Por Elida Oliveira, G1


Secretário Nacional de Alfabetização, Carlos Nadalim, durante a apresentação do aplicativo Graphogame — Foto: Reprodução/YouTube/MEC

O Ministério da Educação (MEC) lançou nesta sexta-feira (27) um aplicativo para auxiliar as crianças no processo de alfabetização, o Graphogame. O app faz parte do programa Tempo de Aprender e deve auxiliar as crianças a assimilar o som às letras e sílabas escritas. O lançamento ocorreu no Auditório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em Brasília.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que o app não visa substituir o professor, mas sim auxiliá-lo. O aplicativo será gratuito, precisa de conexão à internet para ser baixado, mas pode ser usado de forma off-line, segundo o ministro.

"Se conseguirmos dar a condição às crianças de serem bem alfabetizadas, teremos resultados diferentes no futuro", afirmou Ribeiro, citando pesquisas de avaliação de aprendizagem.

Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados no início do mês, apontam que, em 17 estados, alunos do 2º ano do ensino fundamental têm desempenho abaixo da média nacional em língua portuguesa. Quando os dados foram lançados, o MEC não esclareceu se a média está dentro, acima ou abaixo do desejado.

Já a mais recente Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), feita em 2016, mostrou que 54,73% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental têm conhecimento insuficiente em leitura e 33,95% têm níveis insuficientes em escrita.

Durante o evento, o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, afirmou que a recomendação é que o uso se restrinja a 15 minutos ao dia, e seja feito com fones de ouvido, para melhorar a assimilação dos sons.

Nadalin afirmou que, das 139 mil escolas do país, 124 mil têm conexão à internet, onde pais e responsáveis poderiam baixar o aplicativo e usar em casa.

O valor total do investimento não foi anunciado. O G1 questionou o MEC e o Inep sobre os custos, mas não obteve retorno. De acordo com a universidade envolvida na adaptação do app para o português, foram investidos R$ 100,5 mil pelo MEC.

A Política Nacional de Alfabetização, lançada em abril de 2019, coloca como objetivo "priorizar" a alfabetização até o fim do primeiro ano do ensino fundamental, com foco no método fônico.

App finlandês

Reprodução de vídeo apresentando o Graphogame na Zâmbia. — Foto: Reprodução/Grapholearn

O app foi desenvolvido na Finlândia pelo professor de Neuropsicologia do Desenvolvimento Heikki Lyytinen.

Inicialmente voltado a crianças com dislexia, o app foi aperfeiçoado para alfabetizar alunos de 4 a 9 anos e é adotado em diversos países, como França e Estados Unidos, além de países africanos, como a Zâmbia. Há projetos para replicá-lo no Quênia, Namíbia e Tanzânia.

“Nosso objetivo é reduzir as dificuldades de aprendizagem, oferecendo apoio proativo a todas as crianças na escola e em casa. O ambiente de aprendizagem GraphoGame desenvolvido para praticar a alfabetização básica tem se mostrado uma ajuda significativa, também nos países mais pobres ”, afirmou Heikki Lyytinen, em texto publicado no site da universidade.

A versão em português foi feita por pesquisadores do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), da PUC-RS.

“A mera exposição a palavras escritas e textos não leva à aprendizagem alguma a não ser que a criança seja, explicita e simultaneamente, ensinada sobre o que são letras e palavras escritas e sua relação com os sons", afirma Augusto Buchweitz, professor da PUC-RS que lidera os estudos pelo InsCer.

Acesso à internet e celular pode ser entrave

Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, critica a falta de políticas públicas estruturais na educação, em detrimento de programas pontuais, e alerta que a falta de acesso à internet e celular poderá dificultar a adesão das crianças mais carentes ao app.

"Tem tanta falta de investimento em políticas estruturais para uma resposta ao cenário de crise da pandemia e o governo querendo fazer política de games. E com que internet e com que celular, tablet as crianças e adolescentes vão acessar?", questiona Pellanda.

A pesquisa TIC Educação 201 aponta que 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não têm computador ou tablet em casa. Nas escolas particulares, o índice é de 9%. Os dados também indicam que 21% dos alunos de escolas públicas só acessam a internet pelo celular. Na rede privada, o índice é de 3%.

Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima serem necessários R$ 3,8 bilhões para comprar chips, celulares, tablets e kits de conversão à TV digital para universalizar o acesso às tecnologias necessárias à educação remota, que deve perdurar em 2021 com as aulas híbridas (parte presencial, parte on-line). Segundo o Ipea, o valor equivale a quase três vezes o investido no Programa Nacional do Livro Didático em 2020.

Na semana passada, o Senado aprovou um projeto que obriga governo a instalar internet em todas as escolas públicas até 2024. O recurso sairá do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). O valor total disponibilizado para a Educação não foi informado.

Para 2021 o Ministério da Educação deverá ter um corte de R$ 1,4 bilhão no orçamento.

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