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Na educação, o Brasil tem muito o que aprender com o Brasil

Não reconhecer os avanços é abandonar a oportunidade de universalizarmos o patamar mais elevado de aprendizagem que já é realidade

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Priscila Cruz

Mestre em administração pública pela Harvard Kennedy School (EUA), é presidente-executiva e cofundadora do movimento Todos Pela Educação

Ivan Gontijo

Coordenador de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação

São Paulo

O debate público sobre educação básica ainda é, infelizmente, ocupado por mitos derrotistas, como o de a educação atual ser pior que a "de antigamente", da escola pública como um fracasso e da melhoria da qualidade ser um processo que demora muitas décadas.

Ainda que existam enormes desafios, que foram aprofundados na pandemia, não reconhecer os avanços é abandonar a oportunidade de universalizarmos para todo o país o patamar mais elevado de aprendizagem que já é realidade em redes de ensino de algumas cidades e estados. Uma característica que chama atenção na educação é a desigualdade no território nacional: enquanto muitas redes de ensino avançaram pouco ao longo do tempo, algumas conseguiram implementar um conjunto de medidas que, sustentadas no tempo, causaram um impacto substancial na qualidade.

Alunos em sala de aula da Escola Estadual Raul Antônio Fragoso, em Pirituba, na zona norte de São Paulo - Rubens Cavallari - 22.jul.21/Folhapress

A média dos resultados ainda é ruim e muitas vezes esconde excelentes gestões educacionais que merecem destaque pelo efeito norteador que podem e devem ter. Estes casos de sucesso precisam ser mais conhecidos, e podem inspirar os planos educacionais das pré-candidaturas já postas este ano para os governos federal e estaduais.

Foi pensando em dar visibilidade para essas experiências que o Todos Pela Educação mapeou políticas públicas de sucesso em oito redes de ensino no Brasil, sendo cinco municipais (Coruripe-AL, Londrina-PR, São Paulo-SP, Sobral-CE e Teresina-PI) e três estaduais (Ceará, Espírito Santo e Pernambuco). Em 2021 passamos boa parte do nosso ano nestes lugares para entender em profundidade, documentar os fatores que explicam seus bons resultados e, fundamentalmente, ir além do que as pesquisas são capazes de alcançar: a dimensão humana, as pessoas que lutam diariamente pela aprendizagem de milhões de estudantes.

A partir de análises de dados, estudos documentais e entrevistas com equipes técnicas das secretarias de educação, diretores de escola, professores e alunos, os principais aprendizados destes casos foram sistematizados em documentos técnicos e minidocumentários (disponíveis no canal de YouTube do Todos Pela Educação).

Quais os pontos em comum nas experiências de sucesso educacional? Elencamos cinco deles, aos quais os gestores precisam estar atentos para assegurar que a nossa educação básica seja de qualidade e para todos.

  1. Lideranças políticas comprometidas: os governadores e prefeitos das redes que mais avançam priorizam o tema nas suas agendas, escolhem equipes técnicas competentes e blindam a Secretaria de interferências puramente político-partidárias;

  2. Continuidade com aperfeiçoamento: mesmo com eventuais trocas de gestão, não há problemas de continuidade do que estava funcionando, com aperfeiçoamento frequente das políticas;

  3. Visão sistêmica: não se buscam medidas únicas capazes de resolver todos os desafios. As experiências exitosas implementam um conjunto de políticas educacionais coerentes entre si, com foco em apoiar o processo de ensino-aprendizagem;

  4. Engajamento de todos: há uma busca das lideranças educacionais para que todos os atores do sistema estejam engajados e compartilhem de um mesmo propósito: a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes; e

  5. Aprendizado a partir de evidências: os casos de maior êxito fogem de achismos, se inspirando em diagnósticos bem elaborados, evidências da pesquisa educacional e em experiências de outras redes de ensino.

Estes são pilares básicos para que as próximas gestões consigam avançar suas políticas educacionais com qualidade e equidade. Conhecer o Brasil que dá certo, a educação que dá certo, muda completamente a perspectiva pessimista da educação. Além de reafirmar que temos tudo para fazer uma revolução nacional na educação brasileira, que é possível em dois ou três mandatos com prioridade política e seriedade na gestão, também é um chamado para cuidarmos dessas pessoas —gestores, professores, famílias e estudantes— e ampliarmos essas experiências.

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