Por Rafael Smaira*, g1 Campinas e Região


Valéria e Emilly, Campinas (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Professora há 15 anos, dos quais 11 à frente da educação especial, Valéria Freitas da Silva Vilanova é responsável por acompanhar alunos com deficiência visual, auditiva, intelectual, entre outras, e define o ofício como uma missão para garantir o aprendizado e a inclusão deste grupo de estudantes. No entanto, ela foi além de transmitir o conhecimento e conseguiu inspirar uma garota que, aos 11 anos, quer seguir na mesma profissão por conta da relação com a docente.

Nesta sexta-feira (15), Dia do Professor, o g1 conta a história de Valéria, que, aos 39 anos, promove a educação especial para 39 crianças com idades entre 6 a 14 anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Oziel Alves Pereira, no Parque Oziel, periferia de Campinas (SP), e a relação dela com Emilly Raquel Franco Assunção, a quem se tornou referência para que a garota decidisse qual profissão seguir com tão pouca idade. Veja abaixo.

A professora, que também atende crianças com dificuldades de locomoção, paralisia cerebral e Transtorno do Espectro Autista (TEA), acredita que a atuação dela acontece como uma articulação entre as esferas da família, escola e a criança com alguma deficiência. Segundo Valéria, todas as partes da engrenagem têm que caminhar juntas.

"A educação especial mudou minha vida, me fez vê-la de outra forma. Aprendi com as famílias e professores que já estavam nessa área, mas principalmente com as crianças. É lindo ver como eles têm potencial e são extremamente capazes de avançar, aprender e conquistar. Me fez acreditar ainda mais nessa profissão. Meus alunos têm direito a tudo", explicou.

A docente acompanha Emilly há 6 anos e conta que foi surpreendida com a inspiração da jovem. Ao g1, a aluna afirmou que pretende ser professora de educação especial para ajudar outras crianças a aprender, assim como foi ajudada por Valéria, que define como uma grande amiga. "Minha carreira ficou completa ao ouvir isso", destacou a professora.

A mãe de Emilly, Maria da Cruz Pinheiro Franco Assunção, disse que a menina se desenvolveu muito desde que ingressou na escola, tanto nos estudos quanto nas relações de amizade. "Confio muito no trabalho da Valéria, ela é um anjo que entrou na vida da minha filha. Uma segunda mãe", apontou.

Emilly, de 11 anos, é aluna de Valéria na E.M.E.F. Oziel Alves Pereira, em Campinas (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Relação

Valéria media o processo de aprendizagem de Emilly desde quando ela ingressou na escola, no 1º ano do ensino fundamental. Neste período, a professora construiu um vínculo especial com a aluna, que cursa o 6º ano atualmente.

"Ela chegou no primeiro ano marcando presença e reivindicando seu espaço. Acompanhei todo o processo de alfabetização da Emilly e no começo ela não queria usar o braille. Aos poucos fomos ajudando ela com a construção de sua identidade e as adaptações."

Emilly aprendeu a utilizar uma Linha Braille, equipamento que possibilita a leitura e escrita em computadores — Foto: Valéria Freitas da Silva Vilanova

A professora conta também que Emilly se adaptou rápido à rotina da escola, principalmente pela receptividade dos colegas. "Alguns meses depois que chegou na escola, ela contou que onde estudava os colegas não brincavam com ela, que a discriminavam com apelidos pejorativos. E disse que gostava muito de onde estava agora porque tinha amigos que a chamavam de linda. Logo que ela chegou, comecei a chamá-la de 'Emilinda' e o apelido pegou entre os colegas"

De acordo com Valéria, o trabalho como articuladora se dá não só com as crianças com alguma deficiência, mas também com o restante da turma.

"O preconceito não vêm com as crianças, muitas vezes é um reflexo dos adultos que estão a sua volta. Quando uma criança vê as outras acolhendo um aluno com deficiência, ela entra nesse movimento", relatou a professora.

A menina revelou ainda que, antes da pandemia da Covid-19, ela gostava de ir à escola para desenhar nas aulas de artes e brincar com os amigos que fez. "Na escola aprendi o braille e gostei muito. Também gosto do recreio e das aulas de artes", disse a aluna.

Emilly frequenta a E.M.E.F. Oziel Alves Pereira, em Campinas (SP), e há seis anos é acompanhada por Valéria — Foto: Valéria Freitas da Silva Vilanova

Atuação

Valéria emendou a formação no magistério, em 2000, ao curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e se graduou em 2005 com especialização em educação especial.

“Trabalhar na Educação Especial em uma escola de periferia representa um compromisso político e social. Dizer para um aluno que tem uma deficiência, vive em uma região periférica e que, muitas vezes, é negro, que ele pode, que é capaz de alcançar o que quiser, isso é um compromisso social.”

Valéria é professora na Educação Especial há 11 anos em escola de Campinas — Foto: Arquivo pessoal

A professora mora em Paulínia e enfrenta diariamente 65 km de distância da escola. Para ela, a satisfação em trabalhar com as crianças fala mais alto do que as dificuldades no trajeto.

"Eles têm necessidades particulares e meu trabalho é adaptar o universo escolar à cada uma delas. Ser professor de Educação Especial é, de mãos dadas, descobrir junto com cada estudante qual o melhor caminho para o desenvolvimento de suas potencialidades", completou.

Valéria promove oficinas para professores sobre como melhorar o ensino para crianças com deficiência — Foto: Arquivo pessoal

*Sob supervisão de Marcello Carvalho

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