Material escolar do governo de SP cita praias na capital paulista
O material didático digital feito pela Secretaria da Educação do governo de Tarcísio de Freitas também citava que Dom Pedro 2º, e não a filha, Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea em 1888 para o fim da escravidão no Brasil. O material também apresentava erros graves de matemática e biologia.
Professores da rede estadual de ensino afirmam que o material didático digital feito pela Secretaria da Educação do governo de Tarcísio de Freitas e enviado a docentes e estudantes do estado de São Paulo para ser aplicado nas salas de aula no ensino fundamental contém erros graves em diferentes disciplinas, entre elas história, biologia e matemática.
Um deles estava no conteúdo de história para estudantes do 9º ano do ensino fundamental, nos slides sobre o governo Jânio Quadros para o terceiro bimestre.
O slide 19 da aula 8 afirmava que a cidade de São Paulo tem litoral:
“A proibição do uso de biquínis foi adotada por Jânio Quadros em 1961, quando ele era prefeito de São Paulo. Ele emitiu um decreto vetando o uso de biquínis nas praias da cidade. A justificativa de Quadros era que o traje de banho seria uma afronta à moral e aos bons costumes. Esse impedimento também causou grande repercussão na época e gerou protestos de mulheres”, diz o texto.
Jânio realmente proibiu o biquíni, mas a medida foi tomada quando ele era presidente, com foco nas praias do país, não da capital paulista.
Outro erro encontrado pelos docentes foi na aula 25 para estudantes do 8º ano sobre “os abolicionistas”. Na parte da Lei Áurea, o slide afirmava ter sido Dom Pedro 2º, e não a filha, Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea em 1888 para o fim da escravidão no Brasil.
Na aula 5 de Ciências para o 7º ano do ensino fundamental, dedicada ao assunto “doenças de veiculação hídrica”, mais erros foram encontrados pelos professores.
No slide 9, constava que a água pode transmitir Parkinson, Alzheimer e depressão caso esteja contaminada por mercúrio, agrotóxicos, remédios e produtos químicos em geral.
Já na disciplina de matemática, na aula 7, para o 6° ano do ensino fundamental, foi encontrado erro em uma conta básica de divisão. Em vez de 36 dividido por 9 ser igual a 4, o resultado apontava 6.
Em outro conteúdo, da primeira série do ensino médio, sobre a política e a música brasileira nos anos da ditatura militar, a música “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso, aparece com uma foto e o nome de outro cantor da época, Geraldo Vandré.
Em física, os alunos do ensino médio apontam outro erro quando o assunto era o espectro solar: o slide falava uma descoberta do físico e astrônomo francês Jean Foucault em 1985, mas ele morreu em 1868.
Ainda conforme a secretaria, “a coordenadoria pedagógica da instituição vai reforçar a equipe de revisão para que haja aprimoramentos constantes nos recursos didáticos, sempre em total harmonia com o Currículo Paulista”.
A Secretaria da Educação do estado tem se envolvido em polêmicas envolvendo material didático desde a primeira semana de agosto, quando a rede estadual paulista retomou as aulas para o segundo semestre letivo.
A pasta anunciou que não iria mais aderir ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para os anos finais do ensino fundamental (do sexto ao nono ano) e ensino médio.
O PNLD é o programa do governo federal por meio do qual as escolas e redes de ensino podem escolher livros didáticos de literatura para uso em sala de aula. Todos os anos, a escolha costuma ocorrer em agosto, para que a entrega dos livros seja feita a tempo para o ano letivo seguinte.
Para as séries iniciais (primeiro a quinto ano), e para os livros de literatura, a Seduc informou que nada mudaria, e que seguiria participando do programa federal.
Como substituição aos livros do PNLD nos anos finais do fundamental, a Seduc disse que adotaria, a partir de 2024, um material didático 100% digital, com slides produzidos pela própria secretaria, parte do Currículo Paulista.
Mas, depois de críticas de especialistas e da comunidade escolar sobre a eficácia da metodologia e sobre as limitações tecnológicas, o governo paulista voltou atrás e disse que imprimirá o material do Currículo Paulista.
A recusa do PNLD, porém, estava mantida. Em coletiva de imprensa, o secretário Renato Feder deu uma série de justificativas para a escolha, entre elas o dado de que o PNLD era pouco usado pelos alunos, apesar de não ter mostrado a fonte original da pesquisa.
Contudo, a Justiça determinou, na noite do dia 16 de agosto, que a Secretaria da Educação do estado de São Paulo voltasse a aderir ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2024.
Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, coordenada por Renato Feder, informou, na última quinta-feira (31/08), que afastou os servidores responsáveis pelos graves erros didáticos no material digital produzido pela pasta e que o conteúdo, que é editável, foi atualizado e retificado.
A Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu uma série de objetivos ambiciosos no ano de 2015 por meio de um “Pacto Global”, que envolve os seus 193 países membros. O Brasil está entre os países que se comprometeram a alcançar os objetivos. Ao todo, o projeto da ONU contempla 17 ODS, ou seja, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A temática apresentada está relacionada ao ODS 4 que fala sobre Educação de qualidade.
Fonte: g1