Política

Maia: 'Esperamos um novo ministro de fato comprometido com a educação'

Parlamentares avaliam que situação era 'insustentável' ; Randolfe Rodrigues diz que ex-ministro ter de ser responsabilizado por eventuais crimes
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, defende que o Executivo faça a coordenação do combate à pandemia Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, defende que o Executivo faça a coordenação do combate à pandemia Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

BRASÍLIA —  Insatisfeitos com declarações, apoio a protestos antidemocráticos e ações de Abraham Weintraub à frente do Ministério da Educação, congressistas comemoraram, nesta quinta-feira, a saída do agora ex-ministro do governo Bolsonaro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que espera um novo ministro "de fato comprometido com a educação".

— A gente espera que possa ficar melhor. Estava muito ruim o Ministério da Educação. Todo mundo sabe a minha posição, não adianta ficar aqui reafirmando. Não é isso que vai melhorar o diálogo com o Ministério da Educação. Esperamos que a gente possa ter no Ministério da Educação alguém de fato comprometido com a educação e com o futuro das nossas crianças — disse Maia.

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O presidente da Câmara também criticou a última medida tomada por Weintraub que extingue cotas para negros e indígenas na pós-graduação , e disse que a Câmara vai dialogar com o governo para tentar reverter essa decisão.

—  Vamos conversar agora com o novo ministro, dialogar com o ministro da articulação política, para ver se nós podemos resolver isso no diálogo com o governo, sem a necessidade de votação de um projeto de decreto legislativo. O ideal é que a gente possa mostrar ao governo que essa última decisão do ministro, já sabendo que ia sair, talvez tenha baixa legitimidade num tema tão importante e que vai gerar tanta polêmica e tanto desgaste para o governo em todo o Brasil.

Perguntado sobre a ida de Weintraub para o Banco Mundial, Maia respondeu com ironia:

— É porque não sabem que ele trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009 e ele era um dos economistas do banco.

O PSDB disse que a situação de Weintraub era "insustentável".

“A permanência do ministro da Educação no cargo já vinha sendo questionada por vários segmentos da sociedade, mesmo antes da divulgação do vídeo em que ele se referiu aos ministros do STF de forma ofensiva e inaceitável. Porém, após sua participação em atos antidemocráticos e depois da decisão do Supremo de mantê-lo em inquérito que investiga as fake news, o certo é que sua participação no governo se tornou insustentável", pontuou o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), em nota.

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Sampaio disse ainda que "o ex-ministro já vinha num processo de desgaste crescente, particularmente por seus posicionamentos nas redes sociais muitas vezes incompatíveis com a importância do cargo que ocupava".

Líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA) disse que "Abraham Weintraub era o ministro que jamais poderia ter sido ministro". "Não tinha compostura nem capacidade técnica para ocupar tão importante pasta. Seu único legado é um recado ao governo: a sociedade está farta do radicalismo e de atentados à democracia. O Brasil merece respeito", escreveu em rede social.

Já o líder da minoria na Casa, Randolfe Rodrigues (AP), escreveu que Weintraub vai ter de ser responsabilizado por eventuais crimes.

"Já vai tarde! Há tempos o Ministério da Educação, assim como o Brasil, está sem comando. É uma vitória da Educação! Mas vale lembrar: não é porque caiu que não vai deixar de pagar por eventuais crimes, viu? Isso vale para Bolsonaro e para Weintraub! O Brasil merece mais!", disse em rede social.

Senador e ex-presidente da República, Fernando Collor (Pros-AL) escreveu que o "Brasil merece um Ministro da Educação que tenha a experiência e o conhecimento necessários para conduzir políticas públicas à altura dos desafios que o País enfrenta na área, isentas de ideologias nefastas".

Coordenador da Comissão Externa de Acompanhamento do MEC (Comex-MEC) na Câmara, o deputado João Campos (PSB-PE) comemorou a  demissão do ministro, mas ponderou que é importante estar atento ao seu sucessor.

