Por Elida Oliveira, G1


Pela primeira vez, Saeb avaliou conhecimentos em ciência no 9º ano do ensino fundamental. — Foto: Palácio Piratini

Alunos do 9º ano do ensino fundamental, o último desta etapa de aprendizagem, apresentam baixos níveis de conhecimento em ciências, de acordo com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2019, divulgados nesta quarta-feira (4) pelo Ministério da Educação (MEC) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Em ciências humanas, a maior parte (52,16%) está na faixa abaixo do nível 1 até o nível 2 (em uma escala até 9), seguida por 30,78% dos alunos nos níveis 3 e 4. Em ciências da natureza, 68,61% teve desempenho abaixo do nível 1 até o nível 3.

Esta foi a primeira vez que o Saeb analisou o que os estudantes estão aprendendo em ciências.

Outra novidade foi a avaliação de alunos em fase de alfabetização, no 2º ano do ensino fundamental. Eles tiveram seus os conhecimentos em matemática e português avaliados.

Os dados apontam que estudantes de 17 estados do país estão com desempenho abaixo da média nacional em língua portuguesa e em matemática. O dado não é claro sobre o que é esperado, ou seja, se esta média está dentro do desejável, abaixo ou acima do esperado.

Ministro da Educação, Milton Ribeiro (o segundo da esquerda para a direita), fala na abertura da apresentação de novos dados do Saeb nesta quarta-feira (4). — Foto: Reprodução/YouTube/Inep

Até então, o Saeb avaliava alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental, em português e matemática, e também do 3º ano do ensino médio, nestas mesmas áreas de conhecimento. Os dados referentes a estas etapas foram divulgados em setembro, e compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

As provas do Saeb foram feitas entre 21 de outubro e 1º de novembro de 2019, período, portanto, anterior à pandemia.

Os resultados são organizados em escalas de proficiência, que variam conforme a área de conhecimento e avançam de 25 em 25 pontos. O objetivo é avaliar o domínio dos estudantes sobre o conteúdo ensinado, seguindo matrizes de referências. O MEC ou o Inep não detalharam, no entanto, o que é considerado "satisfatório" dentro destas escalas.

Confira abaixo os dados apresentados pelo MEC:

Proficiência do 2° ano do ensino fundamental

Matemática:

A maior parte (34,25%) dos alunos avaliados está nos níveis 3 e 4, seguido por 32,69% dos alunos nos níveis 5 e 6.

  • Abaixo do nível 1 - 2,82%
  • Nível 1 - 4,48%
  • Nível 2 - 8,62%
  • Nível 3 - 14,42%
  • Nível 4 - 19,83%
  • Nível 5 - 18,16%
  • Nível 6 - 14,53%
  • Nível 7 - 10,15%
  • Nível 8 - 6,99%

No nível 1, segundo Aline Mara Fernandes Muler, pesquisadora do Inep, os estudantes sabem reconhecer e nomear um triângulo, reconhecem objetos com formatos parecidos ao de uma pirâmide, comparam comprimentos ou alturas, identificam a medida de comprimento de um objeto a partir da imagem de uma régua, e também identificam o que aparece com mais frequência em um gráfico simples. Os demais níveis não foram detalhados na apresentação.

Na análise por estados, 17 estão abaixo da média do país em matemática no 2º ano do ensino fundamental: AC, AP, AM, PA, RO, RR, TO, AL, BA, MA, PB, PI, RN, SE, MG, MT e MS.

Língua portuguesa:

A maior parte (39,94%) dos alunos avaliados está nos níveis 5 e 6.

  • Abaixo do nível 1 - 4,62%
  • Nível 1 - 4,22%
  • Nível 2 - 6,72%
  • Nível 3 - 11,9%
  • Nível 4 - 17,8%
  • Nível 5 - 21,55%
  • Nível 6 - 18,39%
  • Nível 7 - 9,76%
  • Nível 8 - 5,04%

Na análise por estados, 17 estão com desempenho abaixo da média em língua portuguesa: AC, AP. AM, PA, RO, RR, TO, AL, BA, MA, PA, PE, PI, RN SE, MT e MS.

Parte da escala de proficiência foi mostrada durante a apresentação desta quarta-feira. Ela indica que, no 2º ano do ensino fundamental, alunos com desempenho abaixo do nível 1 "provavelmente não dominam qualquer uma das habilidades que compuseram o primeiro conjunto de testes".

No nível 1, os estudantes demonstraram conhecimento em relacionar sons de consoantes com registros escritos em palavras ditadas, relacionar o som de uma sílaba inicial em palavra dissílaba, por exemplo, ler palavras dissílabas com sílabas canônicas a partir de palavra ditada, e ler palavras trissílabas com apoio de imagem.

No nível 2, os estudantes demonstram tem aprendido o conteúdo dos níveis anteriores, e também relacionam sons de consoantes com regularidades contextuais, leem palavras polissílabas a partir de um ditado, com apoio de imagem.

