Opinião

Mais engenheiras

Mulheres são minoria nas ciências exatas

‘A educação é a arma mais poderosa para vencermos os obstáculos”. A frase é da química Joana D’Arc Félix, vencedora do Prêmio Faz Diferença, do GLOBO. Negra, filha de empregada doméstica, Joana teve apoio da família e de professores para estudar, ingressar na Unicamp e na Universidade de Harvard e seguir uma carreira de sucesso como cientista.

A história dela se insere num contexto mais amplo de conquistas das mulheres que, no século XX, lutaram por educação e alcançaram mais tempo de estudos, ocupando o ensino superior e a pós-graduação, onde são maioria hoje. É esse avanço coletivo que propiciou o surgimento de iniciativas como PretaLab, MariaLab e outros coletivos que estimulam mulheres a se apropriarem dos saberes das áreas exatas e tecnológicas e as fortalecem para enfrentar o machismo e o racismo ainda marcantes nessas áreas.

Joana D’Arc e outras importantes cientistas são as exceções que confirmam a regra: as mulheres, sobretudo as negras, ainda são minoria nas engenharias, ciências e tecnologias, profissões e carreiras com melhor remuneração e prestígio no Brasil. Em 2016, as mulheres representavam quase metade dos aprovados na Fuvest, mas havia apenas uma mulher em cada cinco estudantes dos cursos de ciências exatas. Entre os calouros da Escola Politécnica da USP de 2016, só 18% eram mulheres; na Faculdade de Física, 23%.

A exclusão começa na infância e no ambiente escolar. A socialização das meninas na família e na escola é fortemente orientada pelos papéis tradicionais de gênero, que contribuem para manter as mulheres em posições desprestigiadas (e subalternizadas). A ideia de que há brincadeiras “de menina” e “de menino” é um bom exemplo. Essa pressão social impede o desenvolvimento pleno delas, desestimulando-as e, pior, restringindo suas possibilidades pessoais e profissionais.

Vivemos um momento histórico marcado por retrocessos no campo dos direitos das mulheres, com a criminalização do aborto em casos já garantidos por lei, a redução do status de ministério para secretaria dedicada às mulheres no governo federal, o aumento da violência e outras perdas. É preciso fortalecer esse debate e interferir na educação, particularmente nas escolas, para transformar essa realidade, e as meninas poderem ampliar seu horizonte de escolhas.

Para isso, é imprescindível que os profissionais da educação atuem para desconstruir estigmas sociais e quebrar as dinâmicas que permeiam as desigualdades entre homens e mulheres. Sabemos que nem sempre a escola está preparada para lidar com estas questões, principalmente com a exclusão das temáticas de gênero dos planos estaduais e do Plano Nacional de Educação. Por isso, é valiosa a parceria das escolas com organizações da sociedade civil e universidades para, juntas, enfrentarem o desafio de promover a equidade de gênero na educação.

A escola deve romper com os padrões de desigualdade, em vez de reproduzi-los. É para transformar essa realidade que nós que assinamos este artigo nos unimos numa aliança inovadora para fomentar práticas de gestão escolar e pedagógicas que busquem quebrar estigmas e promover equidade em favor das jovens no ensino médio, ampliando as possibilidades de fazer quaisquer escolhas, inclusive no campo das exatas.

Amalia Fischer (Fundo ELAS); Nadine Gasman (ONU Mulheres Brasil); Ricardo Henriques (Instituto Unibanco) e Sandra Unbehaum (Fundação Carlos Chagas)