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Nós Negros: 9 argumentos de quem defende a Lei de Cotas no Brasil

Para a auxiliar de enfermagem Maria das Graças Sousa Santos, a universidade era sonho distante. - Yasmin Velloso / UOL
Para a auxiliar de enfermagem Maria das Graças Sousa Santos, a universidade era sonho distante. Imagem: Yasmin Velloso / UOL

Núcleo de Diversidade

30/08/2022 10h59

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Neste marco dos 10 anos da sanção da Lei de Cotas (nº 12.711), que prevê a reserva de 50% das vagas das universidades e institutos federais de ensino superior a estudantes de escolas públicas (dentro dessa reserva, vagas a alunos de baixa renda, negros, indígenas e com deficiência), Nós Negros elenca alguns argumentos de quem defende a política de ação afirmativa. Confira!

1) Mais alunos de escolas públicas: entre 2012 e 2016, o ingresso desses estudantes cresceu de 55,4% para 63,3% nas instituições federais, enquanto o ingresso de negros e indígenas aumentou de 27,7% para 38,4%.

2) Mais mulheres negras estudando: segundo o IBGE, dos jovens que frequentavam educação superior em 2000, apenas 9,9% eram mulheres negras. Em 2019, o índice subiu para 26,3%.

3) Ascensão social: a ação afirmativa foi a porta de entrada na universidade para pessoas como Dona Graça, Gil do Vigor, Jeferson Tenório, Gabryele Moreira e tantas outras, que mudaram as realidades de suas famílias.

4) Reavaliação sobre meritocracia: ao debate sobre a ação afirmativa, somou-se o das condições sociais desiguais para se alcançar um lugar na universidade. "Que mérito é esse se as condições de concorrência não são iguais?", diz ao UOL a historiadora Lilia Schwarcz.

5) Inclusão não baixa o nível das universidades: análises mostram que o rendimento de cotistas na universidade não caiu. Segundo a professora Maria Hermínia, dados como esses a fez mudar de ideia e apoiar a ação afirmativa.

6) Intelectuais e pensadores negros no currículo acadêmico: ao UOL, Schwarcz também explicou que mudou o contexto de algumas de suas aulas: "Repensei toda a disciplina: introduzi autores como Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Sueli Carneiro e Clóvis Moura".

7) Exemplo internacional: com a lei, o Brasil se juntou a outros países como Índia e EUA para interferir na desigualdade social por meio da educação.

8) Diversidade no mercado de trabalho: ex-cotistas têm se destacado profissionalmente em diversos campos de atuação como direito, literatura ou ciência.

9) Estímulo à educação: ao permitir o acesso de alunos com perfis diversos na universidade, as cotas possibilitaram que pessoas que nunca acharam ser possível estar nestes espaços também refletissem sobre a possibilidade de estar no ensino superior.

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IDENTIDADE... Aline Melo tinha 32 anos quando decidiu atualizar a autodeclaração de seu RG de parda para preta. Ela e outras mulheres contam a Universa como foi o processo para se reconhecerem como negras na fase adulta.
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SOBREVIVER NA FAVELA... Nas favelas, as redes sociais também dão voz ao ativista e empreendedor Raull Santiago. Morador do Complexo do Alemão, ele criou diversas iniciativas para mudar a realidade da comunidade em que vive.

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EXEMPLO NO CAMPO... O craque do Real Madrid, Vinícius Júnior, quer fazer um golaço fora dos campos também. Junto a uma equipe de cerca de 12 pessoas, ele quer mudar a educação pública brasileira por meio de uma tecnologia que une futebol e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

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DANDO A LETRA

Infelizmente, os debatedores deixaram de fora da discussão o principal problema brasileiro. O racismo, que está na raiz de boa parte das tragédias nacionais, não foi citado em nenhum momento"
Chico Alves, colunista do UOL

Chico Alves, colunista de Notícias - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Em Notícias, Chico Alves opina que o debate com candidatos à Presidência da República, no domingo (28), não abordou a questão racial. O assunto também foi pauta da coluna de Anielle Franco em "Candidatos, negros não são massa de manobra para angariar votos e verbas".

Também em Notícias, Jeferson Tenório reflete sobre as falas de Bolsonaro sobre a fome no Brasil.

Em VivaBem, Elânia Francisca aborda quais são os limites de uma educadora em sexualidade no dia a dia escolar.

"Peele pode fazer filmes de terror, mas como o homem preto e norte-americano que é, ele sempre deixa bem claro que os grandes vilões dos seus filmes são o trauma causado pela simples experiência de ser preto em uma sociedade como a nossa"
M.M Izidoro

Em Ecoa, M.M Izidoro traz suas reflexões sobre o novo filme de Jordan Peele e a tentativa de abordar os traumas da população negra em sua obra.

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PEGA A VISÃO

A auxiliar de enfermagem Maria das Graças Sousa Santos e o neto Raphael Leopolldo Sousa Menezes, o Raphinha. - Yasmin Velloso / UOL - Yasmin Velloso / UOL
A auxiliar de enfermagem Maria das Graças Sousa Santos e o neto Raphael Leopolldo Sousa Menezes, o Raphinha.
Imagem: Yasmin Velloso / UOL

A pessoa que não tem estudo não tem escolha, aceita qualquer trabalho que oferecem. Fico feliz em ter ajudado Ítala e Raphinha que, com a idade que eu tinha quando engravidei, já está terminado o curso superior.
Maria das Graças, auxiliar de enfermagem

Em 2004, a auxiliar de enfermagem Maria das Graças Sousa Santos repetia consigo sempre que caminhava pelo campus da Universidade de Brasília nos intervalos do trabalho: "Ainda vou estudar aqui". Dez anos depois e aos 58 anos, ela conseguiu: foi a primeira da família no ensino superior. Não contente, levou a filha e o neto juntos.

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SELO PLURAL

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Imagem: Arte UOL

No episódio #93 de Papo Preto, o cirurgião dentista Arthur Lima, sócio-fundador e CEO da AfroSaúde fala sobre os problemas de acesso à saúde de população negra e os desafios da conscientização.