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Por Editorial

A cada ano, 500 mil jovens com mais de 16 anos abandonam a escola no Brasil. A evasão, tratada como “tragédia silenciosa” em estudo da Firjan e do Sesi, pune os menos favorecidos e aprofunda a desigualdade. Entre os alunos mais pobres, menos da metade conclui os estudos (54% largam). Entre os mais ricos, a evasão escolar atinge apenas 6%.

O resultado mostra a relevância da reforma do ensino médio aprovada em 2017, cuja implementação foi suspensa pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em meio a um debate histérico e pouco produtivo. Um dos principais objetivos da mudança é justamente aumentar a carga horária e readequar o currículo para melhorar a formação técnica e profissional, de modo a contribuir com o projeto de vida do aluno e evitar que ele tenha de largar o estudo para trabalhar.

É verdade que são necessários ajustes para alcançar as metas, mas seria um erro gravíssimo abandonar a reforma e manter o quadro lastimável descrito pelos pesquisadores, como querem setores do PT, sindicatos, organizações estudantis e a extrema esquerda. É evidente que uma escola que não consegue reter os alunos não funciona.

O estudo, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), demonstra que a situação atual perpetua a pobreza. Os estudantes que ficam pelo caminho recebem salário 25% menor e vivem três anos a menos. Quando os índices de evasão são comparados aos de países em estágio similar de desenvolvimento, fica claro o atraso. No Brasil apenas 60,3% concluem o ensino médio até 24 anos, ante 67,8% no México, 74,9% na Costa Rica, 75,2% na Colômbia e 93,4% no Chile. Se a evasão aqui fosse igual à chilena, o país deixaria de perder R$ 135 bilhões por ano em custos associados.

São várias as causas apontadas para a debandada: repetência, distorção entre idade e série, falta de engajamento, dificuldades econômicas e falta de projeto de vida. A pandemia também é citada como agravante. No Brasil, as escolas ficaram fechadas 40 semanas, ante 29 na média de outros países. Sem ter como seguir aulas on-line, muitos alunos foram prejudicados.

Entre as boas práticas na área, o estudo cita exemplos do Canadá — onde um programa oferece, além de auxílio financeiro mensal, apoio para o projeto de vida e recuperação da aprendizagem — e de Nova York, que oferece a jovens de 14 a 24 anos atividades profissionais remuneradas e oportunidades de carreira.

A entrada em vigor da reforma do ensino médio apenas expôs problemas existentes, como falta de infraestrutura das escolas, deficiência na formação dos professores e dificuldade dos alunos mais vulneráveis em acompanhar as aulas. Mas eles não surgiram agora. O governo precisa fazer os ajustes necessários — como recalibrar a carga horária, dedicando mais tempo para as disciplinas básicas —, mas é essencial seguir em frente com a reforma. Seria um retrocesso manter o atual modelo de ensino médio, que exclui os alunos que mais precisam dele.

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