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A opinião do GLOBO.

Por Editorial

Assassinatos e ataques violentos de adolescentes em escolas, quase corriqueiros nos Estados Unidos, têm se tornado frequentes também no Brasil. Desde 2002, houve 40 mortos em 22 ações violentas em estabelecimentos de ensino, de acordo com nota técnica da USP. Das 22, metade ocorreu desde fevereiro de 2022. Outro levantamento, da Unicamp, constatou 35 mortes e nove dos 22 ataques desde julho de 2022. O motivo para a alta fica fica claro quando se analisa a morte brutal da professora Elisabeth Tenreiro, 71 anos, por um adolescente de 13 numa escola estadual paulistana.

“Irá acontecer hoje”, anunciou o jovem numa rede social. Horas depois, entrou numa sala de aula usando máscara e luvas, esfaqueou três professoras e dois alunos. Em seu celular, o adolescente colecionava vídeos de massacres e fazia questão de mostrá-los aos colegas. A presença em comunidades da internet que cultuam discursos de ódio e violência ensejava diálogos estarrecedores. Num perfil fechado de rede social, o ataque à escola era anunciado desde domingo, recebendo apoio de outros usuários que o encorajavam.

Um deles se apresentava como “mentor” e dizia estar orgulhoso. Ao anunciar o atentado, o adolescente dizia ter esperado pelo momento “a vida inteira” e pedia que lhe desejassem “boa sorte”. Seu codinome nas redes fazia referência a um dos autores do massacre de Suzano, que deixou dez mortos numa escola em 2019. O planejamento e a divulgação das barbaridades nas redes sociais são a forma como os autores tentam alcançar celebridade.

Escoradas no dispositivo legal que as exime de qualquer responsabilidade pelo conteúdo que veiculam, as plataformas digitais nada fazem para controlar esse tipo de conspiração para cometer massacres. Futuros assassinos circulam livremente por comunidades vinculadas à extrema direita ou às ideologias mais insólitas. É fundamental que a polícia monitore nas redes os passos desses jovens, especialmente nas comunidades que glorificam violência. Eles sempre deixam rastros e — como ocorreu — anunciam o que farão.

Além do aviso nas redes, outros sinais poderiam ter servido de alerta. O agressor havia se envolvido numa briga com outro aluno na semana anterior, e a professora Elisabeth apartou a contenda. Ele fora transferido havia menos de um mês por problemas de comportamento. Os motivos estavam documentados num boletim de ocorrência por uma funcionária da outra escola onde estudara. Segundo o relato, o aluno vinha postando nas redes sociais vídeos em que portava armas de fogo e simulava ataques violentos.

Não basta decretar luto oficial, indignar-se e abrir investigações para apurar a tragédia consumada. É preciso se antecipar. Nesse aspecto, as autoridades brasileiras se mostram despreparadas, e as redes sociais continuam a fingir que não é com elas. A morte trágica de Elisabeth é só mais um exemplo de por que é fundamental mudar a lei que as isenta de responsabilidade quando são usadas para atos criminosos.

É fundamental a polícia monitorar as redes para frustrar ataques no nascedouro. Quanto antes agir, maior a chance de preservar vidas. Nos Estados Unidos, que vivem dramas assim há anos, um homem armado de fuzis e pistolas matou três crianças e três adultos numa escola de Nashville no mesmo dia do ataque em São Paulo. Não dá para aceitar que esse tipo de horror se torne tão comum aqui quanto é lá.

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