Por Paola Patriarca, g1 SP


Prédios em São Paulo vistos da região da Avenida Faria Lima — Foto: Marcelo Brandt/g1

Um morador dos Jardins, área nobre da Zona Oeste de São Paulo, vive cerca de 21 anos a mais do que quem mora no Iguatemi, Zona Leste da capital. É o que mostra o Mapa da Desigualdade 2022, divulgado nesta quarta-feira (23) pela Rede Nossa São Paulo e o Instituto Cidades Sustentáveis.

Conforme o levantamento, a média de vida para os moradores dos Jardins é de 80 anos. No Iguatemi, essa média cai para 59,3 anos. Já a média geral da cidade de São Paulo é de 68.

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O segundo distrito com a pior idade média de vida é o vizinho Cidade Tiradentes. Localizado no extremo da Zona Leste, o morador vive em média 59,4 anos. Já em Moema, também área nobre da cidade, o segundo melhor da capital, a média fica em 79,8 anos.

O levantamento anual feito desde 2012 usa informações públicas para medir a diferença entre os 96 distritos da capital em áreas como saúde, educação, moradia e cultura. O objetivo é ampliar o acesso às informações e auxiliar na elaboração de políticas públicas.

No caso do indicador "idade média ao morrer" por cada distrito paulistano, foram usados dados fornecidos pela Secretaria Municipal da Saúde, representando a realidade atual do território. O cálculo utilizado foi o equivalente à soma das idades ao morrer dividida pelo número total de mortes multiplicado por 100.

A média utilizada na pesquisa é diferente da “expectativa de vida”, que é uma projeção do número de anos que a população de um local deve viver caso sejam mantidas as mesmas condições do nascimento.

Idade média ao morrer por distrito de SP — Foto: Divulgação/Mapa da Desigualdade

Para Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis e Rede Nossa São Paulo, esse dado representa que a capital tem o exemplo de melhorar os dados na própria cidade.

"O objetivo de estar revelando esses dados é para identificar os problemas. A cidade tem, como mostra o mapa, que existem espaços muito melhores do que outros. A gente tem solução de ter um olhar de como melhorar a idade, que é vendo nesses próprios bairros com idades altas como que eles conseguiram. Não precisa pegar exemplo da Europa, é só olhar para o que na capital", diz.

"Temos visto que não temos conseguindo reduzir a diferença da idade média de vida. Ano passado tínhamos quase 23 anos de diferença e, agora, 21. A ordem de grandeza permanece a mesma. Há políticas a serem feitas para a gente estar avançando. Se um prefeito se propuser a reduzir pela metade essa idade, ele vai estar fazendo a maior obra porque vai ser obrigado a investir na saúde, no combate à mortalidade infantil, saneamento de habitação. Teria que fazer um mosaico de ações. É um indicador que integra outros indicadores".

Região dos Jardins, na capital paulista — Foto: ESTADÃO CONTEÚDO

Gravidez na adolescência

O levantamento também aponta que os mesmos distritos que concentram as idades médias de vida mais baixas da capital são os que mais registram gravidez na adolescência.

Cidade Tiradentes, por exemplo, fica em primeiro lugar com 13,3%. Já Moema aparece com 0,4%. A média geral de Sao Paulo é de 8,5%.

O cálculo foi feito com o número de nascidos vivos de mulheres com menos de 20 anos dividido com o número total de nascidos vivos.

Cidade Tiradentes (acima) e Moema (embaixo). — Foto: Montagem: reprodução/TV Globo e Renato Cerqueira/Futura Press

O levantamento ressalta que a maternidade precoce pode estar associada a condições de risco para o recém-nascido, tais como a prematuridade e o baixo peso ao nascer.

"Este indicador contribui na avaliação dos níveis de saúde infantil e dos fatores socioeconômicos e culturais que intervêm na ocorrência da gravidez, e subsidia processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas e ações voltadas para a promoção da saúde reprodutiva, bem como para a atenção à saúde infantil e materna".

