RIO — A pandemia chegou em março do ano passado, a-vas-sa-la-dora. E, para muitas mulheres, veio junto com o sentimento avassalador de ser mãe pela primeira vez. Uma dúvida sem tamanho sobre o que estava por vir misturada a uma certeza imensa: o tal amor de que falavam tanto era mesmo o maior do mundo. Em qualquer circunstância.
Antônio Jorge entrou na vida da cantora e compositora Marília Bessy e da sua companheira, a jornalista Patricia, aos 8 meses. Elas esperavam há quatro anos na fila de adoção. O mês era abril, e o coronavírus começava a se alastrar em solo brasileiro. As duas ainda estavam em choque com tudo o que acontecia quando o telefone tocou. Era da Vara de Infância e Juventude. O filho que elas tanto desejavam estava para chegar.
— Fomos buscá-lo de máscaras, cheias de medo. Enlouquecemos de felicidade e de amor. E também para providenciar um enxoval, porque nunca achamos que fossem nos ligar na pandemia e não sabíamos que idade teria o nosso filho. Recebemos muitas doações de amigas e, com tudo fechado, compramos muitas coisas pela internet — lembra Marília.
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Para a moradora de Botafogo, a chegada de Antônio Jorge foi ainda mais significativa porque ajudou a preencher um vazio imenso: ela perdeu o pai para a Covid-19 na semana em que o menino completou 1 ano.
— Foi um misto de emoções muito grande, fiquei mexida. Nosso filho veio para abrilhantar a nossa vida e me ajudou a me refazer neste momento tão difícil — diz.
Marília conta que, até agora, estava numa espécie de licença-maternidade, com dedicação exclusiva ao filho.
— Virei a chave completamente, sou uma outra pessoa. Agora vivo para ele, para a felicidade dele, e penso só no que é bom para ele. Quero ensiná-lo a ser uma pessoa boa neste mundo louco em que vivemos. Que ele aprenda a ter respeito pelo próximo e a aceitar as diferenças — diz a artista, que estreia na semana que vem nas plataformas digitais o podcast “Doces surtados”, com Guilherme Bryan, Marino Rocha e Jéssica Odilza.
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Ela deve lançar ainda este ano o clipe de sua versão de “Vou festejar”, dirigido por Guilherme Scarpa, e dois singles autorais, produzidos por Michael Sullivan. E quem puxa aos seus não degenera... Marília conta que Antônio Jorge é apaixonado por violão e já tem postura de rock star:
— Eu me vejo totalmente nele. No jeito de sentar, de olhar. Ser mãe é o que vim fazer aqui. Tenho essa vitória de ter o Antônio. Ele é um farol de amor na nossa vida.
A dermatologista Mariana Ormay espera Laura para qualquer momento: está com 37 semanas de gravidez. A vontade de ser mãe vinha sendo guardada desde o início do ano passado e foi adiada pelo advento da pandemia. Em julho, quando já sabiam em que terreno estavam pisando, ela e o marido, o cardiologista Guilherme Weigert, resolveram ligar o sinal verde. Descobriram que estavam “grávidos” em setembro.
— Ficamos superfelizes. Sempre quisemos ter uma família. Quando o amor transborda, está na hora de ter um filho — diz a moradora de Ipanema.
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Com três meses de gravidez, Mariana descobriu que ela e o marido estavam com coronavírus. Tiveram apenas sintomas leves, e, felizmente, Laura nem tomou conhecimento da doença.
— Mas, para protegê-la, quando ela nascer, só vamos receber visitas de meus pais e meus sogros, que já estão vacinados. E todos de máscara — frisa ela.
Mariana conta que está emocionada com o primeiro Dia das Mães — mesmo com Laura ainda na barriga. E se diz preparada para “viver a maternidade real e intensamente”.
— Eu me sinto mãe desde que descobri que estava grávida. É uma fase única da nossa vida, estou muito feliz e curtindo demais. Quero ser muito amiga e muito presente na vida da minha filha. E quero ensiná-la a ser uma pessoa do bem, com valores, e a construir um mundo melhor — resume a médica.
Com medo, mãe relata maternidade para o pai virtualmente
Apesar de sempre ter sonhado em ser mãe, a gravidez precoce aos 17 anos não estava nos planos de Paloma Guedes, que ainda terminava o 3º ano do ensino médio e morava com os pais quando descobriu a vinda de Maitê, filha dela com Daniel Ferreira, de 24. Como se já não bastasse o baque da vida materna não planejada, a distância entre a casa de Paloma, que morava na Glória, e a de Daniel, em Copacabana, atrapalhou ainda mais o acompanhamento do pai durante a gestação, que foi descoberta em janeiro de 2020, às vésperas do isolamento social e do coronavírus. E era uma gravidez de risco, pois Paloma tem problemas de pressão. Havia o receio de ser infectada e atrapalhar o desenvolvimento do bebê. Tanto que o pai a proibiu de se encontrar com Daniel. Com isso, os dois ficaram afastados até o nono mês de gestação. Maitê nasceu em julho.
