Mesmo após revisão, material didático do governo Tarcísio continua com erros

OUTRO LADO: Secretaria da Educação de SP diz que aprimorou processos e já conferiu 30 mil slides, após Justiça determinar que aulas fossem retiradas do ar

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São Paulo

O material didático do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) continua sendo distribuído para as escolas com erros conceituais, mesmo após a Secretaria de Educação paulista ter anunciado que faria uma revisão adicional das aulas.

No último dia 6 de setembro, a pasta comandada por Renato Feder encaminhou um comunicado a todas as escolas dizendo que, "na busca pela garantia da qualidade do material produzido para o 3º bimestre" todas as aulas, de todos os componentes curriculares dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e ensino médio seriam revisados.

O anúncio ocorreu dois dias após a Justiça determinar, em decisão provisória, que as aulas com erros fossem retiradas do ar em um prazo de 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento.

Material didático do 6º ano com erro conceitual
Material didático do 6º ano com erro conceitual, texto fala sobre o uso de lente convergente para corrigir a hipermetropia, mas a imagem apresentada aos alunos é de uma lente divergente - Reprodução

A secretaria orientou os professores a baixarem uma nova versão do material a partir da última segunda-feira (11), quando já teria sido concluída a revisão adicional.

Mesmo na nova versão, professores das escolas estaduais continuam a encontrar erros conceituais no material programado para ser usado no 3º bimestre. Em um deles, por exemplo, na aula de "defeitos da visão" para alunos do 6º ano, o texto fala sobre o uso de lente convergente para corrigir hipermetropia, mas a imagem apresentada aos alunos é de uma lente divergente.

Em outra aula, no material de matemática do 8º ano, um exercício afirma que há um triângulo equilátero (todos os lados com a mesma medida) inscrito em um quadrado —o que não é possível e é comprovado pelo teorema de Pitágoras.

Em nota, a Secretaria de Educação disse que todos os procedimentos de revisão da Coordenadoria Pedagógica (área responsável pela elaboração do material) foram intensificados para aprimorar a qualidade das aulas e que já foram revisados 30 mil slides que pela programação da pasta devem ser usados em setembro nas escolas.

Material de matemática do 8º ano apresenta erros mesmo após revisão
Material de matemática do 8º ano apresenta erros mesmo após revisão, exercício afirma que há um triângulo equilátero inscrito em um quadrado - Reprodução

Na manhã de sexta-feira (15), a Folha acessou o sistema onde as aulas do 3º bimestre estão disponibilizadas para os professores e o material continuava com os erros nas disciplinas de ciências e matemática. Após a secretaria ser questionada sobre as falhas, o conteúdo foi alterado no sistema.

A secretaria informou que o erro encontrado no material de ciências foi corrigido em 18 de agosto, " antes de ser apresentado em sala de aula e antes do processo de revisão em andamento". A pasta não explicou por que a aula com erro foi acessada no sistema pela Folha na manhã de sexta.

Sobre o erro no material de matemática, a pasta disse que se tratava de uma aula programada para ser utilizada entre 27 de julho e 4 de agosto. A revisão feita na última semana priorizou analisar os conteúdos de setembro, por isso, essa aula "está atualmente em revisão, assim como todo o conteúdo anterior a setembro".

Produzido pela secretaria, esse material passou a ser distribuído às escolas em abril deste ano, para mais de 3 milhões de alunos. A ideia inicial do secretário de Educação era abrir mão dos livros didáticos enviados pelo MEC (Ministério da Educação) para que os professores só pudessem usar o conteúdo feito por sua equipe —ele recuou da decisão após forte repercussão negativa.

Uma série de erros gramaticais, conceituais e metodológicos tem sido apontada por professores e especialistas de diversas áreas. Uma das aulas, por exemplo, dizia que a Lei Áurea, de 1888, foi assinada por dom Pedro 2º e que a capital paulista possui praias.

Após a divulgação dos erros, a secretaria chegou a afastar servidores, e o coordenador responsável pela produção do material pediu demissão do cargo.

Segundo a Abrelivros (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais), que reúne as principais editoras didáticas do país, os livros didáticos comprados pelo MEC levam ao menos dois anos para ficarem prontos. Depois, eles ainda são submetidos a uma revisão externa para identificar erros ou inconsistências.

Em São Paulo, o material didático começou a ser distribuído às escolas menos de três meses após o início da produção. A secretaria não informa quem são as pessoas envolvidas no processo ou como é feita a revisão dos conteúdos. Informou apenas que professores da rede de ensino estão envolvidos na elaboração.

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