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Modernizar a educação para seguir inspirando

Por Melina Sanjar
Atualização:
Melina Sanjar. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Mesmo com o arrefecimento da pandemia de Covid-19 e o ritmo de retorno às aulas presenciais cada vez mais acelerado, pesquisas já apontam que teremos, dentro de poucos anos, gerações mais desiguais socioeconomicamente devido aos prejuízos causados pela crise sanitária.

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Essa antecipação de cenário vem sendo alvo de diversos estudos, a exemplo da fala do economista Ricardo Paes de Barros, coordenador da Cátedra Instituto Ayrton Senna, durante o evento "Uma pandemia de desigualdade: perspectivas críticas do Brasil e dos EUA", realizado pelo Brazil LAB, da Universidade de Princeton (EUA). O especialista abordou dados importantes que revelam uma estimativa na perda com educação remota neste período de, em média, 20%, o que levará esses jovens a uma possível redução de rendimentos capazes de impactar em cerca de 9% o PIB (Produto Interno Bruto), contando com valores atuais.

Já a pesquisa "Aprofundamento das desigualdade: Crianças, adolescentes e jovens na América Latina em pandemia", da Interpaz, e que levou em consideração realidades do Brasil, Colômbia, Nicarágua e El Salvador, alerta que fatores como as limitações de acesso à internet e a queda na renda familiar tiveram consequências no abandono dos estudos por milhões de jovens no mundo - entre esses, 11 milhões de meninas -, seja para complementação do orçamento, na maioria das vezes por meio de empregos precarizados, ou para divisão de tarefas domésticas para que os adultos possam buscar outras fontes de subsistência fora de casa.

Antes deste intervalo inesperado provocado pela pandemia, que beira os dois anos, já estava em curso no Brasil, e em processo inicial de implantação, as novas diretrizes para o Ensino Médio, cujos objetivos indicados são trazer o jovem para o centro das conversas e tomadas de decisões sobre sua própria educação, ampliar as matrículas de formação técnica e profissional e estabelecer uma relação de mais liberdade de itinerário, com o oferecimento de oportunidades de carreiras e de vida para o desenvolvimento de cidadãos mais autônomos, dentre outros.

Fazer o Novo Ensino Médio funcionar, neste primeiro momento, está em trazer os principais interessados nesta construção - os jovens - para discutir suas expectativas, dividir suas angústias e tornar o ambiente escolar mais acolhedor, motivador e inspirador. É primordial a contribuição desses alunos enquanto cidadãos, tornando-os preparados para os problemas complexos que a sociedade enfrenta e os impõe. Esse preparo pode ser feito, sim, aliado à formação profissional, sem deixar de lado o olhar humano, buscando um equilíbrio salutar entre todas as áreas de conhecimento ao longo dos três anos de curso.

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É preciso apresentar possibilidades de eles serem donos de seus próprios destinos, com ferramentas disponíveis dentro da escola. Saber que muito mais do que abrir portas para vagas de emprego, a educação abre portas para que possam expandir suas mentes para novas possibilidades de atuação e mobilização no mundo do trabalho, criando soluções disruptivas para problemas reais.

Dentro deste aspecto vale ressaltar como a integração à formação técnica integrada ao Ensino Médio proporciona experimentações de situações do mundo do trabalho, de forma a habilitar para um ingresso mais consciente na profissão desejada. Esta é, inclusive, uma demanda cada vez mais em alta dentro das empresas, de acordo com o levantamento "Competências e empregos - Uma agenda para a juventude", do Banco Mundial: receber profissionais cada vez mais completos não somente em competências técnicas, mas socioemocionais e cognitivas.

Um exemplo de sucesso já acontece nos países da União Europeia, onde mais de 40% dos estudantes já cursam o ensino técnico durante o ensino médio, segundo a pesquisa "Education at a Glance 2021" (encomendada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE). Existem casos de sucesso em instituições ao redor do mundo, cada qual conectada à sua realidade socioeconômica, mas todas voltadas ao futuro e ao protagonismo do estudante.

Se antes ter ao alcance essa gama de possibilidades estava restrita às famílias com maior poder aquisitivo ou a países mais desenvolvidos, já existem bons exemplos de democratização de ingresso a uma formação mais moderna e alinhada ao Novo Ensino Médio por aqui mesmo. Aliás, este será o grande ganho do realinhamento deste nível de ensino: levar mais possibilidades a mais pessoas.

O caminho é longo, passa por uma rede de iniciativas público-privadas em relação à reestruturação das escolas, formação e atualização constante do corpo docente, debruçar-se de forma consciente sobre como cada área do conhecimento pode ser aplicada de forma a fazer sentido prático na vida do estudante e, acima de tudo, inspirá-los a seguir seus caminhos por meio da educação.

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*Melina Sanjar é gerente de desenvolvimento e responsável pelo Ensino Médio Técnico do Senac São Paulo

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