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A pandemia como um divisor de águas na educação brasileira

Depois de quase três meses em quarentena, as famílias que puderam estar em casa com seus filhos estão enfrentando mudanças significativas em suas rotinas, em especial no quesito educação. A pandemia causou o fechamento das escolas e muitas delas se viram em um momento de se reinventar repentinamente para que os alunos não ficassem sem as aulas. Os pais, por sua vez, se viram obrigados a se adaptar à nova rotina. As mudanças trazem uma reflexão: o que será que essa temporada vai levar para o futuro pós-pandêmico?

Por Nathalia Pontes
Atualização:

Existem diversos estudos que avaliam as pessoas antes e depois de situações de grandes mudanças e, em geral, após o período de euforia, os níveis de comportamentos voltam a ser similares aos anteriores ao evento. Possivelmente haverá um pico de sociabilidade, mas depois a curva retorna à normalidade. O reflexo que essa crise vai deixar no ensino, no entanto, mudará o amanhã de uma maneira significativa. Desde a Segunda Guerra Mundial não se tinha notícias sobre instituições educacionais fechadas ao mesmo tempo e pelo mesmo motivo. Até o momento, contabilizamos 138 países com escolas fechadas, sendo que três em cada quatro crianças e jovens de todo o mundo estão sem aulas (cerca de 1,37 bilhões de estudantes). Os números são impactantes e levantam mais um alerta: as consequências da desigualdade social na aprendizagem.

Nathalia Pontes. Foto: Acervo pessoal

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Segundo a Unicef, a interrupção das aulas presenciais traz consequências mais graves para os alunos de famílias mais carentes. Ficar longe da escola os expõe a riscos maiores relacionados a violência física, psicológica, exploração sexual e abandono escolar. Infelizmente, pelo andar da carruagem, o Brasil vai demorar a controlar o novo coronavírus, o que aponta mais demora no retorno às aulas.

O EAD, entretanto, foi aplicado em larga escala pelas escolas particulares, mas por aqui grande parte de domicílios não possui computador e acesso à internet. Para quem tem possibilidade de acesso de qualidade e computador disponível para os estudos, entre as principais queixas está a percepção das aulas serem muito metódicas e com pouco espaço para interação. O contraponto de realidades é notado sobretudo em estudantes de escolas particulares e públicas, uma vez que o ensino no sistema público (que já é defasado) ficou ainda mais prejudicado. Portanto, em pouco tempo os reflexos desse quadro serão vistos, por exemplo, em avaliações como o ENEM, um dos métodos para o ingresso em instituições de educação superior, principalmente as públicas. Uma grande possibilidade é a evasão escolar, fomentada pela falta de estímulo ao estudo durante o período de isolamento, um problema socioeducativo ainda maior.

Essa nova dinâmica instaurada desfavorece não só o aprendizado das crianças e adolescentes que estão no ensino fundamental, mas também dos pequenos que estão passando pela primeira infância (até 5 anos), que precisam saber a lidar com o ócio e estão privados da experiência de socialização. As crianças de 7 a 11 anos irão conseguir absorver os conceitos mais facilmente, mas a questão da socialização e do uso ininterrupto de telas pode ser um desafio. Para os adolescentes, a ânsia de obter rendimento e testar limites pode causar quadros de ansiedade e depressão, principalmente pelo uso intenso de redes sociais. A atenção dos pais é fundamental, assim como a busca por acompanhamento psicológico quando necessário. Alguns programas do governo oferecem tal suporte para as famílias.

Se até hoje conhecíamos o processo de conhecimento de uma forma, precisamos nos acostumar com uma nova realidade que vai depender do uso contínuo da tecnologia, mas que deve ser inclusiva a todas as classes sociais (empresas e governos podem se unir para que isso seja garantido). Podemos encarar tal questão como um fator motivador, uma oportunidade para mudar o conceito ultrapassado de educação e preparar nossas crianças para o futuro. Então, que tal arregaçar as mangas e trabalhar para enriquecer o futuro das crianças?

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*Nathalia Pontes é especialista em Pesquisa & Desenvolvimento Educacional na PlayKids, uma das líderes globais em conteúdos para famílias. Mestranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP, especialista em Gestão de Negócios e Inteligência de Mercado pela FIA/USP, psicopedagoga e escritora, acredita que aprender é uma combinação entre autoconhecimento, troca e curiosidade pelo novo.

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