Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Mas... e os brancos pobres?

É impossível pensar a luta pela educação desconsiderando o racismo, e vice-versa.

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"No Brasil não existe racismo". O que mais choca nessa frase, dita há um ano pelo vice-presidente, não é o cargo ocupado pelo seu autor, mas sim que essa é a opinião de muitos brasileiros. Neste Dia da Consciência Negra, compartilho algumas das perguntas que recebo diariamente sobre o tema no contexto da educação, para que falas como a de Mourão não encontrem eco em nossa sociedade.

1) O que racismo tem a ver com a educação? Pretos e pardos são 71,7% dos jovens que abandonam a escola. Alunos negros têm um desempenho escolar equivalente a dois anos a menos de aprendizagem. O analfabetismo é três vezes maior entre negros. Isso sem falar do acesso a creches, dos efeitos da pandemia, da presença no ensino superior...

2) Mas... e os brancos pobres? Também sofrem com a baixa qualidade do ensino, mas, estruturalmente, são menos prejudicados que os negros. Levantamento do Iede mostrou que, entre estudantes com o mesmo nível socioeconômico, negros têm menor desempenho escolar do que brancos, como consequência do racismo. É por isso que cotas raciais dentro das cotas sociais, por exemplo, são tão importantes.

3) Mas as cotas não resolvem a raiz do problema... É verdade que só cotas não bastam, mas elas são um instrumento temporário essencial na aceleração da inclusão de negros nas universidades. Enquanto se mostrarem efetivas, devem ser mantidas e ampliadas para, por exemplo, a pós-graduação.

4) E o que podemos fazer de concreto para além das cotas? A partir de 2023, como consequência de uma emenda minha ao novo Fundeb, o governo federal dará incentivos financeiros às redes de ensino que reduzirem as desigualdades raciais. Há muitas boas práticas para replicar, como: poupanças para estudantes de ensino médio de baixa renda que os incentivem a permanecerem na escola; discussões sobre o racismo nas escolas —segundo o Todos pela Educação, menos da metade das escolas têm projetos sobre racismo; e formações que preparem os profissionais da educação para lidar com o tema.

Uma pesquisa do Instituto Sonho Grande, conduzida em Pernambuco, mostrou também que as escolas em tempo integral conseguiram, pela primeira vez, eliminar a diferença de renda no início da carreira entre alunos brancos e negros, o que demonstra que uma educação mais holística e que prepare para a vida é ainda mais efetiva no enfrentamento das desigualdades estruturais.

Em um país em que o tamanho dos sonhos de nossas crianças ainda depende da cor da pele, me parece impossível e ineficaz pensar a luta antirracista desconsiderando o papel da educação ou pensar a luta pela educação desconsiderando o racismo.

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