Opinião

Nova Base Curricular

Não podemos melhorar um elo da corrente se o outro está fraco. Não basta unificar um plano

Pela primeira vez o Brasil tem uma Base Comum Curricular de educação infantil e Ensino Fundamental para todas as escolas públicas e privadas do Brasil. O documento vai orientar pais, estudantes e professores sobre educação básica, com impacto na formação de professores, na aquisição de livros didáticos e na elaboração de exames.

Todas as escolas deverão adaptar seus currículos no ano que vem para que se adequem à Base até 2020. Os especialistas do MEC dizem que é um grande avanço e que a Base vai contribuir para reduzir as desigualdades educacionais, melhorar a qualidade dos aprendizados e servir para revisão dos currículos.

Mas essa implementação depende muito da atuação de estados e municípios. As últimas pesquisas sobre ensino público trazem um balanço dos problemas. Em primeiro lugar vem a desigualdade. E em educação você não pode deixar ninguém para trás.

Base de todo aprendizado, o Fundamental 1 até tem nota acima da estabelecida pelo MEC. Especialistas afirmam que bons ou maus resultados atribuem-se à administração local porque a maioria dos municípios é responsável por essa etapa da educação que vai determinar o sucesso ou não do aluno para toda a sua vida.

Mas o que temos é sempre uma descontinuidade nas políticas públicas. Como exemplo, a interrupção do crescimento das matrículas em tempo integral no Ensino Fundamental em todo o país. Segundo o Censo Escolar, elas caíram de 4,5 milhões para 2,4 milhões entre 2015 e 2016.

Observamos também que os municípios que melhoraram suas notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) contaram com a inovação e criatividade dos professores. Mas, para isso, temos que ter professores bem remunerados, motivados e em condições de se especializarem.

Outra questão é a desigualdade. Pesquisa do IBGE concluiu que um em cada quatro brasileiros estava em situação de pobreza em 2016, ou 52 milhões de pessoas. Entre crianças de 0 a 14 anos, 42% se enquadram nestas condições.

Se a criança cresce em ambientes de pobreza extrema e de estresse tóxico, pode sofrer atrasos no desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e socioemocionais. O que vai prejudicar seu desempenho ao longo da vida escolar.

Temos que melhorar a educação, mas sem fome. Melhorar as gestões municipais e estaduais e as condições dos professores. Porque o efeito vem em cascata: para um ensino fundamental de qualidade é necessário a qualificação dos profissionais que irão lecionar neste ensino. Para melhor qualificação desses professores, eles já devem chegar com boa base ao ensino de terceiro grau.

Isso passa pela melhoria do Ensino Médio, o que exige ter melhores licenciados e alunos com boa base no Ensino Fundamental. Todos os níveis de ensino interligados como uma corrente.

Não podemos tentar melhorar um elo da corrente se o outro está fraco. O caminho é longo e não basta unificar um plano. O currículo passou por alterações, mas e a dignidade das pessoas? Para onde estão levando tanto dinheiro do nosso povo? Do nosso futuro?

Maria Rachel Coelho Pereira é professora de Direito e educadora