— Grande dia! É um dia importantíssimo, uma vitória da educação, mas temos que estar atentos ao ditado popular: "nada é tão ruim que não possa piorar."  Celebramos a derrota de Weintraub, não por ele, mas pela educação do país. Milhares de jovens que não estão sendo bem assistidos durante a pandemia.  Ao mesmo tempo ficamos preocupados com quem pode vir a sucedê-lo. Vamos acompanhar com rigor essa sucessão, o presidente pode ter uma tática de manter um interino, como fez na Saúde, o que não é interessante — afirmou.

Para o deputado, o secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim, também não é um bom nome:

— É uma pessoa da linhagem olavista e está bem cotado, mas não é uma nome que agregaria à educação, talvez seja até pior que Weintraub.

Já a deputada Tábata Amaral (PDT-SP) afirmou que a saída do ministro era uma "morte anunciada", mas que foi precipitada pela prisão do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz.

— Temos que celebrar a saída do Weintraub, que chamo de uma crônica de uma morte anunciada. É provável que Bolsonaro tenha feito isso como manobra para desviar atenção do Queiroz, mas estamos falando do pior ministro da história da educação, que priorizou o obscurantismo e a ignorância à frente do MEC —  criticou. —  Os trabalhos da comissão externa da Câmara mostraram que 2019 foi um ano perdido na área e agora mostram a incapacidade do MEC de apontar um caminho durante a pandemia. Não consigo ter expectativas muito grandes com um governo que nunca gostou de educação, mas espero que venha alguem minimamente sério.

Alívio e preocupação

A deputada Professora Dorinha Seabra (DEM-TO), relatora do Fundeb na Câmara, disse que a saída de Weintraub do MEC é um alívio. O Fundeb é o principal fundo de financiamento da educação básica do país e, de acordo com a deputada, teve sua tramitação dificultada pela falta de diálogo do ministro em relação ao tema.

—Vejo com grande alívio, mas também grande preocupação em relação ao perfil de quem assumirá. A gente não imaginava que quando o ex-ministro (Ricardo) Vélez Rodriguez saiu poderia ser pior. Mas ele não tinha o espírito belicoso que Weintraub tem, que além de não conhecer o sistema, tinha um olhar de confronto. Weintraub não levou a sério o Fundeb, não se envolveu. Um gestor ruim é prejuízo para qualquer lugar, mas na educação tem o impacto direto na vida das pessoas. Há danos da gestão Weintraub que ainda vamos colher por muito tempo — disse a deputada, citando a falta de articulação do ministro para minimizar os danos causados pela pandemia na educação.

Ao longo da tramitação do Fundeb, Weintraub travou pouco diálogo com a Câmara e chegou inclusive a afirmar que enviaria um projeto paralelo, desconsiderando o texto que tramita na casa e está em construção há cerca de três anos. A vigência do Fundeb termina neste ano e, caso não seja renovado, redes de todo o país podem ficar sem recursos. Atualmente, o texto aguarda para ser pautado no plenário da Casa. Como é uma PEC, também precisa passar por avaliação do Senado.

— Se o Fundeb tivesse contado com o envolvimento do MEC para construção de um texto, provavelmente já teríamos encontrado um cenário mais viável para votá-lo — disse a deputada.

'Gestão limpa'

Em nota o Ministério da Educação se posicionou sobre a saída do ministro. De acordo com a pasta, "Weintraub deixa MEC com gestão limpa e amplo legado". No comunicado, a pasta descreveu as principais iniciativas do ministro à frente do órgão e afirmou que, quando assumiu, Weintraub se propôs a ser "um ponto de inflexão no ensino brasileiro".

"Em uma lógica inversa ao que ocorria no passado (prioridade ao ensino superior), na gestão de Weintraub o foco prioritário foi nas crianças, a partir de uma política nacional robusta de alfabetização. O então ministro deu início a uma transformação fundamentada em evidências científicas, com referências internacionais, para, a longo prazo, tirar o país das últimas posições da América Latina quando o assunto é ensino de qualidade" , diz o texto.