Brasil Educação

Mais de 55% dos brasileiros defendem incluir educação sexual no currículo, diz estudo encomendado pelo MEC

Levantamento de 2018 nunca foi divulgado publicamente; pesquisa foi obtida pela TV Globo via Lei de Acesso à Informação
A maior parte dos brasileiros mostrou apoiar a discussao sobre sexualidade e questões de gênero dentro de sala de aula, contrariando falas do atual ministro da Educação Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
A maior parte dos brasileiros mostrou apoiar a discussao sobre sexualidade e questões de gênero dentro de sala de aula, contrariando falas do atual ministro da Educação Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

RIO - Uma pesquisa interna encomendada pelo Ministério da Educação (MEC) no ano passado indicou que a maioria dos brasileiros é favorável à inclusão de questões sobre gênero, sexualidade e preconceito contra negros e gays no currículo escolar. O levantamento, que nunca foi divulgado publicamente, foi obtido via Lei de Acesso à Informação pela TV Globo.

De acordo com a pesquisa, 55,8% dos entrevistados responderam "sim" se a "abordagem sobre as questões de gênero e sexualidade deve fazer parte do currículo escolar". Outros 38,2% foram contra, e 6% não souberam responder.

Sobre o preconceito contra os gays, 65,2% defenderam que este tema deveria ser incluído no currículo dos estudantes.

A pesquisa foi feita pelo Instituto GPP e custou ao MEC R$ 216.240,00. O ministério confirmou à TV Globo a compra da pesquisa pela gestão anterior, mas não esclareceu os motivos de tê-la contratado, nem o porquê de nunca ter tornado públicos os seus resultados. O governo não comentou os resultados do levantamento.

Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Educação ainda não retornou para informar se os resultados do levantamento poderão ser usados como base para alguma política pública.

Os dados obtidos na pesquisa contrastam com a visão da atual gestão do MEC. O ministro Ricardo Vélez Rodríguez já disse mais de uma vez não concordar com discussões sobre sexualidade e gênero em sala de aula porque "quem define gênero é a natureza".

Maioria não sabe o que é 'ideologia de gênero'

Segundo a pesquisa, o termo "ideologia de gênero", muito usado pelo ministro e por grupos religiosos para se referir a questões ligadas a gênero — e rechaçado por estudiosos da área por ter um sentido pejorativo —, é uma incógnita para a maioria dos brasileiros. Dos estrevistados no levantamento, 62,6% não souberam definir o que a expressão significa. Dentre os que sabiam (37,4%), a maioria (52,3%) disse ser contra o tema estar no currículo escolar, ante 45% que foram favoráveis.

Mais de 77% dizem que racismo deve ser discutido

O levantamento também questionou sobre o quão grave os entrevistados consideravam o preconceito contra os negros nas escolas. A maioria (77,2%) acha que o preconceito existe, é muito grave e acredita que este é um tema que deveria ser incluído no currículo escolar.

População se divide sobre Lei de Cotas

Sobre a Lei de Cotas, a maioria dos entrevistados (62,6%) é favorável à existência dessa ação afirmativa para o ingresso nas universidades, mas as pessoas se dividem em relação ao tipo de cota.

Quase um terço dos entrevistados (32,7%) é favorável à existência somente de cotas sociais, destinadas aos alunos mais pobres e oriundos de escolas públicas, independentemente da cor da pele. Este índice é maior entre os mais jovens: 36,1% entre o grupo de 16 a 24 anos, e 38,6% entre os que têm de 25 a 34 anos. Também é maior entre as pessoas de renda familiar mais alta.

Já 29,9% dos entrevistados disseram ser favoráveis à existência de dois tipos de cotas: as destinadas aos mais pobres, estudantes de escolas públicas, e as cotas raciais, destinadas aos alunos negros. Nesse caso, o índice continua mais alto entre os mais jovens: 36,9% no grupo de pessoas de 16 a 24 anos. A taxa também é alta entre as pessoas com a renda familiar mais baixa (38,3%).

Aqueles que são favoráveis ao fim da existência de qualquer tipo de cota representam 32,7%. Este índice é maior entre os mais velhos (37,2%) e os que têm renda familiar mais alta (38,5%).

Para fazer o levantamento, a consultoria contratada pelo MEC ouviu 2.004 pessoas de 11 estados e do Distrito Federal, representando todas as regiões do país. As entrevistas foram conduzidas em janeiro de 2018. O tamanho da amostragem é semelhante ao de pesquisas eleitorais nacionais, como a que é feita pelo Ibope, seguindo critérios científicos.