Por Jornal Hoje


Novo ensino médio é alvo de críticas de alunos e especialistas em educação

Novo ensino médio é alvo de críticas de alunos e especialistas em educação

O Ministério da Educação está discutindo com a sociedade o chamado "novo ensino médio", que começou a ser implementado no ano passado, em todo o Brasil. Mas sem investimentos, o novo sistema, que dá ao estudante o direto de escolher quais disciplinar cursar, é criticado por alunos e pesquisadores do assunto.

Bruna Felix, presidente do grêmio estudantil de uma escola da rede estadual de São Paulo, e Camila Cavalcante, líder de turma, afirmam que têm a sensação de que a escola não está nem preparando para o mercado de trabalho nem para a universidade. Para elas, faltam espaços para as aulas práticas e muitos professores não estão qualificados.

“A gente tem aula de artes na minha turma e essa aula tem um foco muito fora do que a minha professora foi formada”, exemplifica Bruna.

Pela lei, aprovada em 2017, as escolas devem oferecer diferentes itinerários formativos para os estudantes, dentro de quatro grandes áreas: ciências humanas e sociais, linguagens, ciências da natureza e matemática. A ideia é atualizar e aproximar o conteúdo escolar da realidade dos estudantes de hoje, mas a prática vem mostrando que esse modelo impõe muitos desafios às redes públicas de ensino.

A flexibilização aumentou a carga horária de 800 horas por ano para 1.000. Tem mais aulas de matérias específicas e práticas e menos de formação básica, que inclui língua portuguesa e matemática.

“Retiraram matérias básicas da nossa base curricular. Eu acho que nós não deveríamos priorizar os itinerários, e sim essas matérias, porque essas matérias vão estar no vestibular”, defende Camila.

O governo federal reconhece que o novo ensino médio precisa de correções. Abriu, na semana passada, uma consulta pública por 90 dias para avaliar e reestruturar o modelo.

Pesquisadores que estudam educação ouvidos pelo Jornal Hoje concordam que, da forma que está, não dá para continuar. Para Fernando Cássio, professor de políticas educacionais da Universidade Federal do ABC, a lei deveria ser revogada.

“Nós estamos vendo falta de professor e essa falta de professores, claro, atinge mais fortemente àquelas escolas mais vulneráveis. A reforma do ensino médio prejudica mais os estudantes mais pobres, aqueles que mais precisam de uma escola pública”, destaca ele.

A diretora de articulação do Movimento pela Base, Alice Ribeiro, acredita que o novo ensino médio pode dar certo, se houver o investimento adequado.

“É importante que se acompanhe isso de perto por muito tempo, com dados e evidências muito concretos. Isso é uma política muito estruturante, que leva tempo para funcionar e, para isso, ele precisa de apoio técnico e financeiro. E ele precisa das revisões que forem necessárias e de todo o monitoramento que é necessário para que funcione para os estudantes”, diz.

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