No nível 8, o aluno é capaz de inferir informações e assuntos em textos longos. Os demais níveis não foram detalhados durante a apresentação.

Proficiência do 9° ano do ensino fundamental

Ciências Humanas:

A maior parte (52,16%) está nos níveis mais baixos de aprendizagem (abaixo de 1 até o nível 2), seguida por 30,78% dos alunos nos níveis 3 e 4.

  • Abaixo nível 1 - 16,97%
  • Nível 1 - 16,59%
  • Nível 2 - 18,6%
  • Nível 3 - 17,41%
  • Nível 4 - 13,37%
  • Nível 5 - 9,33%
  • Nível 6 - 4,83%
  • Nível 7 - 2,17%
  • Nível 8 - 0,6%
  • Nível 9 - 0,14%

Em ciências humanas no 9º ano do ensino fundamental, a escala de proficiência apresentada pelo Inep aponta que, no nível abaixo de 1, o estudante não dominou as habilidades exigidas.

No nível 1, o estudante conseguiu associar o período do ano com maiores temperaturas e precipitação à maior probabilidade de ocorrência de arco-íris, com base em um climograma; e também compreendeu a capacidade de carga como vantagem competitiva ao transporte de mercadorias por meio de navio cargueiro representado em imagem.

No nível 9, o aluno foi capaz de demonstrar domínio de todos os conteúdos exigidos nos níveis anteriores e também foi capaz de reconhecer que a Constituição Federal de 1988 foi a responsável por eliminar o grau de instrução como critério impeditivo ao voto; localizar as áreas ocupadas por elementos naturais em mapas, como o Aquífero Guarani e o Pantanal brasileiro. Pode também compreender as características da civilização grega durante a época clássica, entre outros pontos.

Os demais níveis de aprendizagem não foram detalhados na apresentação.

Ciências da Natureza:

A maior parte (68,61%) está nos níveis mais baixos de aprendizagem, abaixo do nível 1 até o nível 3.

  • Abaixo nível 1- 17,73%
  • Nível 1 - 16%
  • Nível 2 - 17,98%
  • Nível 3 - 16,8%
  • Nível 4 - 14,02%
  • Nível 5 - 9,81%
  • Nível 6 - 5,29%
  • Nível 7 - 1,87%
  • Nível 8 ou mais - 0,5%

Em ciências da natureza, o aluno do 9º ano que ficou abaixo do nível 1 não soube demonstrar conhecimento adquirido nesta etapa.

No nível 1, os estudantes foram capazes de identificar a importância do uso de preservativo masculino na prevenção contra a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids) entre diferentes métodos contraceptivos; e identificar a ação da adrenalina a partir dos efeitos causados no corpo.

No nível 8, o aluno é capaz de analisar o efeito do campo magnético em materiais e determinar a estação do ano a partir da duração do dia no Hemisfério Norte e associá-la à estação correspondente no Hemisfério Sul.

Os demais níveis de aprendizagem não foram detalhados na apresentação.

O que é o Saeb?

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foi criado em 1990 e, desde então, é realizado a cada dois anos em todas as escolas públicas brasileiras e em uma amostra da rede privada.

A previsão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é que, nesta edição, mais de 7 milhões de estudantes tenham participado da avaliação.

"Em 2020 comemora-se 30 anos da primeira aplicação. Estamos celebrando a história da maior avaliação da educação brasileira com o anúncio da sua ampliação, o novo Saeb. Quando foi lançado, em 1990, o Saeb buscava informações que contribuíssem para que professores, gestores e pesquisadores tivessem uma visão mais abrangente da educação brasileira. Os dados contribuem decisivamente para viabilizar ações no âmbito das políticas públicas visando uma contínua melhoria da qualidade educacional do país", afirmou o ministro da Educação, Milton Ribeiro, durante webinário sobre os resultados do Saeb.

É a primeira vez que a pesquisa inclui estudantes do 2º ano do ensino fundamental e é a primeira vez também que avalia o conhecimento de ciência em alunos do 9º ano, o último do ciclo. Até a edição anterior, a análise do 9º ano abrangia somente português e matemática.

Assim, nesta edição, foram avaliados:

Ciências da natureza e ciências humanas:

  • Estudantes do 9° ano do ensino fundamental (amostral)

Língua portuguesa e matemática:

  • Estudantes do 2° ano do ensino fundamental (amostral)
  • Estudantes do 5º e 9º anos do ensino fundamental (censitário) - compõe o Ideb
  • Estudantes do 3ª ano do ensino médio (censitário) - compõe o Ideb

Segundo o Inep, os dados ajudam o governo a definir estratégias de políticas públicas.

O Saeb também compõe o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado a partir do cruzamento de dados de aprovação, reprovação e abandono escolar à taxa de aprendizagem em português e matemática e, agora, também em ciência.

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