Brasil Educação Educação 360

Mediação de conflitos é fundamental para enfrentar violência na escola, apontam educadores

Tema foi discutido em painel no Educação 360 Encontro Internacional
SOC Rio de Janeiro, 16/09/2019 - Educação Internacional - PAINEL 6: Educação em tempo de conflito com Thiago Santos Conceição, professor (negro), Carolina Ricardo, Instituto Sou da Paz (morena de oculos), Telma Vinha, professora da Unicamp (cabelo claro) e Vicente Delorme, professor do Colégio pH (barba e oculos). Mediador Antonio Gois (blazer claro). Foto: Adriana Lorete/OGlobo Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo
SOC Rio de Janeiro, 16/09/2019 - Educação Internacional - PAINEL 6: Educação em tempo de conflito com Thiago Santos Conceição, professor (negro), Carolina Ricardo, Instituto Sou da Paz (morena de oculos), Telma Vinha, professora da Unicamp (cabelo claro) e Vicente Delorme, professor do Colégio pH (barba e oculos). Mediador Antonio Gois (blazer claro). Foto: Adriana Lorete/OGlobo Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

RIO - Na semana em que o caso de agressão e humilhação contra o professor Thiago Santos Conceição numa escola pública em Rio das Ostras, na Região dos Lagos, completa um ano, o painel “Educação em tempo de conflito”, durante o Educação 360 Encontro Internacional , reuniu especialistas com o intuito de discutir estratégias para enfrentar os diferentes tipos de violência que ocorrem no cotidiano da escola hoje.

No dia 18 de setembro de 2018, ele foi hostilizado por alunos, mas manteve a calma. O episódio foi gravado, e o vídeo viralizou nas redes sociais.

— Nunca mais voltei a Rio das Ostras. Não recebi ajuda da prefeitura, nem psicológica nem de segurança. Resolvi me exonerar e seguir minha vida — conta o professor, que participou do debate, ontem, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.

No Brasil, 12,5% dos educadores disseram sofrer agressões verbais ou intimidações de alunos ao menos uma vez por semana, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2017. O índice é muito superior à média dos 34 países analisados, que é de 3,4%.

Para a professora Telma Vinha, da Unicamp, é preciso distinguir a natureza dos problemas entre as condutas violentas e as perturbadoras, como indisciplina e transgressão. Alunos que fazem provocações e interrompem o professor, correm pela sala de aula e “bagunçam” podem tornar o ambiente caótico na classe, mas essas atitudes não podem ser vistas como violência.

— É preciso trabalhar a convivência entre os alunos em sala de aula. As intervenções para diferentes comportamentos, como violência física, bullying e incivilidade, devem ser distintas — defendeu a especialista.

Lugar de formação

Para Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, é importante sempre ver a escola como espaço para trabalhar a prevenção da violência.

— A escola é, sim, um lugar de violência, mas também é o lugar de formação para a vida — afirmou ela, que defende o papel do professor, também, como mediador de conflitos.

Ela argumentou que criminalizar mau comportamento de maneira geral não ajuda:

— Não sei se a melhor ideia, por exemplo, é trazer ex-agentes das Forças Armadas ou policiais para serem mediadores de conflitos nas escolas. O papel da mediação tem que ser da equipe escolar. Nem todo problema de indisciplina ou de conflito é um crime, e não deve ser tratado assim. Se a gente criminalizar tudo, a gente afasta os estudantes e não consegue resolver o problema.

Vicente Delorme, professor do Colégio pH, afirmou ainda que “é preciso tirar a carga de negatividade dos conflitos e vê-los como oportunidades de aprendizagem”.

— A escola tem que frear o linchamento, ou seja, a vontade de sentenciar, prejulgar, “lacrar”, e trabalhar a convivência ética. Precisamos de professores bem formados para mediar os conflitos, orientadores educacionais para lidar com as crises e também as famílias ao nosso lado. É fundamental essa integração.

Telma Vinha frisou que políticas que estimulam punição e não incluem a escola na solução têm resultados ruins a médio prazo, provocando mais evasão escolar e violência.

— É preciso implementar procedimentos institucionais, introduzindo equipes de mediação de conflitos privados do 1° ano do ensino fundamental até o final do ensino médio. É preciso embeber a escola de procedimentos em prol de uma mudança de cultura.

A professora ressaltou que o Chile tem uma política nacional de convivência escolar, e, no Brasil, apesar da Lei de Diretrizes e Bases, ocorre a militarização das escolas públicas.

— Que políticas públicas queremos formar para fortalecer valores democráticos? Políticas nessa área devem ser efetivas, sistêmicas e coordenadas.