Um levantamento do instituto Datafolha, divulgado neste domingo, mostrou que 50% dos brasileiros são a favor das cotas raciais em universidades públicas. Entre os entrevistados, 34% se posicionaram contra. Outros 3% se mostraram indiferentes e 12% não souberam responder.
Ainda segundo a pesquisa, o apoio às cotas é maior entre os mais jovens, escolarizados e com maior renda. Pessoas pretas também tendem a concordar mais com a política afirmativa (53%), seguidas das pardas (52%) e dos brancos (50%).
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O levantamento ouviu 2.090 pessoas a partir de 16 anos em 130 municípios, entre 8 e 14 de março deste ano. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A análise foi feita pelo jornal "Folha de S.Paulo", em parceria com o Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Universidade Estadual de Campinas, sob a coordenação da Ação Educativa e do Cenpec.
Ao todo, cerca de 60% dos brasileiros com filhos que estudam em escolas particulares, que não são beneficiados pelo mecanismo, apoiam a ação afirmativa. Entre os pais de filhos em escolas públicas, o índice cai para 50%. Esse último grupo também tem a maior falta de opinião sobre o tema: 11% desse grupo dizem não saber opinar sobre a questão, contra 3% no outro grupo.
Outro ponto analisado na pesquisa foi a aprovação às cotas entre os eleitores. O resultado apontou que o apoio é maior entre pessoas que consideram o governo Bolsonaro péssimo (57%) do que entre aqueles que avaliam seu desempenho como ótimo (31%).
Combate à discriminação racial
A pesquisa Datafolha também fez perguntas sobre a abordagem da discriminação racial nas escolas e relacionadas às crenças religiosas. A maioria dos entrevistados (81,4%) concorda totalmente que a discriminação racial deve ser discutida nas escolas. O respeito a todo tipo de crença e prática religiosa na escola pública, incluindo o candomblé, a umbanda e as pessoas que não têm religião, é apoiado por 93,7% da população.
Cotas raciais no Brasil
A primeira universidade brasileira a reservar vagas com cotas foi a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 2003. No mesmo ano, a Universidade de Brasília (UnB) seria pioneira a ter cotas raciais. A Lei de Cotas, que implementou a reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas só veio a ser sancionada no país em 2012. A partir dela, todas as universidades federais passaram a adotar a ação afirmativa de forma escalonada.
Em 2016, as cotas raciais passaram a ser parte da reserva de 50% das vagas para alunos que cursaram todo o ensino médio em escola pública. O preenchimento dessas vagas segue a mesma proporção da população de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência do estado onde fica a instituição de ensino, seguindo os dados do censo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Uma das conquistas obtidas com apoio das cotas foi o aumento do número de matrículas de estudantes negros e pardos nas universidades e faculdades públicas no Brasil. Segundo uma pesquisa de 2019 do IBGE, a presença de negros na graduação ultrapassou, pela primeira vez, a de brancos, representando 50,3% dos estudantes. Contudo, embora representem hoje mais da metade dos discentes, esse grupo ainda permanece sub-representado já que corresponde hoje a cerca de 56% da população brasileira.
A pesquisa revelou ainda que a população negra e parda está melhorando seus índices educacionais, tanto de acesso como permanência. O abandono escolar diminuiu de 30,8%, em 2016, para 28,8% em 2018. Entre a população preta ou parda de 18 a 24 anos que estudava, o percentual cursando ensino superior aumentou de 50,5%, em 2016, para 55,6% em 2018.
Por completar 10 anos de existência esse ano, a Lei de Cotas deve passar por revisão até agosto. Parlamentares defensores da medida têm receio de que o debate em meio à campanha eleitoral provoque "retrocesso". Eles defendem o adiamento da revisão, conforme divulgou o G1.