Por Aline Nascimento, G1 AC — Rio Branco


Família Azul do Acre levou denúncia para a Câmara de Vereadores de Rio Branco durante audiência pública — Foto: Divulgação

Mais de 20 crianças com autismo estariam sem mediadores dentro das salas de aula em Rio Branco. Segundo a Associação Família Azul do Acre (Afac), há alunos que não estão indo para a escola por falta de profissionais especializados disponíveis.

Há casos ainda em que os estudantes até comparecem às aulas, mas, segundo as mães, os filhos não estão sendo incluídos nas atividades por falta de profissionais. A denúncia relata também casos em que um mediador atende até três crianças nas escolas.

"Esse ano a prefeitura, além de começar o ano letivo com mediadores a serem contratados, ainda está destinando o mesmo mediador de uma sala para dois a três alunos. Isso não é inclusão, a legislação fala em profissional especializado e individualizado", falou o presidente da Afac, Abraão Púpio.

Convocações

Ao G1, o secretário Moisés Diniz, da Secretaria de Educação Municipal, falou que a pasta participou de uma audiência pública com os vereadores da capital acreana e representantes da Afac, na segunda-feira (22). Segundo ele, a Educação vai convocar mais 73 profissionais para reforçar o quadro de ensino especial.

“Temos hoje em Rio Branco o atendimento mais avançado para a criança com deficiência. A prefeita autorizou a contratação de mais 73 profissionais. Na chamada passada, chamamos mais mediadores, cerca de 159, e agora vamos chamar mais cuidadores que atendem crianças com deficiências físicas e outros tipos”, garantiu.

O secretário acrescentou ainda que a pasta desenvolve um trabalho de otimização de recursos humanos que trata de uma avaliação feita pelos especialistas pedagógicos junto com os pais e a escola para que um mesmo mediador atenda duas crianças com o mesmo grau de autismo.

“Passamos nas escolas e, nos casos que identificamos onde existem duas crianças com o mesmo grau de autismo na mesma série, nossos especialistas identificam que é possível um mediador ficar com duas crianças. Ocorreu isso em algumas escolas, nossas equipes dialogam com os pais, mas é claro que uns concordam e outros não. É normal”, ressaltou Diniz.

Secretário Moisés Diniz diz que prefeitura convocou mais profissionais para reforçar quadro de ensino especial em Rio Branco — Foto: Reprodução/TV Acre

Sem inclusão

A enfermeira Cristiele Lira é uma das mães que está preocupada com o desenvolvimento do filho. João Victor, de 10 anos, é aluno da quinta série e tem autismo médio. Segundo a mãe, em 2018 ela teve muito apoio da escola que a criança estudava e o filho conseguiu acompanhar as demais crianças.

“Ele não estava tendo inclusão e necessitava de um mediador. Esse ano, com o laudo, mandaram um pessoal da secretaria para avaliar ele e disseram que não tinha necessidade dele ter mediador na sala de aula”, lamentou.

A mãe disse que chegou a denunciar a caso ao Ministério Público do Acre (MP-AC) e na Secretaria de Educação Municipal, mas que até o momento não foi disponibilizado um mediador apenas para o filho dela.

“Como a professora falou, não tem como ela dar atenção para ele para incentivar, tem outros 33 alunos. Tem uma mediadora na sala, mas o grau de autismo do aluno dela é muito alto, ele não gosta de contato e ela tem que dar toda atenção. Não vai conseguir dar atenção nem para um e nem para o outro”, falou.

A dona de casa Katiele de Souza é outra mãe que também espera um mediador para o filho. Ela contou que mesmo com o laudo comprovando que João Luca, de 4 anos, tem autismo, a direção da escola falou que não há mediadores disponíveis para atender apenas a criança.

“Estou esperando, ele vai para a escola e tem uma educadora lá, mas não é mediador. Antes ele se agredia muito, se batia quando a pessoa não sabia o que ele queria. A professora e a educadora estão ajudando ele. A educadora cuida de uma criança com síndrome de down e dele”, afirmou.

Casos

O presidente da Afac, Abraão Púpio, revelou que o número de crianças com autismo sem mediadores ultrapassa 20. Para Púpio, o número de profissionais contratados pela prefeitura é inferior à quantidade de alunos que precisam de apoio nas salas de aula.

"A gente se comunica pelo WhatsApp, então, tem muito mais, porque têm aqueles pais que não se comunicam por ali. Na audiência pública, afirmaram que a prefeitura vai contratar mais 73 profissionais, entre mediadores, cuidadores, e educadores de ensino especial, mas já sabemos que não vai chegar nem perto da demanda", criticou.

Conforme o presidente, seria necessário contratar, além dos convocados, mais 200 profissionais para atender a demanda em Rio Branco.

"Já foram contratados 430 de ensino especial, mas a prefeita autorizou chamar, depois do nosso movimento, somente mais 73. Por uma estimativa a grosso modo, a gente percebe que seriam necessários mais 200", avaliou.

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