Por Rogério Júnior, g1 MT


Estudantes de Bom Jesus do Araguaia tiveram que ir a pé fazer o Enem devido aos bloqueios — Foto: Reprodução

Uma das estudantes que andou por mais de 5 km até o local de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) -- cujo gabarito foi divulgado nesta quarta-feira (23) -- contou ao g1 que, durante a prova, ficou precoupada com a volta para casa e que o estresse e o cansaço refletiram em seu desempenho na prova. O ônibus dela foi barrado em um protesto golpista realizado por bolsonaristas que não aceitam o resultado das eleições.

O grupo de estudantes foi impedido de passar pelo bloqueio em Querência, a 912 km de Cuiabá, no último domingo (20).

"Com certeza nós ficamos muito estressados com tudo o que passamos. Então, não conseguimos nos concentrar, inclusive pela preocupação em saber como iríamos voltar para casa", disse.

Os manifestantes chegaram a liberar o veículo, mas uma das alunas fez um sinal de "L" -- em alusão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -- e, então, o grupo foi impedido de seguir viagem. Os estudantes, então, resolveram descer do veículo e seguir a pé até as escolas onde prestaram o exame.

A estudante, que não quis ser identificada, contou ao g1 que passou mal durante o trajeto por causa do calor e que, já durante a caminhada, todos estavam preocupados com o desempenho na prova.

Ao g1, a diretora regional da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) de Querência, Glaucia Vieira, informou que, no final da prova, havia um ônibus do município aguardando os estudantes para levá-los até a barreira onde estava o ônibus que havia levado o grupo de Bom Jesus do Araguaia, a 983 km de Cuiabá.

"Eu estava no local do bloqueio tentando entrar no ônibus para conversar com os estudantes, para que não fizessem nenhum tipo de apologia [política]. Mesmo que eu tentasse alguma coisa, não ia fazer com que a decisão dos manifestantes voltasse atrás. Os estudantes desceram do ônibus e foram a pé para Querência porque ficaram preocupados e com medo de perder o horário da prova. Eu não consegui conversar com todos, porque foram descendo, mas estávamos tentando outros ônibus, do outro lado do bloqueio, para levar os estudantes", afirmou.

Segundo ela, essa baldeação foi feita com estudantes de Ribeirão Cascalheira, que também tiveram o ônibus barrado no bloqueio.

A diretora ainda explicou que chegou cedo ao local para pedir a liberação da via ao manifestantes, mas que, depois da situação com o primeiro ônibus e o sinal feito por um dos alunos, os manifestantes se exaltaram e não houve mais diálogo.

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc-MT) informou que os estudantes que se sentirem prejudicados pelo ocorrido podem solicitar uma reaplicação da prova e ainda orientou que os responsáveis registrem boletim de ocorrência na polícia.

Bloqueios

Conforme a última atualização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), não há mais pontos de bloqueios no estado, que se tornou um dos principais focos de manifestações antidemocráticas. Nesta terça-feira (22), policiais usaram maquinários para limpar as barreiras feitas para fechar as estradas.

O governo estadual passou a coibir efetivamente as interdições com atuação das forças de segurança, como Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, além da PRF, que encaminhou mais 100 homens para ajudar nas ações, que também contaram com maquinários para desobstruir as vias.

O estado tem sido o principal foco das manifestações antidemocráticas do país, que começaram ainda em outubro, depois do resultado das eleições. Porém, de acordo com a PRF, a violência nos atos cresceu e crimes foram registrados.

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