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Mizael Pereira: o paradoxo dos indicadores de educação e violência
Opinião

Mizael Pereira: o paradoxo dos indicadores de educação e violência

O Ceará vem se destacando ano após ano em aspectos educacionais e declinando fortemente nos de segurança pública
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O tema educação é exaustivamente discutido na escola, nas rodas de conversa, nas universidades. Nos foi ensinado, e naturalmente compramos a ideia, que a educação é a solução para diversos problemas de ordem social. Para desigualdade, miséria e falta de oportunidade: educação, educação e educação. Marginalização, alienação, corrupção: idem. Um fenômeno, porém, intriga no estado do Ceará. Na contramão do que se pensa acerca da influência da educação sobre a problemática da violência, o Ceará vem se destacando ano após ano em aspectos educacionais e declinando fortemente nos de segurança pública.


A última pesquisa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), com dados relativos a 2015, enche qualquer cearense de orgulho: das 100 melhores escolas de ensino básico no Brasil, 77 são cearenses. O Ceará ultrapassou — e muito — a média do Nordeste para leitura, escrita e matemática segundo dados do Ministério da Educação por meio da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) em 2016. Além disso, o Estado, que já é referência nos vestibulares mais concorridos, expande rapidamente o número de vagas em escolas de tempo integral. A evasão escolar em todos os níveis de ensino nunca foi tão baixa. Como, então, explicar a violência extrema vivida em terras alencarinas?! Dados do Unicef mostram que o estado do Ceará é onde se concentra a maior quantidade de mortes violentas a adolescentes no Brasil.


Fortaleza está no ranking das cidades mais violentas do planeta, segundo levantamentos internacionais. A taxa de homicídio é crescente, acumulando, só em setembro deste ano, alta de mais de 200% na Região Metropolitana de Fortaleza, quando comparado ao período anterior. É um verdadeiro contrassenso. Continuamos acreditando que a educação, e somente ela, detém o poder de mudar a realidade nacional em vários segmentos e, em especial, na segurança pública.


É razoável seguir acreditando que a escola é o instrumento capaz de transformar estatísticas de violência em índice de desenvolvimento humano. Infelizmente, não sabemos exatamente como e em quanto tempo o efeito educação passa a ser palpável, perceptivo na rotina frenética das grandes cidades. O fenômeno Ceará, contudo, demanda observação, acompanhando e avaliação. Aqui, mais educação, aparentemente, não vem apresentando associação com menos violência. O cenário não é claro ainda. Ao aguardar uma melhor interpretação do que realmente está acontecendo, seguimos acreditando que o conhecimento continua sendo o caminho.

 

Mizael Pereira

mpcfortal@gmail.com
Professor e servidor público estadual
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