Brasil Educação

'Não é tão simples assim', diz membro do CNE sobre tentativa do MEC de proibir discussão de gênero nas escolas

Presidente da Câmara de Educação Básica do órgão, Ivan Siqueira afirma que colegiado deve analisar ainda neste ano resolução sobre o tema
Parada do orgulho LGBTI no Rio, em 2018 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Parada do orgulho LGBTI no Rio, em 2018 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO- O presidente Jair Bolsonaro anunciou na terça-feira que o Ministério da Educação (MEC) vai fazer um projeto de lei para proibir a abordagem do que chama de "ideologia de gênero" nas escolas. A medida trouxe de volta aos holofotes a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que dá diretrizes para os currículos do país, e os vácuos deixados por ela.

Em 2017, após pressão do governo Michel Temer para atender à bancada evangélica, o Conselho Nacional de Educação (CNE) retirou da BNCC termos relacionados à questão de gênero e orientação sexual.  Na época, o CNE afirmou que publicaria posteriormente uma resolução para regulamentar a abordagem do tema, mas, até o momento,isso não aconteceu.

Leia mais: MEC vai fazer projeto de lei contra 'ideologia de gênero'

Em entrevista ao GLOBO, o presidente da Câmara de Educação Básica do órgão, Ivan Siqueira, disse que o  CNE vai discutir o assunto neste ano. No momento, ele diz que há outros temas com prioridade na pauta, como o ensino religioso e a formação de professores, mas que o cenário pode mudar se o MEC apresentar o projeto de lei sobre o tema.

— É preciso verificar se esse projeto do MEC não usurpará direitos. Acho que talvez seja uma questão de retórica, não é tão simples assim (proibir o tema). É preciso analisar com base nos marcos legais que existem e eles vão no sentido de uma educação global, que contempla os aspectos da contemporaneidade — afirmou.

Leia também: Doria manda recolher livros didáticos que abordavam identidade de gênero

O conselheiro do CNE contrariou o argumento do governo do estado de São Paulo para justificar o recolhimento de livros didáticos que abordavam a identidade de gênero. Segundo a secretaria estadual, adotar o tema em sala de aula seria desrespeitar o que está previsto pela BNCC.

— A BNCC é um parâmetro a partir do qual os currículos devem ser feitos, cada rede mira nisso para fazer próprio currículo. Não podem desconsiderar o que ela prevê, mas não há nenhuma lei que diga que esse tema não pode ser abordardo. Nem na Constituição e nem nas diretrizes curriculares da etapa — explica.

Questionado se o CNE teria perdido a oportunidade de garantir a abordagem da questão nas escolas ao retirar termos relacionados à identidade de gênero do documento, Siqueira afirmou que a medida foi necessária para garantir a aprovação da Base.

— Se tivéssemos insistido na inclusão dos termos a Base não teria sido aprovada. Foi uma questão estratégica aprovar o que era possível e deixar as temáticas mais sensíveis para serem aprovadas ao logo do tempo — defendeu.