Imagine um novo mundo para as meninas de 10 anos, que as valorize, encoraje e proteja. Com essa provocação, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) dedicou o relatório Situação da População Mundial 2016 a elas, considerando que as 60 milhões de meninas de 10 anos que existem hoje no mundo são as responsáveis pela próxima geração. Elas estarão na faixa dos 25 anos em 2030, quando devem ter sido alcançados os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU em 2015.

O tema foi debatido hoje (26) no seminário 10 Meninas na Construção dos Amanhãs, no Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio de Janeiro. Ao longo de um mês, foi desenvolvida uma oficina com dez meninas de diferentes regiões da cidade, onde foram debatidos temas como feminismo, machismo, sororidade e igualdade de gênero.

Uma das participantes foi Juliana Janot, de 12 anos, moradora de Botafogo. Em 2030, ela espera que a cidade esteja mais justa e igualitária; que esteja trabalhando como escritora, “já com alguns livros”; também estar cursando faculdade ou já formada em “direitos humanos”; e que “esteja fazendo a diferença no mundo”. Para ela, a educação faz a diferença para garantir as oportunidades de que precisa.

“Tudo o que a gente tem que melhorar vem da educação. Para as pessoas terem consciência do que precisam melhorar, elas precisam ser educadas, então eu acho que a educação de qualidade é a solução. Eu acho que eu vou conseguir, porque vou trabalhar e tenho as oportunidades de que preciso. Mas, infelizmente, tem muita gente que não tem acesso a muitas coisas básicas e também não tem oportunidades para o futuro”.

Moradora da Nova Holanda, no Complexo da Maré, Maria Clara Procópio, 10 anos, aprendeu sobre o machismo e a desigualdade de gênero nas oficinas e pretende estudar cinema. “Com 25 anos, eu quero estar formada em cinema, ter a minha casa e morar em outro país. Eu acho que, o que pode melhorar, é a educação; e o salário dos homens e das mulheres, que são diferentes, poderia ser igual, se eles fazem o mesmo trabalho”.

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No seminário, foi assinado um memorando de intenções entre o Museu do Amanhã e o UNFPA, para a realização de pesquisas e eventos para promover o tema. De acordo com a gerente de Educação do Museu do Amanhã, Melina Almada, o trabalho é de longo prazo.

“Há um mês, estamos trabalhando com dez meninas de diferentes lugares do Rio de Janeiro, conversando sobre gênero, sobre feminismo, sobre sororidade, sobre estar juntos nesse contexto. O acordo prevê que o Museu e o Fundo de Populações desenvolva ações em conjunto a longo prazo para a difusão dessas informações sobre as meninas de 10 anos e sobre as ações para as meninas de 10 anos. É um acordo amplo, como já fizemos com o ONU Mulheres, por exemplo, que prevê o Museu como um espaço para diferentes ações que possamos desenvolver juntos a longo prazo”.

Idade decisiva

De acordo com o representante no Brasil do UNFPA, Jaime Nadal, a chegada à puberdade é um momento decisivo na vida das meninas. Ele explica que essa faixa etária é carente de políticas públicas e as meninas de 10 anos correm o risco de abandono da escola e gravidez, se não forem devidamente assistidas após o término da primeira infância.

“O investimento na primeira infância é muito importante para o desenvolvimento das funções básicas cerebrais, mas o desenvolvimento das habilidades para a vida, que são competências fundamentais para se desenvolver na sociedade como pessoas, como cidadãs com plena consciência de seus direitos humanos, sendo produtivas, sendo cidadãs ativas, tendo um engajamento e participação social, isso precisa de investimentos para além da primeira infância. Nós temos um certo medo de que esses investimentos na primeira infância podem se perder se não se fazem investimentos depois, nessas etapas da vida”.

Além das questões de direitos humanos, Nadal ressalta que objetivos básicos, como completar o ensino médio, podem trazer grandes impactos econômicos no mundo. “O relatório estima que, se todas as meninas dos países em desenvolvimento pudessem atingir uma coisa que é relativamente simples, que é concluir a escola secundária, o ensino médio, o mundo geraria uma renda adicional de aproximadamente US$ 21 bilhões. Então é uma coisa de direitos humanos, mas também é uma questão que tem muito a ver com o desenvolvimento social e econômico dos países.

Geração de referência

A coordenadora do Grupo Assessor de Juventude do Sistema ONU no Brasil, Anna Lúcia Cunha, apresentou os dados do Relatório Situação da População Mundial 2016. Segundo ela, aos 10 anos, as meninas têm possibilidade mais ou menos limitadas, de acordo com questões familiares e comunitárias, práticas culturais, leis ou costumes dos locais onde vivem.

“É preciso dar oportunidades para as meninas de 10 anos. Além das habilidades cognitivas tradicionais, é importante que se invista também nas habilidades socioemocionais. São as que trabalham a questão da autoestima, autoconhecimento, autocuidado, não violência, resolução de conflitos, convivência. Se os investimentos forem os corretos até 2030, o mundo poderia ser diferente para as meninas de 10 anos. Nós podemos medir o sucesso da Agenda 2030 pela trajetória das meninas de 10 anos. Se elas não tiverem acesso à educação, saúde e oportunidades, nós teremos falhado”.

De acordo com o relatório, das 60 milhões de meninas de 10 anos no mundo, 89% estão em regiões menos desenvolvidas, sendo 20% na Índia. No Brasil, são 1,6 milhão. Quase 60% da população de 10 anos está nos países com mais desigualdade. No Brasil e América latina, apesar de as mulheres terem maior escolaridade, a renda delas é menor que a dos homens nas mesmas funções.



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