O reitor da Universidade Nacional de Rosário, Franco Bartolacci, afirmou nesta sexta-feira que o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva, não concluiu o doutorado na instituição argentina. O novo ministro registrou em seu currículo lattes que é doutor em administração pela universidade, mas o reitor afirmou que a tese de Decotelli foi reprovada. “Creio que foi um erro de comunicação. Se não foi isso que aconteceu, então será uma falta muito grave”, disse o reitor ao Valor.
Bartolacci afirmou que a instituição está avaliando se tomará alguma medida legal contra Decotelli por ter divulgado uma informação falsa. O reitor disse que não quer fazer “juízo de valor”, mas demonstrou irritação com a atitude do novo ministro.
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o novo ministro pelo Twitter e divulgou a informação de que Decotelli é doutor pela Universidade Nacional de Rosário.
O reitor, no entanto, afirmou que Decotelli cursou as disciplinas na universidade, mas a tese foi avaliada negativamente e reprovada.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Educação enviou um certificado da Universidade Nacional de Rosário que afirma que Decotelli “cursou a totalidade das disciplinas de doutorado em administração da Faculdade de Ciências Econômicas e Estatística”. O documento é de 7 de fevereiro de 2009. O MEC, no entanto, não respondeu à reportagem se o ministro concluiu o doutorado, apesar de o reitor ter afirmado que não. O ministério também não respondeu se Decotelli vai fazer alguma alteração no currículo lattes.
O novo ministro informou que fez o doutorado entre 2007 e 2009, e que o título da tese é “Gestão de Riscos na Modelagem dos Preços da Soja”, orientada por Antonio de Araújo Freitas Jr. A última modificação no currículo lattes aconteceu nesta sexta-feira.
O MEC também não esclareceu como o ministro fez pós-doutorado na Alemanha se não concluiu o doutorado. No currículo lattes, Decotelli escreveu que fez o pós-doutorado entre 2015 e 2017 na Universidade de Wuppertal. Ao descrever seus conhecimentos de alemão, o ministro disse que lê, fala e escreve razoavelmente o idioma, mas compreende. Na língua inglesa, afirmou que fala e escreve razoavelmente, mas lê e compreende bem.
A reportagem tentou falar com a assessoria do CNPQ para buscar uma resposta sobre as informações divergentes no currículo lattes, mas não conseguiu contato até a publicação desta nota.
Terceiro ministro
Anunciado ontem para o MEC, Decotelli é o terceiro a comandar a Pasta no governo Jair Bolsonaro, depois da demissão de Abraham Weintraub e de Ricardo Vélez. O novo ministro é oficial da reserva da Marinha e tem apoio dos militares. No ano passado, comandou por seis meses Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia ligada ao MEC, com um orçamento estimado em mais de R$ 55 bilhões e que é responsável por financiar programas da educação básica pública nos municípios, como transporte e infraestrutura escolar.
Decotelli deixou o cargo uma semana depois que a Controladoria-Geral da União (CGU) apontou irregularidades em edital de R$ 3 bilhões de um pregão para a compra de equipamentos de tecnologia educacional. Uma escola de Itabirito (MG), por exemplo, com 255 alunos, receberia 30.030 laptops. Desde o começo do mês, o FNDE está sob o comando do Centrão. O presidente da entidade é Marcelo Lopes da Ponte, que trabalhava como chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI).