Pela lente da gente

Por Aline Midlej

Aline Midlej é apresentadora do Jornal das Dez, na GloboNews


Ainda existem 1,8 milhão de crianças no trabalho infantil no Brasil — Foto: Rede Globo

Pense em mais de 700 mil crianças brasileiras. 700 mil. É esse o número de menores que exercem no país atividades consideradas perigosas: manuseio de máquinas pesadas, objetos cortantes e material tóxico. Esse é um dos dados revelados pelo IBGE nesta semana. Após três anos no escuro, voltamos a ter uma ideia do quadro do trabalho infantil com essa pesquisa.

Ainda são, no total, 1,8 milhão de crianças e adolescentes, a maioria meninos e negros, a enfrentar essas condições.

Poderíamos comemorar que esse número já foi maior - foi registrada uma queda de 16,8% em 4 anos na quantidade de crianças no trabalho infantil - mas esses são dias de perceber que temos país sem um plano... de país.

Da Brasília sempre tão distante do Brasil, aguardamos ansiosos a definição de um plano de vacinação, ações concretas para acalmar angústias e ansiedades que aumentam no ritmo das novas altas de perdas humanas para o novo coronavírus – voltamos a superar os mil mortos num único dia.

Pessoas infectadas – poderia ser eu ou você - também estão morrendo nas enfermarias à espera de um leito de UTI. Nunca será demais lembrar que o nosso comportamento neste fim de ano – o meu e o seu - impacta diretamente essa realidade.

Não bastasse a Pandemia, a ONU nos alertou que o Brasil caiu cinco posições no ranking mundial de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e passou da 79ª para a 84ª posição, entre 189 países avaliados. E sugeriu: invistam em educação. O plano de um país que não seja mais desumanamente desigual passa por mais tempo na sala de aula, com professores valorizados.

Então voltemos à capital federal. O Congresso Nacional aprovou, finalmente, o novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), a principal fonte de financiamento da educação básica e pública.

“E se essa aprovação do novo Fundeb inaugurasse uma nova fase? De luta mais articulada e conquistas mais profundas no campo da justiça social? De um projeto de país capaz de olhar generoso com os mais pobres e vulneráveis. Pode parecer otimista demais. Mas e se conseguíssemos?”, me disse Priscila Cruz, presidente-executiva da organização Todos pela Educação.

As escolas públicas ficaram ameaçadas de perder R$ 16 bilhões após pedidos de alteração no texto original. Mas, após muita mobilização, prevaleceu o bom senso.

Na mesma votação, foi mantido o trecho que assegura um aumento importante no valor mínimo investido por aluno: R$ 3.700 para R$ 5.700, de forma escalonada até 2026. É o dinheiro indo para fundação do novo plano de país.

“A Pandemia evidenciou muitas distorções, desigualdades e descasos. Na base disso está a ausência de uma visão clara de qual país queremos construir. A exceção foi a enorme conquista da aprovação do novo Fundeb, que conseguiu duas grandes vitórias: unir especialistas e políticos com históricos completamente distintos, concretizar uma política em que os entes da federação transferem recursos para os mais pobres, reconhecendo que alguns precisam de mais apoio e esforço que outros”, completou Priscila Cruz.

Que seja o primeiro esboço de um verdadeiro plano de país.

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