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MEC divulga novos dados; o que o governo deve priorizar na educação básica, segundo especialistas?

Números mostram crescimento do ensino profissionalizante e integral, mas distorção idade-série continua alta

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Por Giovanna Castro
Atualização:

Os dados divulgados nesta quinta-feira, 22, pelo Ministério da Educação (MEC) sobre a educação básica brasileira em 2023 mostram aumento do ensino profissionalizante e integral no Brasil, assim como um crescimento de matrículas em escolas privadas e em creches. Especialistas em educação ouvidos pelo Estadão elogiam os avanços, mas alertam sobre o longo caminho pela frente, em especial na distorção idade-série (alunos que estão atrasados na escola em relação à idade).

“Esse avanço no ensino profissionalizante e integral precisa ser celebrado”, disse Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades e especialista em educação. “O ensino integral permite educação mais completa e experimental. Não da pra ter uma educação contemporânea, com aulas mais dialogadas, com 4 ou 5 aulas por dia e um monte de disciplinas espremidas”, complementa.

Estudos internacionais mostram que o ensino técnico colabora para a redução da taxa de evasão escolar, tem boa avaliação dos estudantes e colabora para a entrada deles em universidades e no mercado de trabalho. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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“O ensino profissionalizante beneficia os jovens na medida em que os coloca em posição melhor para enfrentar a próxima fase da vida, de ensino e/ou trabalho, e ainda colabora para o desenvolvimento da economia do País”, disse Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho.

A educação profissional foi a etapa que mais cresceu na educação básica em relação ao número de matrículas. Estudos mostram que cursos técnicos são capazes de aumentar a remuneração dos profissionais e elevar a riqueza do País, ao se conectar com demandas do mercado.

As especialistas afirmam, no entanto, que é preciso olhar com atenção para a qualidade do ensino oferecido nesses modelos, além de ampliá-los ainda mais. “Ainda estamos muito distantes da realidade de países desenvolvidos, referência em educação”, afirma Claudia.

Países desenvolvidos, que têm os melhores resultados em avaliações internacionais de educação, investem fortemente para que os alunos cursem o ensino profissional junto com o médio. No Brasil, só 10% dos alunos cursam o técnico, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

“A educação profissional depende de muitos fatores para ser sempre uma alternativa de qualidade. Precisamos garantir infraestrutura adequada, professores qualificados e aprimorar a relação entre educação profissional com a formal”, destaca Ana.

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Em 2017, foi aprovada uma reforma do ensino médio, com o objetivo de tornar o currículo mais flexível e atrativo para os jovens e fomentar a formação profissional nessa faixa etária. No ano passado, porém, entidades de professores e alunos pressionaram o MEC a rever o modelo diante de queixas sobre a implementação do novo formato.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou um projeto de reformulação da reforma ao Legislativo no segundo semestre de 2023, mas falhas de articulação com o Congresso fizeram com que a votação do texto fosse adiada para este ano.

Enquanto isso, 7,6 milhões de alunos da última etapa do ensino básico ficam no limbo sobre qual será o regime de estudo nos próximos anos e como fica a preparação para os processos seletivos para as universidades.

Atraso escolar é outro gargalo

O alto índice de distorção idade-série causado por reprovações – em alguns Estados, chega a 40% – também preocupa os especialistas. Estudos mostram que a reprovação pode trazer mais prejuízos do que benefícios ao alunos, aumentando o índice de evasão escolar, ao fazer com que os alunos percam o interesse e a motivação em estudar.

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“O ideal é não reprovar demais, para que eles não percam o interesse na escola, mas também garantir que a maioria tem aprendizagem suficiente em cada etapa”, diz Claudia. Por isso, ela defende que o MEC opere mudanças no método de formação de professores, para que eles trabalhem focados em garantir a aprendizagem e não só em dar aulas e cumprir com a oferta de conteúdo.

Daniel de Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa na Fundação Lemann, acredita que o problema da evasão escolar e baixa taxa de aprendizagem precisa ser resolvido na raiz: os anos finais do ensino fundamental. “Estamos falando de jovens de 13, 14 anos, que ainda estão no 6º ano, onde deveriam estar crianças de 10 a 12. Que interesse eles vão ter? Se sentem muito deslocados”, diz.

“O princípio da escola engajadora, do novo ensino médio, é legal, assim como o desenho do programa Pé de Meia (que oferece auxílio financeiro para evitar que alunos do ensino médio saiam da escola), mas o ensino fundamental ainda está um pouco esquecido”, afirma. E se o adolescente já perde o interesse pelos estudos no fundamental, alerta de Bonis, será difícil recuperá-lo no ensino médio.

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