Por Gladys Peixoto, G1 Mogi das Cruzes e Suzano


Falta de professor para cuidar de escola atrapalha projeto em Santa Isabel

Falta de professor para cuidar de escola atrapalha projeto em Santa Isabel

Um projeto que já envolveu mais de 1,5 mil jovens desde 2008 corre o risco de ser reduzido. O Olímpicos de Santa Isabel (OSI) oferece aulas de matemática, física, química e astronomia gratuitamente a estudantes do 6º ao 9 º ano. A iniciativa ajuda os alunos a conquistarem bons desempenhos em olimpíadas e a realizarem o sonho de conseguir uma vaga na universidade no Brasil ou até mesmo em outros países.

Até 2018, as atividades eram realizadas aos domingos na Escola Estadual Professora Maria Santos Bairão, por meio do Escola da Família, com a ajuda de professores voluntários. Mas a coordenadora da iniciativa, Teresinha Lopes Pedroso, conta que as o programa estadual está suspenso na escola. Hoje são 350 vagas no Olímpicos. Para participar, os interessados fazem uma prova. Se precisar mudar de escola, haverá redução para 240 vagas.

O futuro do projeto agora é incerto. “O vice-diretor participava do Escola da Família, mas ele saiu do programa. Segundo ele alegou, o governo reduziu o pagamento para quem participava do Escola da Família de 40 horas aula para 20 horas aula. E isso fez com que a escola que sempre usamos fique fechada aos finais de semana.”

'Olímpicos' ajuda alunos a conquistarem vaga na universidade — Foto: Teresinha Pedroso/Arquivo Pessoal

No programa, as escolas ficam abertas aos fins de semana e oferecem várias atividades. Voluntários e universitários que ganham bolsa na universidade fazem esse trabalho.

A Diretoria de Ensino de Jacareí, responsável por Santa Isabel, afirma que antes a responsabilidade pelas escolas aos fins de semana, durante o Escola da Família, era do vice-diretor e agora passou a ser de um professor articulador, com aulas atribuídas. Das seis unidades com Escola da Família do município, duas estão ainda sem professor e, por isso, com o programa suspenso.

A dirigente Ana Cláudia Maia afirma que o Olímpicos é muito importante e que vai buscar alternativas até a atribuição."A gente precisa conversar com os coordenadores do projeto, ver que espaço físico precisam, de que forma podemos ajudar. É um projeto muito antigo, de sucesso, que contribui bastante para aprendizagem. Já funcionou em escola que não tem o programa", diz.

Voluntários do projeto Olímpicos um dia já foram alunos da iniciativa em Santa Isabel — Foto: Teresinha Pedroso/Arquivo Pessoal

Olímpicos

O projeto começou com o filho de Teresinha, Marco Antônio Lopes Pedroso. Foi ele quem teve a ideia de ajudar outros alunos, depois de ter tido um bom desempenho em olimpíadas do conhecimento e de ter conquistado uma vaga no curso de engenharia e ciência da computação do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o mais conceituado dos Estados Unidos.

Hoje funcionário de uma empresa em Palo Alto, na Califórnia, Marco também fez um mestrado na área no MIT.

Outro filho de Teresinha, Álvaro Lopes Pedroso, se formou pela Universidade de São Paulo (USP) em engenharia e ciência da computação. O mais novo Sávio Lopes Pedroso, de 14 anos, também colabora com a OSI.

Os professores são adolescentes voluntários. No total são 30, que já estudaram na OSI e hoje ajudam a entidade.

Ana Alice de Almeida Santos estudou no Olímpicos por quatro anos e agora, aos 17, passou em uma universidade federal. "O projeto abriu muitas portas. A gente vê o mundo de uma forma diferente, vê muitas oportunidades que a gente naturalmente não enxerga porque não tem exemplos. E a gente tem muitos exemplos dentro do OSI, de pessoas que tiveram vidas incríveis. A gente tenta sempre aproveitar as oportunidades", diz.

De acordo com Terezinha, os participantes têm sucesso em olimpíadas de conhecimento e em bolsas de estudo para escolas e faculdades particulares. "São inúmeros os alunos que seguiram para universidades no exterior, como França, Coreia, Alemanha e Estados Unidos. O Hugo Saraiva que também ajudou a fundar a OSI fez o ensino médio em uma escola pública em Igaratá e passou na USP em São Carlos e agora vai estudar em Paris."

O filho de Sandra de Moraes Oliveira também estudou por meio do projeto e conquistou uma vaga na Unesp. "Aos 12 anos ele já ganhou a primeira medalhinha dele. E dali só foi subindo, galgando e conquistando. Hoje graças a Deus ele está na faculdade, está na Unesp, que é uma faculdade estadual. Conquista dele, passou na primeira chamada", diz. "Saber que esse projeto pode findar é triste", continua.

O sentimento é o mesmo para Wagner Oliveira. "Eu fico muito decepcionado porque não tira nada de ninguém. Só ajuda e está acabando. Além de fechar portas da escola, porque o fechamento da escola [aos fins de semana] acaba com essas oportunidades de surgirem outros projetos como o nosso."

Dilema

Terezinha conta que a Diretoria de Ensino até ofereceu uma outra escola, mas ela não tem a estrutura necessária.

“O projeto sempre funcionou em uma escola estadual da cidade que oferece 14 salas de aula para nós. Na unidade funcionava o programa Escola da Família. Mas agora o programa acabou nessa unidade. E na escola que nos ofereceram são oito salas apenas. Além disso, a quadra da escola fica no meio das salas. Lá os alunos jogam futebol e tem uma mesa de ping-pong. Não dá para ter aulas por conta do barulho”, explica Teresinha.

A prova para selecionar os alunos participantes, porém, continua marcada para 24 de março e os candidatos vão disputar 330 vagas. Teresinha destaca que alunos das redes municipal, estadual e particular podem participar. Eles precisam cursar do 6º ao 9º do ensino fundamental II.

Segundo Teresinha, caso o projeto mude para uma escola menor o número de vagas deve cair para 240.

Outro lado

A Secretaria da Educação informou que o programa Escola da Família não vai acabar, mas está passando por algumas mudanças.

"O programa Escola da Família está passando por uma fase de mudança. Ele está sendo revisto pela secretaria. O novo secretário está propondo um novo eixo, voltado para a aprendizagem. Antes era voltado para trabalho, saúde, atividade esportiva. Continuam os anteriores, mas vai ter mais esse eixo", explica a dirigente regional Ana Cláudia Maia.

A dirigente ainda afirma que antes era o vice-diretor o responsável por cuidar da escola durante as atividades do Escola da Família. Esse profissional ganhava por 40 horas/aula e divida essa carga entre os dias de semana e os fins de semana. Agora a responsabilidade vai ser de um professor articulador, com aulas atribuídas. Serão 20 horas/aula por fim de semana.

"O programa não foi encerrado. Está suspenso. Na hora que atribuir e tiver professor retoma", diz.

Ana Cláudia Maia informou ainda que deve ocorrer uma redução no número de universitários no programa, porque caiu a quantidade de instituições parceiras, mas não tinha os números para passar. O G1 questionou a Secretaria Estadual de Educação e aguarda resposta.

De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, as mudanças no Escola da Família "preveem que a Coordenadoria de Gestão da Educação Básica (CGEB) estabeleça novas diretrizes e acompanhe a execução do cronograma ao longo do ano letivo. As ações serão organizadas pelos professores articuladores, fundamentais para acompanhar as atividades aos sábados e domingos. O trabalho será integrado com as equipes de bolsistas universitários e voluntários, e articulado de acordo com a proposta pedagógica de cada escola.”

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