Não basta ter tecnologia na escola: o desafio está em usá-la corretamente - PORVIR
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Inovações em Educação

Não basta ter tecnologia na escola: o desafio está em usá-la corretamente

O bom uso das soluções tecnológicas pode apoiar o engajamento e a promoção da aprendizagem ativa

Parceria com CLOE

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 17 de dezembro de 2021

Diante de escolas fechadas, foi necessário buscar múltiplas soluções para manter o vínculo com os alunos. Nos contextos nos quais a conectividade não era uma empecilho, construíram-se pontes a partir de plataformas e soluções tecnológicas.

Engana-se quem pensa que basta levar essas ferramentas para a sala de aula para alcançar os potenciais benefícios na educação. Bruno Gebara, sócio-fundador da Camino Education, explica que, quando usadas corretamente, as novas tecnologias podem ajudar a promover a aprendizagem ativa dos estudantes, com mais engajamento e participação em seu próprio processo de aprendizagem.

“Em uma aula tradicional, por exemplo, focada em conteúdo, muitas vezes as experiências ficam limitadas ao que consta nos livros didáticos. Na aprendizagem ativa, com o suporte de tecnologia, as fontes de pesquisa são inesgotáveis, os formatos multimídia muito mais instigantes e engajadores e as experiências extravasam a fronteira bidimensional do papel”, exemplifica.

Assim, o ponto de atenção é a necessidade de planejar uma adoção adequada da tecnologia, que, por ser um instrumento, não fará todo o trabalho sozinha  – e, sim, apoiará um processo de construção do conhecimento e aprendizado mais significativo e contextualizado.

Pesquisador e diretor educacional da Silicon Valley Brasil, José Motta ressalta que, provocadas pelos desdobramentos da pandemia e também pela construção de um processo de ensino e aprendizado mais alinhado aos desafios de um mundo em transformações, muitas instituições de ensino estão procurando novos caminhos para a aprendizagem, como as metodologias ativas.

“As metodologias ativas e tecnologias educacionais emergentes são catalisadoras”, diz José.  “Como meio e não como fim em si mesmas, são ferramentas no que se refere à valorização da experimentação, do aprender fazendo e da aprendizagem colaborativa, utilizando-se de ambientes virtuais de aprendizagem, plataformas, aplicativos e novas vias que permitam atender com mais eficiência às necessidades dos alunos”, explica.

Além disso, de acordo com o pesquisador, as metodologias ativas proporcionam conexões, engajamento e, principalmente, a possibilidade da coleta de dados por parte do professor para a melhor tomada de decisão quanto ao preparo dos diversos momentos de interações, aulas, atividades e avaliações.

Engajamento x desengajamento 

Mesmo entre aqueles que já tinham mais familiaridade com a tecnologia, migrar a educação do mundo físico e presencial para o ambiente virtual pegou a todos de surpresa: desde os estudantes até os professores e equipes pedagógicas. Saíram ganhando as escolas e redes de ensino que conseguiram realizar um planejamento para unir o conteúdo, o uso da tecnologia e a promoção de inovações e novos métodos de aprendizagem.

“Temos ótimos exemplos nos quais a tecnologia foi usada a favor do processo de aprendizagem, aumentando o engajamento dos alunos ao apresentar novos formatos de interação, discussão e reflexão, casos nos quais a própria prática pedagógica foi alterada para potencializar a aprendizagem no cenário de ensino remoto”, comenta Bruno.

Entretanto, ele reforça que, se aplicada de maneira inadequada, a tecnologia pode ser apenas mais um elemento que dá continuidade ao modelo tradicional de ensino. “Vimos muitos casos nos quais a prática [pedagógica] permaneceu inalterada, sendo praticamente uma aula expositiva online. Neste caso, percebemos que, ao invés de aumentar o engajamento dos alunos por meio do uso adequado da tecnologia, tal cenário aumentou ainda mais o desengajamento.”

