Por g1 RS


Mais de 44% das famílias do RS sofreram impacto financeiro pela pandemia, aponta pesquisa

Mais de 44% das famílias do RS sofreram impacto financeiro pela pandemia, aponta pesquisa

A pandemia exacerbou a percepção de desigualdade social compartilhada por grande parte da população do Rio Grande do Sul, como aponta uma pesquisa do Instituto Pesquisa de Opinião (IPO) encomendada pela Assembleia Legislativa (AL-RS) e divulgada nesta quarta-feira (22). Em 44,3% das 1,5 mil entrevistas, as famílias responderam que foram impactadas financeiramente pela pandemia.

O principal efeito foi sentido pelas mais pobres. Entre as que recebem até dois salários mínimos, 24,7% acusaram perdas econômicas ou financeiras, e 27,9% dos que recebem de três a cinco salários mínimos também referiram perda de renda, de emprego ou dificuldade para trabalhar. Para quem ganha mais de seis salários mínimos, o percentual cai para 20,8%.

O estudo aponta que os maiores impactos foram sentidos em cidades maiores, na comparação com municípios menores, como explica Elis Radmann, diretora do IPO.

"Se eu venho para Porto Alegre ou se eu venho para cidades de grande porte, grandes eixos como Passo Fundo, Santa Maria e Pelotas, é maior o sofrimento. Quando eu me distancio e vou para cidades de menor porte, a pandemia incomodou menos", diz.

Na questão emocional, entre as classes pobre e média, 20,1% e 24,4% citaram problemas de saúde mental, respectivamente. Na faixa mais abastada, o percentual sobe para 36,8%. Veja a tabela completa:

Principais impactos da pandemia em famílias do RS

Até 2 salários mínimos 3 a 5 salários mínimos Mais de 6 salários mínimos Média %
Econômico/financeiro 24,7 27,9 20,8 24,6
Saúde emocional/mental 20,1 24,4 36,8 23,8
Perda do trabalho/emprego 12,7 11,2 4,2 11,3
Dificuldade para trabalhar 9,4 7,6 6,9 8,4
Saúde física 6,8 4 2,8 5,5
Fechamento das escolas 1,1 2,8 4,2 1,9
Problemas familiares 1,6 1,5 -- 1,3
Não teve impacto 22,8 19,9 22,9 22,3
Não sabe 0,8 0,6 1,4 0,9

Além disso, segundo a pesquisa, mais de 2/3 dos gaúchos tiveram algum impacto na renda familiar. Entre trabalhadores informais e autônomos, esse percentual chega a 83%.

De acordo com o IPO, cerca de 45% dos gaúchos estão vivendo com metade da renda ou menos da metade do que tinha antes da pandemia. A população mais afetada é a que tem renda familiar de até dois salários mínimos.

Impacto financeiro do coronavírus na renda familiar no RS
Qual foi o impacto financeiro do coronavírus na renda da sua família (%)
Fonte: IPO e AL-RS

População de cidades maiores, como Porto Alegre, sentiu mais efeitos da crise, diz pesquisa — Foto: Reprodução/RBS TV

Migração entre classes

A pesquisa também destaca a mobilidade entre as classes sociais durante a pandemia. A autodeclaração de classe baixa ou pobre aumentou 38%, passando de 15,5% de pessoas que se consideravam nessa faixa para 24,3% atualmente.

O mesmo se repete entre classe baixa e média baixa, mas começa a inverter a partir da classe média. Ou seja, diminuíram as famílias que se consideravam de classe média alta ou alta durante a pandemia.

Em geral, 53,5% da população se considerava pobre, de classe baixa ou classe média baixa antes da pandemia e, atualmente, 70,6% se considera pobre, de classe baixa ou classe média baixa.

O percentual de vulnerabilidade social dos entrevistados também foi questionado. Em 63,4% dos casos, cerca de duas em cada três pessoas, não se consideram vulneráveis.

No entanto, 36,6% dos gaúchos vivenciaram alguma vulnerabilidade social na pandemia, conforme a pesquisa. Entre eles, os que não conseguiram se enquadrar para o auxílio emergencial, os autônomos ou informais e que não têm a documentação ou conhecimento para acessar as políticas públicas.

Entrevistados relataram perda de renda e emprego durante a pandemia no RS — Foto: Reprodução/RBS TV

Dados de educação

A pesquisa também traça um perfil da educação e da relação entre a escolaridade e a renda familiar na primeira infância e no ensino superior.

Em 7,9% das famílias, há alguém que cursa ou concluiu a graduação durante a pandemia. Outros 15,6% tiveram que cancelar ou trancar o curso superior.

"Em alguns casos, ele perdeu a atividade dele ou o pai perdeu a sua renda e não pode subsidiar o filho. Também tivemos situações em que o filho teve que ir trabalhar para ajudar a família, principalmente naquelas famílias em que a mãe era responsável e era do grupo de risco, não podia mais trabalhar", explica Elis Radmann.

O IPO realizou as entrevistas de 28 de agosto a 3 de setembro de 2021, com pessoas a partir de 16 anos de idade, de 40 municípios distribuídos em oito regiões do estado. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais com intervalo de confiança de 95%, segundo o IPO.

O presidente da Assembleia, deputado Gabriel Souza (MDB), considera que as informações levantadas podem ajudar na formulação de políticas públicas para contornar os efeitos da crise na sociedade.

"Os impactos que a pandemia tem causado na sociedade já podem começar a ser medidos e, por consequência, políticas públicas que venham a mitigar ou resolver o problema gerado pela pandemia já podem ser formuladas", aponta.

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