Brasil

MEC nomeia defensora do criacionismo ligada ao 'Escola Sem Partido' para comandar área responsável por material didático

Professora de perfil conservador defende revisão de base comum curricular sob a 'perspectiva cristã'; em artigo, ela também se posicionou contra a 'ideologia de gênero'
Sandra Lima Vasconcelos Ramos é professora da UFPI desde 2009 Foto: Reprodução
Sandra Lima Vasconcelos Ramos é professora da UFPI desde 2009 Foto: Reprodução

BRASÍLIA — O ministro da Educação, Milton Ribeiro, nomeou uma professora universitária defensora do criacionismo e ligada ao movimento “Escola Sem Partido” para comandar o órgão responsável pela coordenação de materiais didáticos do MEC. Sandra Lima Vasconcelos Ramos é conhecida no círculo conservador e sua nomeação é vista como um aceno à ala ideológica do ministério.

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Sandra é professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) desde 2009. Nos últimos anos, ela se vinculou fortemente a movimentos conservadores que atuam na educação. Em novembro de 2018, ela assinou uma nota com críticas e sugestões à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que norteia a elaboração dos materiais didáticos utilizados em escolas de todo o país. A coordenação-geral de materiais didáticos é considerada uma das mais importantes da pasta.

No documento, Sandra defendeu uma revisão do documento sob a “perspectiva cristã”. Em dois pontos, a nota defende a introdução da teoria criacionista para o estudo da biologia. O criacionismo é a corrente de pensamento que explica fenômenos naturais a partir da religião.

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Alinhamento com Damares

Em um trecho, a nota substitui a teoria da seleção natural desenvolvida por Charles Darwin e substitui pelo criacionismo para explicar a diversidade de espécies biológicas. Além de Sandra, também assinaram a nota a atual ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, e outras duas pessoas.

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Em um artigo assinado por ela em um blog, Sandra também faz críticas à suposta “ideologia de gênero”, termo nunca aceito pelo mundo acadêmico. Ela faz críticas a marxistas que, segundo ela, estariam tentando “a família tradicional”.

A professora também se aproximou do Movimento Escola Sem Partido, que se posiciona contra uma suposta ideologização do ensino no país. Nos últimos meses, ela fez participou de lives com um dos fundadores do movimento, Marcelo Nagib.

Internamente, a nomeação de Sandra é vista com preocupação por servidores de carreira do MEC justamente por representar uma vitória de Carlos Nadalin, principal representante da ala ideológica na pasta. Nadalin é ligado ao escritor Olavo de Carvalho que prega, entre outras coisas, uma guerra cultural contra a esquerda no país.

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Pelo Twitter, a presidente-executiva da organização não-governamental Todos pela Educação, Priscila Cruz, criticou a nomeação de Sandra Ramos. “A nova coordenadora-geral dos livros didáticos no MEC é colaboradora do Escola Sem Partido, movimento que incentiva a perseguição a professores. A boiada está passando”, disse.

O GLOBO enviou questionamentos ao MEC sobre a nomeação de Sandra, mas não obteve resposta até o momento. A reportagem não conseguiu localizar a professora.