Rio Bairros

Movimento global que aborda moda sustentável chega a Niterói

Segundo especialistas, o consumo consciente veio para ficar

Parte da turma que participará do evento: à frente, Juliane Machado; depois, a partir da esquerda, no sentido horário, Gabriel Alves, Andrea Santana, Thayani Damiani, Raphael Coelho, Taisa Torelli, Suzana Moura e Dayana Molina
Foto: Agência O Globo / Analice Paron
Parte da turma que participará do evento: à frente, Juliane Machado; depois, a partir da esquerda, no sentido horário, Gabriel Alves, Andrea Santana, Thayani Damiani, Raphael Coelho, Taisa Torelli, Suzana Moura e Dayana Molina Foto: Agência O Globo / Analice Paron

A atriz americana Anne Hathaway, protagonista do filme “O diabo veste Prada”, foi destaque esta semana em importantes revistas de moda do mundo, como a “Vogue Brasil”, por estar usando, num programa de TV, um vestido de brechó de R$ 46, e declarar que está tentando ser mais sustentável em suas escolhas de roupas. Mas ela não é a única. O caminho de consumo consciente já é uma realidade em vários grupos, de famosos ou não. Segundo especialistas, a moda sustentável é uma tendência que veio para ficar. Por isso, se seu closet está cheio de peças que você só usou uma vez ou nem se lembra de que existem, talvez seja a hora de dar um novo significado a elas. Mais uma prova de que esse estilo de moda está em alta é o movimento Fashion Revolution Week, que acontece em mais de 90 países simultaneamente e veio este ano para Niterói.

O movimento foi criado com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto em todas as fases do processo de produção e consumo. A hashtag oficial do evento “#Quemfezminhasroupas?” sugere que as pessoas se perguntem sobre isso e as marcas respondam, nas redes sociais, em que condições as peças foram confeccionadas.

Para pensar sobre essas questões e promover o movimento sustentável, Niterói terá uma série de atividades gratuitas que acontecerão a partir desta segunda-feira na Faculdade Anhanguera, no Campus Amaral Peixoto. Na programação, palestra sobre o consumo consciente e novas tecnologias; rodas de conversas sobre variados temas, como o atual cenário da moda e as futuras diretrizes e ressignificação de resíduos. Além de oficina de acessórios reaproveitados; bazar de trocas; cine fashion, com a exibição de um documentário, debates e apresentação de novos designers locais e marcas sustentáveis. Para finalizar a agenda, será realizado um desfile, quinta-feira, último dia do evento.

O Fashion Revolution Week 2017 tem como tema Money Fashion Power (em português, dinheiro, moda e poder), que levanta a reflexão sobre quem ganha e quem perde na distribuição das riquezas geradas por esse sistema. A stylist e designer Dayana Molina, que trouxe o movimento para Niterói, acredita que a temática foi escolhida porque a moda é uma ferramenta de transformação social e econômica. Ela ressalta que o projeto propõe uma mudança na forma como a moda é vista e sobre a maneira de usufruir dela.

— Falar de consumo consciente vai muito além de comprar uma roupa “ecologicamente correta”. Envolve a transparência na indústria da moda, questiona o consumo, indaga em que condições sua roupa foi feita. Esse questionamento só existe porque pessoas ainda sofrem com a exploração em diversas partes do mundo. Podemos citar China, Bangaladesh, Vietnã... e por que não Jardim Catarina, em São Gonçalo? Essa realidade é mais comum e frequente do que imaginamos. A moda não é só a parte bonita. O bom senso, o equilíbrio e o respeito pelo próximo definem muito bem a nossa ação — explica Dayana.

A stylist frisa que não faz apologia ao não consumo, mas sim ao consumo consciente, que vem ao encontro do movimento slow fashion (em português, “moda lenta”).

— É uma tendência, que na verdade é um estilo de vida. Eu passei por essa mudança há alguns anos e comecei a me relacionar com as peças de uma outra forma. O que não é mais novo para mim pode ser novo para uma outra pessoa. A intenção é frear essa produção massiva, além de dar espaço ao pequeno estilista — diz.

A coordenadora do curso de design de moda da Anhanguera Taisa Torelli completa:

— É fundamental trazer essa reflexão tão importante para o ambiente escolar, já que os alunos é que vão fazer a moda amanhã.

TRANSPARÊNCIA NA MODA

O Fashion Revolution foi concebido em 2014 por um conselho global de líderes da indústria da moda sustentável que se uniram depois do desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, no dia 24 de abril de 2013, que deixou 1.133 mortos e 2.500 feridos. O prédio abrigava cinco fábricas têxteis que produziam vestuário em massa para 28 fast-fashion, como a holandesa C&A e as espanholas Zara e Mango. A tragédia no país com a segunda maior a indústria têxtil, perdendo apenas para a China, trouxe à tona a falta de transparência no processo de fabricação da moda. Entre as acusações estariam trabalho infantil e escravo e condições insalubres de trabalho. O Fashion Revolution chegou à capital do Rio no mesmo ano em que foi criado, assim como em São Paulo e em Belo Horizonte e hoje está em praticamente todas as capitais do Brasil.

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