Rio
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Por Geraldo Ribeiro — Rio de Janeiro

Esta terça-feira deveria ter sido o dia do retorno de Gabriela Vitória da Silva, de 7 anos, para a sala de aula na Escola Municipal Antônio Austregésilo, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Mas a menina já manifestou para a mãe, Glaucia da Silva, de 40 anos, o desejo de não mais permanecer na unidade. A aluna foi chamada de "macaca preta" por um coleguinha de turma da mesma idade. Sua reação foi se trancar no banheiro e chorar. Depois disso passou a evitar o colégio.

— Ela não quer ficar na escola porque tem medo de ser xingada novamente. Mesmo com toda rede de apoio (depois da divulgação do episódio) ela não quer permanecer aqui e vai para outra escola, mais próxima de minha casa para dar continuidade à vida e fazer com que ela esqueça o que aconteceu — disse a mãe.

Glaucia diz não culpar o menino que fez as ofensas, por entender que ele também foi vítima, por possivelmente ter reproduzido o comportamento racista de pessoas adultas que o cercam. O que mais a revoltou, na verdade, foi a forma como a professora conduziu a situação. Por meio de uma troca de mensagem afirmou ter repreendido o aluno dizendo que ele não poderia chamar a colega de "macaca preta", porque ele também era preto e apenas "um pouco mais claro" que ela.

Desenho colado em parede da Escola Municipal Antônio Austregésilo, em Bangu, Zona Oeste do Rio, onde a estudante Gabriela Vitória da Silva, de 7 anos, sofreu ofensa racial — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Desenho colado em parede da Escola Municipal Antônio Austregésilo, em Bangu, Zona Oeste do Rio, onde a estudante Gabriela Vitória da Silva, de 7 anos, sofreu ofensa racial — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Glaucia considerou que a fala da professora foi racista e registou um boletim de ocorrência contra ela neste fim de semana, na 35ª DP (Campo Grande), por injúria. Ao visitar a escola em companhia de Gabriela e sua mãe, nesta manhã, o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, disse que foi aberta uma sindicância para apurar a conduta da professora, com prazo de ser concluída entre 30 e 60 dias dias. Enquanto isso, ela foi afastada da turma na qual lecionava, mas permanece na escola.

— Aqui na Secretaria de Educação, na nossa gestão, a gente enfrenta o problema, reconhece que (o racismo) é um problema que existe na sociedade e que (o combate) precisa ser priorizado e ter mais espaço para discussão. E, acima de tudo, a gente precisa trabalhar com a autoestima dessa criança que foi muito afetada — disse Ferreirinha.

O secretário disse ainda que vai apoiar a decisão da criança e da mãe em ir para outra unidade da rede e prometeu dar todo apoio para facilitar essa transferência. Porém, alertou que independentemente da presença ou não da aluna na Antônio Austregésilo a secretaria estará empenhada num trabalho de acompanhamento e construção conjunta de um comportamento antirracista na unidade. Em sua visita à escola o secretário estava acompanhado de Luzia Mandela, gerente da Gerência de Relações Étnico-Raciais (Gerer) da rede e do professor da mesma gerência, Ricardo Jaheen, que deu uma aula sobre igualdade racial para os estudantes.

— A gerência produz trabalhos pedagógicos voltados para a educação antirracista e implementação das leis 10639/3 e 11645/8 de forma sistemática para que todas as escolas de nossa rede tenham embasamento para aplicabilidade da legislação e se tornem cada vez mais um lugar de respeito à diversidade étnico-racial — apontou Luzia Mandela.

Glaucia disse que só tomou conhecimento do ocorrido no último dia 18, mas acredita que tenha acontecido pelo menos um mês antes. Desde então, a primeira vez que a menina voltou à escola foi nessa manhã para a visita do secretário de Educação.

Gabriela, que estava acompanhada da mãe, não foi uniformizada nem levou material escolar. A direção já havia decidido mudá-la de turma e de professora, mas ela preferiu ir para outra escola.

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