceará. O Ceará fez excelente trabalho, é o atual líder, principalmente no ensino fundamental 1 (1º ao 5º ano). Acredito que será uma boa parceria, que vamos trabalhar juntos.

A Secretaria da Educação assinou um contrato em dezembro com a empresa de tecnologia Multilaser, da qual o senhor fazia parte do conselho, comprando milhares de computadores. Há conflito de interesse, na sua opinião?

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Eu me desliguei do conselho de administração da Multilaser em novembro, pouco depois que o Tarcísio me fez o convite, e também do bloco de acionistas controlador. Houve arrecadação um pouquinho maior, então São Paulo decidiu investir em tecnologia. É um contrato com quatro empresas, Samsung, Lenovo, Positivo e Multilaser. Vou criar um comitê para acompanhar esses contratos, para garantir que seja independente, mas qualquer empresa vai ser tratada no método republicano, com deveres e direitos.

São Paulo vai ter escolas cívico-militares?

É algo que a gente precisa conversar com a rede. Não está no plano como prioridade, não foi pedido pelo governador. É preciso entender se há demanda dos alunos e das famílias. No Paraná, havia vontade das famílias em 200 escolas, elas queriam mais disciplina. Mas é preciso desmistificar a escola cívico-militar: o conteúdo em sala de aula não muda, o que é muda é a presença dos policiais para garantir o respeito e a disciplina.

E o senhor acredita que é a polícia que tem o papel de garantir respeito e disciplina na escola?

Em alguns casos melhorou, mas acho que é possível fazer com ou sem os policiais. Por exemplo: os alunos levantam para receber os professores, eles entram na sala organizados. Essa questão disciplinar acalma, dá um sentido de ordem e vejo como positivo.

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O que o governador pediu ao senhor?

A gente conversa bastante sobre educação e está bem alinhado. A gente quer fazer São Paulo ter a melhor educação do Brasil. São Paulo está em 6º lugar no Ideb do ensino médio e vai ser o 1º. Em 2023 não dá, mas em 2025 conseguimos (o Ideb é realizado a cada dois anos). A gente quer a qualidade da educação e a modernização, que é trazer disciplinas que os alunos vão utilizar na sua vida. Como empreendedorismo, liderança, programação de computador, pensamento computacional, educação financeira.

E o que pensa sobre a escola tratar assuntos como questões de gênero, educação sexual, ética, democracia, algo que o governo Bolsonaro se opôs na educação?

Esses assuntos polêmicos, como gênero, se focar muito nisso, causa um desserviço à educação. Sobre educação sexual,você deve orientar os alunos a entender o seu próprio corpo. Tem também as habilidades socioemocionais, questões como respeito, empatia, resiliência, trabalho em grupo. Aprender até onde vai a sua liberdade e até onde ela interfere na liberdade do outro, qual o papel do Ministério Público, do Poder Executivo. O aluno precisa ter consciência de como o mundo funciona, quais os deveres que tem como cidadão, quais os direitos que pode cobrar do governo.

Não é o meu papel julgar o que aconteceu no governo Bolsonaro, no MEC. Mas a visão de educação que a secretaria vai ter é a de aprendizagem

Renato Feder

Para isso tudo tem que formar professores.

Sim, não adianta falar ‘vamos colocar na grade escolar uma disciplina chamada empatia’ se o professor nunca deu aula disso. Poucos professores tiveram educação financeira, por exemplo, quando estudavam na escola, na universidade. Tem de construir essa grade moderna, mas ao mesmo tempo apoiar o professor para que consiga dar essa aula de maneira prática.

Como a população pode acreditar que um governo ligado a Bolsonaro vai se preocupar com a educação, depois da atuação muito criticada do MEC?

Não é o meu papel julgar o que aconteceu no governo Bolsonaro, no MEC. Mas a visão de educação que a secretaria vai ter é a de aprendizagem, a gente quer que o aluno saia da escola com conhecimento útil para sua vida, principalmente, para sua vida profissional. Alunos que saiam da escola escrevendo bem, falando bem, sabendo Matemática, sabendo lidar com o outro.

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