Brasil Educação Enem e vestibular

Milton Ribeiro atribui debandada de 37 servidores do Inep a pagamento de gratificação

Ministro da Educação nega interferência de Bolsonaro na prova, mesmo após declarações do presidente em Dubai de que a prova terá a "cara de seu governo"
O Ministro da Educação, Milton Ribeiro, vem recebendo críticas de ex-integrantes da pasta Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O Ministro da Educação, Milton Ribeiro, vem recebendo críticas de ex-integrantes da pasta Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Educação, Milton Ribeiro, negou nesta terça-feira as denúncias de interferência política na elaboração da prova do Enem, que será realizada nos dias 21 e 28 de novembro. E atribuiu a crise interna no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável por aplicar o exame, a uma "questão administrativa, de pagamento ou não de gratificação".

— Quando a gente vê toda essa discussão às vésperas do Enem. Nada com educação, nada com as provas, tudo a ver com a questão administrativa, de pagamento ou não de gratificação — afirmou ele.

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O ministro se referia ao pedido de demissão entregue por 37 servidores do Inep, no início de novembro, alegando "fragilidade técnica e administração da atual gestão do Inep".

Mais tarde, em visita a deputados na Câmara, Ribeiro deu mais detalhes sobre o que considera ser a questão que motivou as reivindicações.

— A questão esbarra em outro tema, que será discutido a posteriori, que é a questão do GECC, que é a gratificação por cursos, quem deve e quem não deve (ganhar). Isso fez com que alguns funcionários, merecidamente e corretamente, recebessem até R$ 70 mil, R$ 80 mil por ano de salário a mais. Esse que é o ponto que está sendo discutido. A questão não é educacional, com todo o respeito que eu tenho. A questão é econômica. Desses 37 que assinaram o pedido, 35 recebiam GECC —  disse o ministro.

Ele afirmou ainda que o caso do Inep não vai atrapalhar a realização do Enem.

— As provas estão impressas há três meses. Está tudo encaminhado. Em nenhum momento, nem o presidente da República, o presidente do Inep ou o ministro interferiu na escolha das perguntas. Todas elas foram escolhidas por esses que estão pedindo para sair, inclusive.

Em reportagem do Fantástico neste domingo, parte desses funcionários relataram tentativas de interferência durante a produção da prova, como o acesso de um agente da Polícia Federal a uma área restrita do Inep e pedidos de mudanças em perguntas que tratavam da "história recente do país".

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Ribeiro reiterou que houve "zero interferência" no Enem, garantiu a sua realização neste domingo e comentou a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que as questões do exame "começavam a ter a cara do seu governo".

— A prova vai ter a cara do governo, sim, de seriedade e honestidade e de fazer as coisas com o máximo de competência possível — disse o ministro, dando um novo sentido à frase do presidente.

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Diante da crise interna instalada no MEC, Ribeiro teve uma reunião nesta terça-feira com o ministro da Justiça, Anderson Torres, para discutir os procedimentos de segurança na aplicação do exame. O encontro durou cerca de 30 minutos e também contou com a presença do presidente do Inep, Danilo Dupas.

O ministro voltou a dizer que, apesar de ser "autoridade", não teve acesso às provas. - Nem eu, nem o presidente do Inep, muito menos o presidente da República.

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados pretende convocar nesta semana o ministro a dar maiores explicações sobre a debandada dos servidores do Inep.