Tudo que alunos e professores têm experimentado em termos de novas estratégias, ferramentas, conexões e descobertas de novos caminhos para o aprendizado, mesmo que distantes fisicamente, está permitindo enxergar o mundo da educação por novas lentes, opina José Motta. Ele também destaca que cabe ao professor não apenas se reinventar, mas planejar o uso de recursos para um ensino que potencialize o significado dos conteúdos e desperte o interesse dos alunos.

”Faz-se necessário a constante criação de novas trilhas, novas táticas e alternativas inovadoras em termos de metodologias e estratégias para a aprendizagem. O professor do presente e do futuro deve deixar de ser o protagonista sobre o tablado à frente da sala de aula”, diz José. ”Agora, ele passa a ser um designer de experiências emocionantes de aprendizagem, com base em dados e informações que levarão – professores e alunos – ao conhecimento efetivo sobre determinado assunto, à troca efetiva de ideias sobre as aplicações desse conteúdo e à sabedoria necessária para a transferência desses saberes para o âmbito social e profissional”, enumera.


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O papel da educação em um mundo digital 

O contexto de transformação digital generalizada, que afeta todos os aspectos da sociedade, coloca novas perguntas diante da educação. Para José, um desses questionamentos gira em torno do verdadeiro papel das instituições de ensino por meio dos seus professores.

O surgimento quase diário de novos padrões de comportamentos sociais não podem ser desconsiderados, como, por exemplo, o perfil do que o educador chama de ‘screenagers’, termo usado para descrever indivíduos que preferem, ler, aprender, interagir com pessoas e com o mundo por meio de uma tela.

“Estamos, toda a sociedade, aprendendo que ensino nem sempre significa aprendizagem, que ensinar não é contar para os outros aquilo que alguém julga saber, que a premissa básica da educação é a possibilidade de relação entre pessoas e que a escola e a universidade são espaços onde seres humanos se encontram para que coisas incríveis aconteçam”, defende José.

A complexidade do ensino híbrido 

Não foi incomum ouvir a expressão ensino híbrido para designar as aulas remotas durante o período de fechamento das escolas. Educadores e especialistas afirmam, entretanto, que a maioria dos casos não pode, de fato, ser classificado como ensino híbrido.

José comenta que o hibridismo na educação vai além do que a simples opção ou permissão para ficar em casa ou ir à escola nos momentos em que determinada atividade acontece. Mais importante que o local onde a aula acontece é o que está sendo feito em cada ambiente, seja físico ou digital, para que a aprendizagem efetivamente ocorra. Nesse sentido, o educador comenta sobre as potencialidades da prática do blended learning, ou seja, da aprendizagem combinada, que mistura diversos elementos.

“É como se os docentes, acelerados pelo aprendizado que todos tiveram durante a pandemia, tivessem em mãos uma poderosa caixa de ferramentas e outras peças que podem ser combinadas, sem engessamentos e com muita criatividade, a fim de que o resultado seja tangível e que tenha significado em termos de experiência de aprendizagem para alunos dos mais diversos ambientes educacionais.”

Personalização e protagonismo 

Se para aqueles que já saíram da escola há algum tempo pode parecer impensável usar tecnologia em sala de aula, hoje os celulares e tablets são uma realidade. Depois das vivências e aprendizados no período de pandemia, proibir esses equipamentos no ambiente escolar não faz sentido. Por isso, o mais indicado é tirar o melhor proveito deles e utilizá-los com propósito.

Um dos processos que pode ser apoiado por plataformas e soluções tecnológicas é a personalização do ensino, como explica Bruno Gebara. “Uma das possibilidades que a tecnologia nos abre é para promovermos o aprendizado adaptativo, no qual as necessidades específicas de cada estudante são levadas em conta, permitindo experiências personalizadas de aprendizagem. Por meio do uso de inteligência artificial e algoritmos, por exemplo, podemos extrair as necessidades específicas dos dados de aprendizagem de cada estudante, criando rotas individualizadas”, conclui.

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aprendizagem ativa, ensino híbrido, metodologias, tecnologia

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