Por Desirèe Assis*, g1 Bauru e Marília


Criança autista de Bauru denuncia agressões e ofensas por colegas de escola particular em desenho — Foto: Arquivo pessoal

A mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), de 11 anos, denunciou a diretoria de uma escola particular em Bauru (SP), os colegas de classe do menino e os pais deles por ofensas e discriminação contra o filho dela.

Ao g1, a mãe do menino, que preferiu não ser identificada, explicou que registrou um boletim de ocorrência contra a escola em junho deste ano. Segundo ela, a instituição de ensino nega as acusações.

O delegado responsável pelo caso, da Central de Polícia Judiciária (CPJ), Gustavo Bertho Zimiani, informou que, após receber o BO, determinou a expedição de um ofício à escola, no qual solicita esclarecimentos sobre o caso. Os próximos passos serão definidos após o retorno da instituição.

Em nota enviada ao g1 nesta quinta-feira, a escola informou que questões pedagógicas envolvendo os alunos são tratadas no âmbito da escola e junto às autoridades competentes.

"Registrando-se, desde logo, que a escola e seus prepostos primam pela prestação de serviço com excelência, causando estranheza as acusações da não identificada mãe", diz a nota.

Na denúncia, enviada pela mãe na quinta-feira (6), ela disse que pais de outros alunos ofendem a criança, diagnosticada no ano passado com autismo em grau um, considerado por especialistas como leve. O pai de um colega, segundo a mulher, chamou o menino de psicopata, mesmo sabendo que se tratava de uma criança autista.

Ainda de acordo com a mãe, os colegas de sala agridem e xingam o menino. Por conta das ofensas, a mulher relata que o filho desenvolveu crises de ansiedade, além de implorar para não voltar mais para a escola. Ele foi desmatriculado em setembro deste ano.

"Os pais se uniram, começaram uma perseguição, e fizeram de tudo para que o meu filho deixasse a escola. Teve mãe que cobrava a escola para aplicar punições no meu filho. Tive acesso a atas de reuniões e mensagens nas quais constam o que estou pontuando", relata.

Ata de escola de Bauru mostra que pai teria dito que criança autista apresenta laudo de psicopatia infantil — Foto: Arquivo pessoal

O g1 teve acesso a esta ata, também registrada em junho, na qual um pai solicitou uma reunião com a coordenação. No documento, consta que o filho deste homem não teve conflitos com a criança autista, mas soube de episódios de agressões verbais e físicas com outros alunos.

Na ata, a escola escreve que o pai supostamente disse que o menino apresenta um laudo de psicopatia infantil e que os outros pais também querem tirá-lo da escola (leia acima).

"Os pais orientavam seus filhos a serem hostis, darem cotoveladas no meu filho sempre que ele se aproximasse e a se manterem longe do meu filho. As atas de reunião refletem isso. Dentre as mães autoras das discriminações, estão duas médicas e duas fonoaudiólogas, que atacaram o meu filho e mandavam a escola revistar a mochila dele, como se ele fosse um bandido, e, também, cobravam a escola para esta aplicar punições ao meu filho, uma criança autista", diz a mãe.

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Conversa entre a mãe e a terapeuta que acompanhou o menino autista em uma festa com os colegas de turma — Foto: Arquivo pessoal

A mulher ainda narrou que, diante do ocorrido, a escola criou obstáculos para que o filho permanecesse matriculado. Em festas com a turma da escola, a mãe disse que o menino era excluído e que professores já presenciaram agressões.

"No dia da festa de carnaval, meu filho foi agredido fisicamente por um aluno da sala dele. Vários funcionários presenciaram a cena, inclusive a própria mãe do aluno foi quem o segurou para que ele não batesse ainda mais no meu filho. A coordenadora estava lá, soube do ocorrido, mas a escola não nos cientificou da agressão, e quem nos contou o caso foi o nosso filho", reforça.

Em agosto deste ano, a mãe comenta que o filho foi a uma festa de aniversário de um aluno da turma, acompanhado de uma terapeuta. Na ocasião, esta profissional teria presenciado outras crianças ofendendo o menino (veja acima).

"Meu filho pediu para ir embora da festa e saiu chorando, completamente abalado. Depois desse triste episódio, ele começou a pedir para não voltar mais à escola. Após essa situação da festa, cientificamos os pais das crianças autoras do bullying, pedimos que tivessem empatia pela condição do meu filho. Esses pais sequer responderam à mensagem, e ainda procuraram a escola para reclamar", lamenta.

Ao g1, a mãe contou que a psicóloga que atende o menino enviou um relatório em que consta que a saúde mental dele está prejudicada, assim como o tratamento, uma vez que ele chega nervoso e ansioso nas consultas.

'Constantemente aflita'

A mãe do menino autista contou ao g1 que, desde que soube do ocorrido, não consegue dormir, trabalhar ou estudar por estar "constantemente aflita" e preocupada com o filho. A mulher ainda confessou estar com crise de enxaqueca.

"Eu me sinto completamente impotente diante da crueldade dessas pessoas, me sinto anestesiada, me sinto como se eu e meu filho não merecêssemos nenhum tipo de respeito ou consideração, somente pelo fato de ele ser autista e não ter culpa de sua condição e de suas deficiências", relata.

Segundo essa mãe, o menino já disse que essas pessoas o fizeram pensar que ele não merece ser feliz e que não merece ter amigos.

"Ele não consegue participar das sessões de terapia, sempre chegando nervoso, ansioso e com ideias autodepreciativas nas sessões, e não consegue realizar os treinos necessários para o seu tratamento", lamenta.

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*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku

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