Brasil Educação

Alfabetização não seguirá metodologia única, afirma secretária do MEC: 'Precisamos refletir as realidades locais'

Abordagem ensina os sons das sílabas para orientar alunos a compor palavras. Segundo Tânia Almeida, secretária de educação básica, métodos devem privilegiar realidades locais
Governo colocou alfabetização como uma das principais medidas para início de governo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo (10/09/2018)
Governo colocou alfabetização como uma das principais medidas para início de governo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo (10/09/2018)

SÃO PAULO - O Ministério da Educação (MEC) deve voltar atrás na proposta de promover o método fônico como principal metodologia para a alfabetização. Segundo essa abordagem, os alunos aprendem os sons de letras e sílabas para, aos poucos, formar plavras. A primazia dessa metodologia é criticada por especialistas em educação. Escolhida como uma das prioridades para os cem primeiros dias do governo Bolsonaro, a alfabetização de alunos não pode ser “pautada por uma única metodologia”, afirmou, na manhã desta terça-feira, a secretária de Educação Básica do MEC, Tânia Almeida.

Tânia participou, em São Paulo, de um debate promovido pelo Movimento Todos pela Educação em parceria com a FGV e o MIT. No encontro, discutiu os rumos para o setor no novo governo. Segundo ela, as políticas para a educação básica serão construídas em parceria com estados e municípios, e baseadas em “evidências científicas”. Quanto à alfabetização, defendeu o respeito à diversidade de métodos e públicos:

— A política de alfabetização não é pautada em uma única metodologia para chegar em ações. Cada pessoa tem que ser avaliada como indivíduo — afirmou.

A afirmação destoa de declarações dadas, ao longo dos últimos meses, pelo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez. Ele causou preocupação em meio a especialistas ao dizer que o MEC deveria priorizar o método fônico em detrimento de outras abordagens. Nos métodos globais, aos quais o ministro disse se opor, os alunos são apresentados a textos e palavras para, aos poucos, descobrir como compô-los.

A mudança de discurso deixou satisfeitos secretários de educação presentes ao evento:

— Costumo dizer que o bom alfabetizador não precisa nem sequer dizer qual método ele utiliza — afirma Cecília Motta, presidente do Conselho Nacional de Secretários  de Educação (Consed).

Segundo Cecília, é importante que o educador seja bem formado, e possa aliar diferentes metodologias, de acordo com a necessidade do aluno. Segundo ela, o Consed foi convidado, pelo ministério da Educação, a participar de um grupo de trabalho que definirá as políticas para alfabetização a ser adotadas no país.

De acordo com Tânia, a ideia é que esse trabalho seja sempre feito com a participação de estados e municípios, para refletir as realidades locais:

— Precisamos dos agentes locais. Porque o MEC é um prédio em Brasília. Precisamos refletir as realidades locais, sempre baseados em evidências científicas— afirmou

Compasso de espera

Passados quase 50 dias desde o início do governo, no entanto, causa certo incômodo a falta de definição do MEC acerca de projetos importantes para a educação, como a implementação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) do ensino fundamental, e as discussões para a elaboração da BNCC do ensino médio. São projetos cuja execução, por estados e municípios, exigem investimentos federais, mas cuja continuidade ou não ainda não foi abordada pelo governo:

— No caso da BNCC do ensino médio, precisamos de aporte financeiro, para contratar analistas e pensar a arquitetura dessa etapa de ensino — afirma Cecília Mota.

De acordo com Frederico Amancio, secretário de Educação de Pernambuco, a demora do governo em dar respostas ainda não chega a preocupar. Mas cria certa “expectativa”:

— Precisamos de definições do governo federal porque trabalhamos com prazos. E temos certas expectativas quanto a continuidade de programas que impactam o nosso dia a dia — afirma. Entre os programas cuja continuidade precisa ser confirmada, Amâncio cita o Saeb e a Prova Brasil, duas avaliações cujos objetivos envolvem fazer um diagnóstico da qualidade do ensino básico no país.

Para Vitor Amorim de Angelo, secretário de educação do Espírito Santo, essa indefinição do MEC ocorre porque a equipe acaba de ser formada, e precisa primeiro conhecer o trabalho que já foi feito:

— Mas estamos com o sinal amarelo acesso — diz.

Durante o debate, a secretária Tânia disse compreender as angústias de estados e municípios. Mas pediu paciência aos gestores locais:

— Se há certo delay de informações sobre certos programas é porque estamos estudando o cenário com cuidado — justificou a secretária.