— Ficamos sem nos ver pessoalmente esse tempo todo. Só mantínhamos contato integral graças ao aplicativo de conversa, mas nunca nos víamos. Todos os exames, o acompanhamento pelo médico, o crescimento da barriga foram passados por foto ou vídeo. Foi um período bem complicado para nós, e ainda mais para ele, que não conseguia viver e nem ver nada de perto — conta.
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Houve outros contratempos. O chá de bebê estava planejado para abril de 2020, mas precisou ser cancelado por causa da pandemia. Sem poder trabalhar e sem a possibilidade de preparar a festa para o enxoval de Maitê, a solução foi fazer um chá virtual. Paloma conta que, sem ver os amigos e familiares de Minas Gerais pessoalmente, receber os presentes acompanhados de cartinhas comemorando a vinda da bebê serviu de alento para o período.
— Foi o que ajudou a aproximar os outros de mim na gravidez, já que estava sem ver ninguém. Sempre fui uma pessoa muito positiva durante todo o período, mesmo com as dificuldades, mas sentir o carinho de longe com a ajuda deles e receber os recados virtualmente fizeram toda a diferença — lembra.
Hoje, ela ainda tem receio de trabalhar, já que atua fazendo bicos em festas e, com Maitê, não se sente segura em voltar para a rotina. Em meio a tantas incertezas, Paloma afirma que não tem sido fácil passar por esse momento, mas que crê no melhor, sempre.
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— Agora, só quem trabalha é o meu marido. Não temos outra alternativa a não ser nos cuidarmos e esperarmos que tudo passe o mais brevemente possível. Prefiro pensar em coisas boas a sofrer por mais tempo por causa do vírus — reflete.
Atualmente, dentro dos possível, o casal — que mora na casa dos pais de Daniel, em Copacabana — já recebe visitas de pessoas próximas, mas ainda sente medo da exposição.
— A gente quer que isso passe para poder viver normalmente com a Maitê — diz a mamãe.
Anúncio da gravidez feito em aplicativo de reuniões virtuais
A notícia da gravidez de Mayra Sotto Mayor foi dada à família por meio de um aplicativo que possibilita reuniões virtuais. A distância não diminuiu a emoção de anunciar a chegada do primeiro filho, que nasceu há seis meses. Mas o cenário pandêmico a obrigou a passar a gravidez inteira no lugar mais seguro do mundo neste momento: em casa.
— Contei à família pelo Zoom e só saí para consultas médicas. O lado bom foi que eu pude curtir a espera em introspecção e, em paralelo, aliviei a ansiedade da expectativa mergulhando fundo na escrita do meu segundo livro. O isolamento me permitiu canalizar a energia para o que importa e para viver esse rito de passagem que é a primeira gravidez —diz Mayra, que é escritora e mora na Lagoa.
Quando Arthur chegou, no dia 20 de outubro, a pandemia já havia mostrado que duraria muito mais do que todos pensavam.
— Foi aí que meu filho que me deu força para encarar o mundo em que vivemos com leveza e esperança — diz.
As visitas ao novo membro da família tiveram que ser adiadas, e poucos amigos e parentes conhecem a criança de perto.
—Uma amiga muito próxima fez o PCR porque iria visitar a mãe e aproveitou para conhecer o meu filho. Aliás, só agora o Arthur está tomando consciência de que existem outras crianças no parquinho do condomínio onde passamos alguns dias na Serra —conta ela.
O fato de não poder receber visitas logo que o filho nasceu ajudou a escritora a conseguir processar as mudanças e as responsabilidades que a maternidade traz.
—Neste primeiro momento, achei bom não ter que ficar fazendo sala. Depois, comecei a sentir falta de estar com as pessoas —diz Mayra.
Programa de exercícios para ajudar mães
Para ajudar mães a se sentirem dispostas durante ou após a gravidez, a preparadora física Gabriela Bahia lança amanhã o Mama Crew, uma plataforma exclusiva para gestantes e que conta com um time completo para acompanhar as mamães. Além dela, a obstetra Rafaela Orlandini e a nutricionista Juliana Queiroz compõem o time. O programa, que foi desenvolvido para a gravidez e para o pós-parto, oferece dois treinos por semana gestacional, contemplando todas as partes do corpo. Ele estará à disposição no site www.mamacrew.com.br.
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