Necessidade de trabalhar é principal motivo de abandono escolar no Brasil

Justificativa é citada por 40,2% dos jovens longe da escola, diz IBGE

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Rio de Janeiro

A necessidade de trabalhar é a principal justificativa citada por jovens para o abandono escolar no Brasil, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Conforme o instituto, de um total de 52 milhões de pessoas de 14 a 29 anos no país, em torno de 18% (9,5 milhões) não completaram o ensino médio —ou por terem abandonado a etapa antes do término ou por nunca terem frequentado a escola. Os dados são referentes a 2022.

Quando perguntados sobre o principal motivo por trás dessa situação, 40,2% desses jovens apontaram a necessidade de trabalhar. O percentual ficou praticamente estável em relação a 2019 (40,1%), versão anterior da série histórica, iniciada em 2016.

Sala de aula vazia em escola na zona leste de São Paulo em 2020, ano inicial da pandemia - Rubens Cavallari - 11.set.2020/Folhapress

Falta de interesse em estudar (24,7%), outros motivos (14,5%), gravidez (9,2%), afazeres domésticos (4,6%), problemas de saúde (3,6%) e ausência de escola na localidade, vaga ou turno desejado (3,2%) completam a lista de justificativas do ano passado.

Os números integram um módulo sobre educação da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A publicação referente a 2022 vem após dois anos (2020 e 2021) de interrupção devido à pandemia de Covid-19.

Entre os homens de 14 a 29 anos fora da escola, o percentual de abandono em razão da necessidade de trabalhar foi de 51,6% em 2022, seguido pela falta de interesse em estudar (26,9%).

Entre as mulheres, o principal motivo também foi a necessidade de trabalhar, mas em um nível inferior ao dos homens: 24%. Em seguida, apareceram gravidez (22,4%) e falta de interesse em estudar (21,5%).

Além disso, destaca o IBGE, 10,3% das mulheres indicaram afazeres domésticos ou cuidado de pessoas como o principal motivo de terem abandonado ou de nunca terem frequentado a escola. Para os homens, esse percentual foi considerado inexpressivo (0,6%).

Taxas de escolarização e frequência

O levantamento ainda traz dados como a taxa de escolarização, que aponta a proporção de estudantes de determinada faixa etária em relação ao total de pessoas dessa mesma idade.

O IBGE destacou que, de 2019 para 2022, a taxa de escolarização das crianças de quatro a cinco anos caiu de 92,7% para 91,5%.

Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE, disse que esse recuo pode estar associado "de alguma forma" à pandemia de Covid-19, seja por decisões das famílias ou por problemas na oferta de serviços. Ela, porém, avaliou que os dados não permitem uma avaliação definitiva.

A pesquisa também mostra a taxa ajustada de frequência escolar líquida. Isso é, o percentual de pessoas que frequentam o nível de ensino previsto para a sua faixa etária (ou que já haviam concluído esse nível) em relação à população total da mesma idade.

Entre a população de 6 a 14 anos, a taxa de escolarização saiu de 99,3% em 2019 para 99,4% em 2022. Por outro lado, a taxa de frequência escolar líquida nessa faixa etária caiu de 97,1% em 2019 para 95,2% em 2022. É o menor nível da série histórica iniciada em 2016.

Conforme o IBGE, a queda foi decorrente principalmente do quadro verificado nos primeiros anos do ensino fundamental (seis a dez anos de idade).

Apesar do recuo, a estimativa de 2022 (95,2%) permanece dentro da meta 2 do PNE (Plano Nacional de Educação) para esse indicador, que é de pelo menos 95% até 2024.

"O que a gente observa é que o desajuste não foi na saída do ensino fundamental. Foi na entrada", disse Beringuy.

Ela também indicou que o resultado pode estar associado aos impactos da pandemia, que paralisou escolas e forçou o ensino remoto, mas ponderou que os dados não trazem uma resposta conclusiva.

Entre as pessoas de 15 a 17 anos, a taxa de escolarização subiu de 89% em 2019 para 92,2% em 2022. A meta 3 do PNE definia a universalização até 2016 do atendimento escolar para essa parcela da população.

Dos 15 aos 17 anos, também houve aumento na proporção dos estudantes que estavam na etapa adequada de ensino, frequentando o ensino médio ou com os estudos dessa fase já concluídos. A taxa de frequência saiu de 71,3% em 2019 para 75,2% em 2022. A meta 3 do PNE, contudo, estabelece que o indicador esteja em 85% até 2024.

Entre as pessoas de 18 a 24 anos, que idealmente estariam no ensino superior, a taxa de escolarização foi de 30,4% no ano passado. O percentual ficou próximo ao registrado em 2019. A taxa ajustada de frequência foi estimada em 25%.

A meta 12 do PNE, diz o IBGE, estabelece que a taxa de frequência escolar líquida no ensino superior, para a população de 18 a 24 anos, alcance 33% até 2024. Em 2022, essa meta havia sido atingida somente entre as pessoas brancas (35,2%).

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