Os dados são do segundo trimestre e estão na Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) Contínua do IBGE, divulgados no Boletim Educacional do Instituto Jones Santos Neves (IJSN), nesta quarta-feira (23).

Na pesquisa, maior parte das justificativas das garotas para não procurar emprego é o fato de ter que cuidar de filho, parente ou afazeres domésticos. Já a maioria dos garotos disse apenas que desistiu de procurar emprego.

Por um ano e meio, Hellen Madeira de 23 anos esteve entre os jovens que não trabalham, não estudam e não estão procurando emprego, mas com foco em ter um futuro profissional e dar uma vida melhor ao filho, começou a trabalhar e estudar e saiu dessa estatística.

Hoje, ela divide o dia entre as tarefas de cuidar da casa, do filho Henrique Gabriel Fonseca, de três anos, o trabalho como assistente de dentista e o primeiro período da faculdade de geografia. Ela falou para o G1 como mudou de vida. Assista:

Separada do pai de Henrique, Hellen deixa o filho com ex durante o tempo em que estuda.

“A princípio, o pai não quis ficar com o Henrique. Se ele disser que não vai mais ficar com o filho, eu terei que sair da faculdade. Não confio em deixar com desconhecidos”.

Sobre o dado de jovens “nem, nem, nem”, a presidente do IJSN, Gabriela Lacerda, explica que esse é um efeito da crise econômica sentida de forma mais profunda na população jovem, que tendem a desistir do mercado de trabalho ao encararem o cenário com visão pessimista.

“Para além da discussão de renda é necessário entender que essa população envelhece e isso terá impacto na força de trabalho. Por isso, é preciso melhorar a produtividade e qualificar os jovens do país, para encontrar caminhos que corrija essa distorção”, explica Gabriela.

O Espírito Santo tem uma taxa maior que a do Sudeste, mas menor que o índice brasileiro.

Essa situação é mais frequente entre as mulheres. De acordo com a pesquisa, o total de pessoas do gênero feminino “nem, nem, nem” é mais que o dobro de homens que não trabalham, estudam e procuram emprego.

Fatores

O principal fator apontado pelas mulheres para isso é o cuidado com os filhos, dependentes e afazeres domésticos (35%). Nenhum homem da pesquisa apontou isso como causa.

Para eles, o fator mais comum que leva a não estudar, trabalhar e procurar emprego é terem desistido de procurar (45,2%).

Essa situação é analisada por Lacerda como um retrato da sociedade. Para reverter isso, a presidente pontua que é necessário investimento em políticas públicas que façam acompanhamento da trajetória educacional e mentoria profissional, garantam o acesso dos filhos as creches.

“Apesar de vermos mudanças significativas sobre a escolaridade de mulheres, a questão da diferença de gênero não é um fenômeno sociedade brasileira e capixaba, mas de toda América Latina e Caribe. Os afazeres domésticos e o cuidado com os filhos ainda são barreiras para que elas estejam inseridas na força de trabalho”.