Mortalidade materna

O estudo também avaliou o nível da saúde da mulher e da população em geral. O distrito que apontou o pior valor para mortalidade materna foi o Brás, região central de São Paulo, com taxa de 304,2. A média geral da cidade ficou em 72. Já 27 distritos apresentaram valor nulo. São eles:

  • Alto de Pinheiros
  • Bela Vista
  • Bom Retiro
  • Cambuci
  • Campo Belo
  • Campo Grande
  • Cursino
  • Ermelino Matarazzo
  • Itaim Bibi
  • Jaguara
  • Jardim Paulista
  • Lapa
  • Liberdade
  • Marsilac
  • Morumbi
  • Pari
  • Perdizes
  • Pinheiros
  • Raposo Tavares
  • República
  • Santa Cecília
  • Santo Amaro
  • Saúde
  • Tatuapé
  • Vila Guilherme
  • Vila Mariana
  • Vila Matilde

O cálculo para a mortalidade materna foi feito a partir da média trienal (2019 a 2021) do total de óbitos por causas maternas dividida pela média trienal (2019 a 2021) do total de nascidos vivos.

Mundialmente, conforme o levantamento, houve uma queda de 45% nas taxas de mortalidade. Em 1990 era de 380. Já em 2013, número passou para 210.

No Brasil, a taxa de mortalidade materna caiu de 141, em 1991, para 64 em 2011. Apesar dessa redução, esses valores ainda estão distantes dos 35 estipulados como meta para o país pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Mortalidade infantil

O Mapa da Desigualdade também apontou qual é o coeficiente de mortalidade infantil para cada mil crianças nascidas vivas de mães residentes nos distritos da capital.

O cálculo foi feito através do número de óbitos em menores de um ano de idade dividido pelo número total de nascidos vivos multiplicado por mil.

O pior valor também ficou para o Brás, região central de SP, com 26,7. Campo Belo e Vila Leopoldina apresentaram valor nulo para mortalidade infantil.

O estudo ressalta que as altas taxas de mortalidade infantil refletem baixos níveis de saúde, desenvolvimento socioeconômico e condições de vida. Mundialmente, esse número caiu de 90 (1990) para 43 (2015), conforme dados da ONU. No Brasil, a taxa passou de 53,7 (1990) para 17,7 (2011).

Mortalidade infantil em cada distrito de São Paulo — Foto: Divulgação/Mapa da Desigualdade

Homicídios de jovens

A Vila Guilherme, Zona Norte de SP, é o distrito que concentra o pior coeficiente de mortalidade de jovens por homicídio e intervenção legal para cada 100 mil pessoas de 15 a 29 anos. A taxa é de 48,2, sendo três vezes maior do que a média de São Paulo, que é 16,1.

"Homicídio de jovens é mais que o dobro que a média geral da cidade e isso tem que ser enfrentado. Não é possível que isso continue assim, situação bem preocupante", enfatiza Jorge Abrahão.

Conforme a pesquisa, mortes por agressão correspondem aos casos de homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte, mais intervenção legal. É um dos indicadores mais utilizados para medir a violência em um determinado território, uma vez que a subnotificação não é frequente.

Violência contra a mulher

O Mapa da Desigualdade contatou que a média de violência contra mulher aumentou 67,9% de 2020 para 2021.

O coeficiente de mulheres vítimas de violência para cada 10 mil mulheres residentes de 20 a 59 anos, por distrito, teve seu pior valor na Barra Funda, com taxa de 636,2. O melhor valor foi registrado em Alto de Pinheiros, com 116,5. A média de São Paulo é de 234,6.

Para o cálculo, são considerados os registros por local de ocorrência do crime, para manter o anonimato da vítima. Os dados relacionados a contravenções penais compostos pela Lei n° 12.737 de 2012 conhecida como a “Lei Carolina Dieckmann”, foram imputados e categorizados como crimes sexuais, com base nas definições da Lei 11.340 de 2006, conhecida como a “Lei Maria da Penha” em que categoriza as tipologias de violência contra mulher.

"Violência contra mulher está tendo mais consciência por parte das vítimas, que estão denunciando mais. Isso faz com que esses números aumentem. Por outro lado, é um problema que existe na sociedade e precisa ser resolvido", diz o coordenador geral Jorge Abrahão.

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