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Nova lei e velho Enem criam descompasso na Educação

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Por Sandro Bonás
Atualização:
Sandro Bonás. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Começam neste mês as inscrições para o Enem 2021. O fato deveria servir como lembrete de uma discussão que, infelizmente, o Brasil vem adiando de maneira temerária: a necessidade de reformulação do Enem, adequando o exame ao chamado Novo Ensino Médio, que entra em vigor no ano que vem.

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A reforma do Ensino Médio teve bastante visibilidade ao longo dos últimos anos. Sancionada em 2017, ela propõe transformar a última etapa da educação básica em uma jornada menos generalista, dando autonomia ao estudante para optar por diferentes trilhas pedagógicas, de acordo com seus interesses e pretensões profissionais.

Hoje o Ensino Médio se baseia em um currículo padronizado, composto por disciplinas como matemática, português, história, geografia, biologia - velhas conhecidas de qualquer um que frequentou os bancos escolares. No formato novo, essas disciplinas de formação geral poderão ocupar até 1.800 horas letivas durante todo o Ensino Médio - sendo que algumas, como matemática e português, terão carga horária fixa obrigatória.

O restante do tempo, no mínimo 1.200 horas, deverá ser preenchido com outras matérias, que irão compor os chamados itinerários formativos. Há várias maneiras de organizar essas trilhas. Pode-se, por exemplo, construir itinerários que privilegiam diferentes áreas do conhecimento - um dedicado às Exatas, outro a Linguagens, outro às Ciências da Natureza, outro às Ciências Humanas, e assim por diante. Pode-se elaborar itinerários voltados a saberes que não são tradicionalmente contemplados pela base curricular, como empreendedorismo. Há, por fim, a opção de montar itinerários de ensino técnico-profissionalizante.

Independentemente da estratégia escolhida, a ideia central do Novo Ensino Médio é bastante clara: diminuir o tempo dedicado à formação generalista, permitindo que os estudantes escolham grades mais adequadas às suas preferências e talentos.

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O governo prevê implementar essas mudanças a partir de 2022. Apesar disso, ainda não temos um plano de reforma para o Enem. O maior exame vestibular do Brasil (e segundo maior do mundo) continua baseado em um currículo generalista, que está com os dias contados.

O Brasil precisa urgentemente fazer esse debate. Precisamos decidir, por exemplo, se manteremos o Enem como uma prova única, passando a avaliar somente as disciplinas comuns a todos os itinerários formativos, como matemática e português. Caso contrário, será necessário elaborar provas específicas para estudantes de cada itinerário. Essa parece ser uma solução justa, mas ela demandará, como se nota, um gigantesco esforço logístico.

Há outras questões prementes: a redação terá o mesmo peso para alunos que cursaram itinerários diferentes? As provas poderão ser realizadas em um mesmo dia? As universidades terão autonomia para escolher qual tipo de prova querem considerar, pré-selecionando, com isso, estudantes de determinados itinerários? São perguntas ainda sem resposta.

A reforma do Ensino Médio é bem-vinda. Ela dá a chance de preparar nossos jovens para uma vida além do vestibular, de tornar o currículo escolar mais significativo e de combater o problema da evasão, que atinge desproporcionalmente os anos finais da educação básica. No entanto, nenhum desses objetivos será atingido se o país não adaptar seu maior vestibular aos novos tempos.

Profissionais de educação, entidades estudantis e gestores públicos precisam se engajar nesse debate. Ainda há tempo para reformular o Enem. Mas se deixarmos a oportunidade passar, colocamos em risco o próprio futuro do ensino superior no Brasil.

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*Sandro Bonás é CEO da Conexia Educação

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