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Ministério da Educação segue sem comando

Ministério da Educação segue sem comando

Mais uma semana começa sem que o Brasil tenha um titular no Ministério da Educação. Desde a saída de Abraham Weintraub, há 18 dias, a pasta está sem comando.

A dança das cadeiras no MEC sempre teve um forte tom ideológico. O fim de semana foi marcado por mais um capítulo. O secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, anunciou em uma rede social que estava recusando o convite para ser ministro.

A fritura dele começou dias antes, quando ainda não havia um convite oficial. Feder foi bombardeado de um lado pelo chamado grupo ideológico do governo, formado por radicais bolsonaristas com atuação intensa nas redes sociais. De outro, pelos evangélicos ligados ao governo que querem manter no Ministério da Educação alguém que atenda à pauta de costumes deles.

Em entrevista à GloboNews, o presidente da Câmara criticou, neste domingo (5), a campanha contra Renato Feder. “Quer dizer, hoje um teve que dizer que estava desistindo do ministério porque estava sendo fritado nas redes sociais. Quer dizer, uma coisa lamentável. É um quadro parece - eu não conheço -, mas parece de qualidade. Talvez se convidado, pudesse ser um bom ministro. Agora, os lunáticos conseguem prevalecer em um debate onde a racionalidade devia ser a principal palavra de um Ministério da Educação”, destacou Rodrigo Maia.

Desde o início do governo, assuntos relacionados a costumes e doutrinas ganharam destaque, e a condução de políticas educacionais foi deixada de lado, o que provocou muitas críticas. O primeiro ministro da Educação do governo Bolsonaro, Ricardo Velez Rodrigues, caiu depois de perder o apoio da ala mais ideológica. Foi ministro por apenas três meses.

Abraham Weintraub recebeu críticas de quase todos os setores educacionais do país, mas como tinha com forte apoio do grupo ideológico, se segurou no cargo até criar um mal estar com o Supremo Tribunal Federal após dizer que, por ele, “mandaria prender todos os vagabundos” e completou: “Começando no STF”.

Carlos Alberto Decotelli não tinha apoio do grupo. Até recebeu elogios por isso. Contava com o respaldo dos militares do governo, mas com os furos descobertos no currículo, não chegou sequer a assumir o cargo.

Entre profissionais e especialistas em educação, há um consenso: o MEC virou um gerador de crises, dúvidas e insegurança. Eles cobram mais ação e clareza da pasta em questões urgentes: a data para a realização do Enem; o debate para renovar o Fundeb, o fundo que investe dinheiro público para melhorar o ensino básico no país e que precisa ser votado no Congresso até o fim de 2020 se não acaba; a implantação da Base Nacional Curricular e a estratégia para a volta das aulas nas escolas públicas e universidades.

A presidente do Conselho Nacional de Educação ressalta que a educação tem que ser tratada sem ideologia e pede mais compromisso com o ensino. “Nós precisamos de ações práticas, algumas urgentes; outros menos urgentes, mas também fundamentais para garantir o ano que vem; e outras mais de médio e longo prazo, como é o caso da formação de professores, o redesenho das avaliações educacionais do país. Na hora que o ministério da Educação desorganiza, isso tem um impacto muito grande nas políticas educacionais brasileiras”, avalia Maria Helena Guimarães.

O diretor-executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, alerta para a importância de um ministro com capacidade de ação, de ouvir e conversar: “É muito importante que a gente tenha alguém com liderança, com compromisso com a aprendizagem, que tenha compromisso com fazer, apoiar os estados e municípios, dialogar com a sociedade, e se basear em evidências. Conseguir trazer o que está funcionando em outros países, o que funciona bem dentro do Brasil pra que isso possa ganhar mais centralidade”, destaca.

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