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'Não tenho nem preparação para fazer discussão ideológica, minha função é técnica', diz novo ministro da Educação

Em entrevista ao GLOBO, Carlos Alberto Decotelli afirmou que sua prioridade é o diálogo
O professor Carlos Alberto Decotelli, que estava há menos de seis meses na presidência do FNDE. Foto: Divulgação
O professor Carlos Alberto Decotelli, que estava há menos de seis meses na presidência do FNDE. Foto: Divulgação

BRASÍLIA— O professor Carlos Alberto Decotelli, anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira, como o novo ministro da Educação pretende fazer uma gestão pautada no diálogo. Segundo ele, sua gestão será técnica e não há espaço para polêmicas relacionadas à ideologia.

Em entrevista ao GLOBO, o ex-presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) afirmou que pretende estabelecer relacionamento estreito com estados e municípios para traçar a retomada das aulas e irá conversar com o Congresso na articulação do Fundeb.

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Oficial da reserva da Marinha , Decotelli é professor da área de finanças na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e atuou junto ao governo desde a transição, quando participou do plano voltado para a área da educação.

Horas depois de sua nomeação, o ministério divulgou em seu perfil no Twitter um aviso: "O Ministério da Educação informa que o novo ministro da pasta, Carlos Alberto Decotelli, não possui perfil na rede social Twitter. Todas as contas registradas com o nome do ministro são, portanto, falsas."

Qual será sua prioridade à frente do MEC?

São três as prioridades: a primeira é ampliar o diálogo e interlocução para que haja divulgação correta em relação às políticas do MEC; atualizar o cronograma dos compromissos que estão estabelecidos; as ponderações em relação ao novo Fundeb; as políticas envolvendo a covid-19 e a parte de biossegurança. Queremos fazer um trabalho de gestão interna integradora, com diálogo mais forte entre o FNDE e a Capes, e a estrutura operacional que é a estrutura estratégica no gabinete. A preocupação com a biossegurança para reativação das aulas e o Fundeb (são as principais questões).

A última gestão do MEC ficou distante dos secretários estaduais. Pretende mudar isso?

Procuraremos um diálogo com o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação). A secretária Cecília Motta (presidente do Consed) é muito eficiente e interessada em dialogar, será um diálogo intenso para que tenhamos a qualidade e a proteção contra a covid, na parte da Saúde, e ao mesmo tempo, cronograma possível para retomada das aulas.

Acredita que sua boa relação com Congresso ajudou na sua escolha como ministro? Ajudará na condução do Fundeb?

A professora Dorinha (DEM-TO, relatora do Fundeb) é uma grande entusiasta, conhecedora do ensino e ela coopera muito. Existe no MEC uma profissional que está há mais de um ano trabalhando e conversando com a (pasta da) Economia (sobre o Fundeb). Tanto a comissão de educação da Câmara quanto do Senado estão bastante integradas com a necessidade de resolver a questão. O senador Flávio Arns (REDE), Dario Berger (MDB-SC)... São nossas pontas de interlocução específica por serem pessoas com grande laço na área educacional.

Na sua opinião, do que o MEC precisa nesse momento?

O que o MEC mais precisa agora é executar as políticas públicas na educação, colocar em prática o que é previsto, arregaçar as mangas. Eu sou professor, trabalhei como presidente do FNDE e minha prática é entregar para a sociedade da melhor maneira possível as políticas de educação.

O senhor foi presidente do FNDE e, na época, houve relatos de desavença com o ministro Abraham Weintraub.

Eu saí do FNDE porque foi uma questão de troca institucional e voltei para a Academia. Quem teve desavença com o ex-ministro foi meu sucessor.

Quando foi feito o convite? Te surpreendeu?

Eu vim ontem (quarta-feira) para Brasília. Houve uma série de referências. Eu fiz uma gestão amplificada no FNDE, viajando o Brasil, ensinando as prefeituras, (tendo) um diálogo forte com os secretários, conversas fortes no Congresso. A minha ideia de o FNDE fazer sempre palestras no auditório do Congresso, com o presidente Rodrigo Maia, (bem), essa prática foi lembrada para que eu pudesse voltar a trabalhar no governo para estender o método de gestão e diálogo. E que a política educacional deveria voltar a dar essa orientação quanto à metodologia de trabalho.

Seus antecessores no MEC tiveram uma gestão marcada pela questão da ideologia. Como será sua atuação em relação a essa área?

Eu sou professor da FGV há muito tempo e a minha questão é o trabalho. Eu não tenho nem preparação para fazer discussão ideológica. Vou conversar, dialogar. Minha visão é transformar o ambiente da política educacional em ambiente de sala de aula, e na sala de aula conversamos. A minha função é técnica.