Voz dos Oceanos

Voz dos Oceanos

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Mulheres que atuam na preservação de oceanos inspiram e educam nova geração

No coração das vastas extensões oceânicas, há uma sinfonia de vida e mistério, um ecossistema complexo que sustenta a própria existência da vida na Terra. No entanto, os oceanos enfrentam ameaças constantes, desde a poluição até a pesca predatória e as mudanças climáticas. Neste cenário desafiador, surgem vozes corajosas, determinadas a proteger e preservar os tesouros dos mares. Mulheres protagonistas têm se destacado nessa luta, liderando iniciativas notáveis —como a nossa expedição Voz dos Oceanos vem encontrando e dando destaque ao papel fundamental das mulheres na conservação marinha.

É crucial reconhecer a necessidade de apoiar e ampliar esses esforços, garantindo uma representação equitativa das mulheres nas ciências marinhas e na conservação. Ao celebrarmos as realizações das mulheres na proteção dos oceanos, também reconhecemos seu papel fundamental na inspiração e educação das gerações futuras. À medida que se tornam modelos a seguir, estão moldando uma nova geração de defensoras e líderes do oceano.

Essa onda de mudança já chegou, como evidenciado pela tripulação majoritariamente feminina do veleiro sustentável Kat, durante a primeira etapa marítima da nossa Voz dos Oceanos. No sábado, 14 de abril, nossa família celebra 40 anos de aventura. Há quatro décadas, eu embarcava em nossa primeira —e histórica— volta ao mundo ao lado de quatro rapazes: Vilfredo e nossos filhos Pierre, David e Wilhelm.

Na segunda expedição, iniciada em 1997, a tripulação feminina ganhou um lindo reforço: Kat, nossa filha. Até aí, a composição da tripulação era determinada pela composição familiar.

Educação ambiental na Baixada Santista
Educação ambiental na Baixada Santista Imagem: Voz dos Oceanos

Com a Voz dos Oceanos, a jornada é mais diversa e, quando o veleiro Kat atracou na Nova Zelândia, concluindo essa fase inicial da nossa expedição, desembarcaram dois homens (Wilhelm e Alex) e nós (eu, Erika Ternex, Carmina Reñones e Katharina Grisotti).

O mar, que outrora foi dominado por narrativas masculinas, agora conta com histórias contadas por nós, mulheres. E essa narrativa vai muito além da nossa tripulação! Ao longo da nossa expedição, durante dois anos e três meses passando por dez países, encontramos mulheres notáveis que vêm desenvolvendo projetos socioambientais, científicos e de educação.

Como educadora, começarei a destacar alguns exemplos pelo Brasil com a Andrée Vieira, uma figura inspiradora, que traz consigo um legado de compromisso e ação. Sua experiência acadêmica e prática resultou em 32 programas socioambientais desenvolvidos pelo Instituto Supereco em todos os biomas brasileiros. Seu mais recente desafio foi ao nosso lado, como curadora técnico-pedagógica do projeto Educação Ambiental Voz dos Oceanos para a Baixada Santista, reforçando a dedicação dessa mulher em cultivar uma cultura de proteção dos oceanos e sustentabilidade local.

Em um ano intenso de ações, nosso programa —patrocinado pela Santos Brasil— envolveu cerca de 2,7 mil alunos e 750 professores de sete escolas públicas (quatro estaduais e três municipais) do Guarujá. Mas o impacto não se restringiu ao ambiente escolar, impactando indiretamente cerca de 10 mil pessoas e abraçando 23 empreendedores sociais de Economia Circular e 13 OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). A partir dessa iniciativa e dos resultados alcançados, renovamos a esperança por um futuro mais consciente e engajado com a preservação dos mares.

Continua após a publicidade
Voz dos Oceanos e Heloisa Schurmann acompanham o trabalho de pesquisa de Maiara Menezes
Voz dos Oceanos e Heloisa Schurmann acompanham o trabalho de pesquisa de Maiara Menezes Imagem: Voz dos Oceanos

Outro exemplo vivo do poder transformador das mulheres na conservação marinha é a Bia Mattiuzzo —também colunista aqui em Ecoa. Oceanógrafa e fundadora, ao lado do Lucas, da Marulho, ela luta incansavelmente contra a "pesca fantasma", transformando redes de pesca descartadas em novos produtos e promovendo a conscientização sobre a vida marinha. Quando nossa Voz dos Oceanos esteve em Ilha Grande, tivemos a oportunidade de conferir de perto sua ação direta, que beneficia comunidades pesqueiras locais e contribui para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável.

Já em Recife, encontramos uma iniciativa que atende 15 mulheres cooperadas. A partir da capacitação profissional e da produção de itens artesanais feitos com plástico reciclado, elas superam dificuldades financeiras dos tempos de catadoras de rua, com parcos ganhos. Elas formaram a Cooperativa Ecovida Palha de Arroz, em 2018, triplicando sua renda mensal. Hoje, elas promovem a reciclagem criativa e expandiram seus negócios produzindo uma variedade de produtos artesanais comercializados online e em loja física. A transformação dessas mulheres evidencia como o empoderamento pode romper barreiras e promover dignidade através da reciclagem, representando um futuro sustentável e inclusivo.

Um dos destaques na área da ciência foi participar lado a lado de um dia do trabalho da tese da doutoranda Maiara Menezes, que visa analisar a contaminação por microplástico do pescado comercializado no Rio Grande do Norte. Acompanhamos todas as etapas dessa pesquisa de grande relevância: da compra dos peixes frescos no mercado de Natal, passando pela dissecação, até o processamento e análises das amostras no DOL. Os peixes estavam contaminados de microplásticos e, assim, Maiara vem testando hipóteses de impacto direto na sociedade e consequentes prejuízos ao ecossistema marinho e à saúde humana.

Heloisa e Kat Schurmann
Heloisa e Kat Schurmann Imagem: Arquivo pessoal

Navegando ainda por "mares científicos", mas agora em águas internacionais, no Taiti, conhecemos Cécile Gaspar. Em 2004, ela fundou a Te Mana o Te Moana, referência na pesquisa e reabilitação de tartarugas marinhas na Polinésia. No caribe mexicano, María del Carmen García Rivas lidera iniciativas com tecnologia de ponta para restaurar recifes de corais danificados.

Continua após a publicidade

Nossa! São tantas vozes femininas potentes e inspiradoras que se destacam em nossa jornada, que em um único artigo ficaria gigantesco. Mas, a partir dos exemplos acima, outras mulheres deverão ser destacadas nos próximos textos.

Nessas quatro décadas de expedições e aventuras, incluindo três voltas ao mundo completas e uma quarta em andamento a bordo da Voz dos Oceanos, por diversas vezes, venho sendo reverenciada como pioneira e até uma inspiração. Mas o que me deixa feliz mesmo é perceber o crescente aumento de velejadoras como Estela Zanni, Guta Favarato, Izabel Pimentel e Tamara Klink, entre tantas outras mulheres brasileiras do mar.

Também me emociono e me inspiro em tantas vozes potentes e engajadas na proteção dos oceanos, entre elas, Sylvia Earle e seu protagonismo mundial, Bernadete Barbosa, conhecida como a Guardiã de Abrolhos, brasileira exemplo de dedicação à conservação marinha, reconhecida internacionalmente por suas contribuições, e minha filha Kat, pequena-grande ativista, motivação e amor eternos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes