ENTRE VISTAS

Matilde Ribeiro: fim de Bolsonaro será esperança para retomada de inclusão. ‘Voltaremos a sonhar’

Ex-ministra de Igualdade Racial orgulha-se das conquistas trazidas pelas políticas que ajudou a consolidar na pauta do governo federal

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Ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, entre 2003 e 2008, orgulha-se da priorização de políticas voltadas para comunidades remanescentes de quilombos e a implementação de cotas raciais nas universidades públicas

São Paulo – Responsável por promover políticas públicas de inclusão, Matilde Ribeiro acredita que haverá esperança ao povo negro brasileiro, com o fim do governo Bolsonaro. ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, entre 2003 e 2008, Matilde lamenta os retrocessos do país, vividos desde 2016, mas lembra: “a esperança está nessa luta contínua”.

Em conversa com o jornalista Juca Kfouri, no programa Entre Vistas da TVT, a professora e ativista política explica que, apesar do momento difícil atual, principalmente sobre as políticas públicas, o movimento negro precisa continuar com o processo organizativo e de luta, exigindo do Estado o atendimento direto e continuado às populações que vivem discriminações históricas.

“Nós não devemos continuar garantindo que um governo fascista, um governo nada colaborativo com a vida, continue. Eu acredito muito no nosso empenho durante o processo eleitoral de 2022, querendo mudança efetiva. Acredito também na luta dos movimentos sociais para exercer a capacidade de ter políticas públicas inclusivas nesse país e vamos voltar a sonhar”, defendeu Matilde Ribeiro, ao responder o sociólogo da Universidade Federal do ABC (UFABC), Acácio Almeida.

Neste ano, Matilde, que é docente vinculada ao Instituto de Humanidades (IH/Unilab), foi homenageada com o título de “Doutora Honoris Causa” pela Universidade Federal do ABC. A honraria “Honoris Causa” significa “por causa de honra”, e é um título concedido por universidades a pessoas notadamente significantes para as áreas de cultura, história, política ou ciência de uma determinada nação, independente de suas formações acadêmicas.

Negros como prioridade

Frente a pasta criada no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Matilde Ribeiro fez com que a luta pela igualdade racial ganhasse mais destaque no Palácio do Planalto no início dos anos 2000. Ao relembrar da imensa lista de reivindicações, ela orgulha-se das conquistas que continuam a gerar frutos em todo país. Entre elas a priorização de políticas voltadas para comunidades remanescentes de quilombos e a implementação de cotas raciais nas universidades públicas.

A ex-ministra explica que Lula pediu que houvesse uma priorização de políticas voltadas às comunidades quilombolas no Brasil. “Se eu pudesse voltar atrás, primeiro faria tudo de novo. Não tem nada que foi feito que cause arrependimento ou necessidade de revisão, mas eu faria mais. Eu entendi perfeitamente e poderia ter dado prioridade para outras demandas históricas e quilométricas”, afirmou ela.

“O não feito não foi por não desejar, mas porque o tempo foi curto. Em quatro, oito ou 12 anos, você não pode querer algum governo dê conta de sequelas históricas de mais de 500 anos. Não dá para atender a tudo na mesma proporção e no mesmo tempo. Então, os governos precisam ter políticas continuadas para tratar dessas demandas”, defendeu.

Ela lembra que as políticas públicas voltadas às comunidades negras são uma forma de reparação histórica e disse que, quando tratavam sobre o tema, causavam “ebulição dos que eram contra”. “Intelectuais de universidades renomadas que diziam que não fazia sentido a política de cotas, bastava deixar do jeito que estava, com as políticas públicas gerais, que a situação estaria resolvida. Isso é uma falácia, pois para diminuir situações de desigualdade e preciso de empenho nas reparações e políticas públicas”, acrescentou.

Unilab

Matilde Ribeiro está há sete anos atuando como docente na Unilab – universidade que tem por missão a educação de qualidade e receber alunos africanos dos países de língua portuguesa, como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

As atividades administrativas e acadêmicas da Unilab se concentram nos Estados brasileiros do Ceará e da Bahia. No Ceará, a universidade conta com unidades nos municípios de Redenção e Acarape. Na Bahia, a Unilab está presente no município de São Francisco do Conde.

De acordo com ela, a sala de aula reúne, além de estrangeiros, quilombolas, indígenas e filhos de trabalhadores rurais, criando um espaço de diversidade que não existe em grandes centros. “A troca propiciada por essa diversidade deveria acontecer de maneira mais intensa Brasil afora. Não tinha que estar só na Unilab. Se não fosse essa universidade, no interior dessas regiões, os alunos brasileiros não estariam estudando”, defende.

Assista à entrevista:


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