Por Júlia Montenegro e Pedro Lins, G1 PE e TV Globo


Alunos, professores e especialistas debatem desafios da educação na pandemia

Alunos, professores e especialistas debatem desafios da educação na pandemia

Após mais de um ano do início da pandemia do novo coronavírus, profissionais da educação e estudantes ainda lidam, diariamente, com diversos desafios. Para se ter uma ideia do impacto devastador da Covid-19 na educação, quatro a cada dez jovens matriculados admitem ter considerado deixar os estudos (veja vídeo acima).

Os dados foram divulgados pela Fundação Roberto Marinho, que conversou com 68.114 jovens do país, entre os meses de março e abril, e apontou os impactos da pandemia no processo educacional.

Ausência de estrutura para continuidade das aulas, dificuldade de adaptação ao ensino remoto, perda da convivência com o meio escolar e falta de estudo adequado para o Enem são alguns dos desmotivadores (veja vídeo abaixo).

Ensino híbrido é um dos desafios da retomada na educação por causa da pandemia

Ensino híbrido é um dos desafios da retomada na educação por causa da pandemia

Até a sexta-feira (6), o G1 e a TV Globo mostram, em reportagens, os desafios e o futuro da educação no contexto de pandemia.

Em um ano, é possível notar um grande aumento no número de jovens que não estão estudando: de 26% em 2020, passam para 36% em 2021, sendo que a maior parte deles diz ter parado os estudos durante a pandemia.

Os estudantes dizem que o motivo é a necessidade de ganhar dinheiro. Mas o que os mantêm na escola é a preocupação com o futuro e o ingresso no mercado de trabalho.

Também aparece como um risco para a continuidade dos estudos a questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): aumenta o número de indecisos em relação à realização da prova deste ano e um crescimento na proporção de jovens que já pensaram em desistir do Enem.

De acordo com a Secretaria de Educação do Estado, em 2019, antes da pandemia, foram matriculados, na rede pública estadual, 572.337 alunos. Em 2020, esse número caiu para 551.201 alunos. Foram 21.136 estudantes que deixaram a rede estadual porque mudaram para escola particular, porque concluíram o Ensino Médio ou porque abandonaram a escola.

Segundo a Secretaria de Educação do Estado, este ano, o número de alunos matriculados na rede estadual foi de 560.658. Se comparar com o número de matriculados antes da pandemia, são 116.79 estudantes que não estão mais nas escolas estaduais.

João Lucas Luna Martins, de 17 anos, estuda na Escola Luiz Delgado, no Recife: 'Muitos alunos não têm interesse' — Foto: Reprodução/TV Globo

Com a privação do ensino presencial, professores e alunos do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Luiz Delgado, no bairro da Boa Vista, na área Central do Recife, refletiram sobre a drástica mudança na rotina, sobre a adaptação aos novos formatos de ensino e sobre como deveria ser uma aula.

Para João Lucas Luna Martins, de 17 anos, o modelo de aula deveria ser diferente. “A aula deveria ser diferente porque, hoje, a maior dificuldade do ensino é chamar os alunos. Infelizmente, muitos alunos não têm interesse”, disse.

De acordo com Maylon Bernardo Silva, também de 17 anos, as aulas deveriam ser mais dinâmicas. “Eu acho que os professores poderiam trazer coisas atuais como slides, vídeos e aplicativos para ser uma aula diferente do comum, para que a gente pudesse se envolver na aula, com debate e afins", afirmou.

No entanto, alguns educadores conseguem se destacar na hora de prender a atenção dos alunos e, quando isso acontece, o elogio sai na hora.

"Ela é perfeita, faz tudo e é muito criativa. Ela dança, faz paródia, canta. Ela incentiva a gente a estudar todos os dias e não ter aquela aula monótona, que é chegar, escrever, copiar e pronto", diz Izabely Bento, de 17 anos.

Manuela Jesus Barbosa é professora de biologia e utiliza redes sociais para prender a atenção dos alunos — Foto: Reprodução/TV Globo

A educadora a quem Izabely se refere é a professora de biologia Manuela Jesus Barbosa. Em oito anos de sala de aula, Manu, como é conhecida pelos alunos, nem imaginava que ia se lançar nas redes sociais para conquistar a turma. Ela aderiu ao Instagram e ao TikTok e passou a utilizar das ferramentas de vídeo deles.

“Eu já tinha afinidade com a tecnologia, mas, dificilmente, acessava as redes sociais. Na pandemia, eu queria estar onde os alunos estavam e decidi criar as contas. Eu queria que o conteúdo chegasse, de forma leve, até eles para que despertasse esse interesse e estabelecesse esse vínculo com a escola”, conta.

Mas, mesmo assim, a pandemia afastou muitos estudantes das escolas e das aulas. A especialista em educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) Brasil, Verônica Bezerra, tem estudado o comportamento dos jovens e os motivos pelos quais eles estão deixando a escola.

"É como se não houvesse um encontro entre os sonhos dessas juventudes brasileiras e aquilo que a escola oferece como alternativa, como projeto e para alavancar as competências que esses meninos e meninas têm e desejam. Não é que a juventude não deseje a escola. É que ainda não houve um encontro que patrocinasse e potencializasse essas duas coisas", dispara Verônica Bezerra.

Verônica Bezerra é especialista em educação do Unicef — Foto: Reprodução/TV Globo

O secretário de Educação e Esportes de Pernambuco, Marcelo Barros, reconhece os problemas ocasionados por conta da pandemia.

"É uma das piores e uma das consequências mais nefastas da pandemia. É que nós temos uma geração de estudantes marcadas pela pandemia e teremos que ter um esforço em todo o mundo educacional, esfera federal, esfera estadual, esfera municipal, para que a gente consiga ir atrás, correr atrás do prejuízo.

Marcelo Barros é secretário de Educação e Esportes de Pernambuco: 'é uma das consequências mais nefastas da pandemia' — Foto: Reprodução/TV Globo

É exatamente para driblar isso que o jeito de dar aula na Escola Estadual Luiz Delgado, no bairro da Boa Vista, na área Central do Recife, tem o foco em ouvir o aluno. Para além dos dados e estatísticas, estão as pessoas que lidam, diariamente, com as adversidades na educação brasileira, antes mesmo da pandemia do coronavírus.

Segundo a gestora da Escola Luiz Delgado, Maria de Fátima Tavares Ramos, nada melhor do que jovem motivando jovem.

"Nós acreditamos que quando você se envolve, quando é protagonista da própria história e quando faz aquilo que gosta e está motivado todo o dia a fazer parte daquele grupo, você se engaja muito mais. Então, quando aquele menino tímido começa a se fazer presente em um grupo e onde, mesmo com a timidez, ele tem papel e função, ele sente vontade de mudar. E ele se envolve. Quando a gente está envolvido no processo, as coisas acontecem melhor", diz.

Maria de Fátima Tavares Ramos é gestora da Escola Luiz Delgado, no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

De acordo com o sociólogo Hugo Régis, o papel da educação é o de acolher. “Acontece muita coisa lá fora, mas, dentro da escola, nosso espaço é o de acolher. A escola sempre foi um espaço acolhedor. Se você observar as instituições sociais que existem no país, a escola é o único estado que existe autonomia”, diz. Para Reis, a pandemia serviu para pensar em alternativas para acolher o estudante.

A mensagem que fica dos especialistas é uma só: é importante ouvir estudantes, educadores e quem mais estiver lidando, diariamente, com os efeitos da pandemia na educação para que políticas públicas sejam eficazes. Entender as demandas dessas pessoas ajuda a definir quais caminhos seguir daqui em diante.

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